Público, 23.Março.2014
Vasco Pulido Valente |
Há em Portugal um
pequeno grupo de indivíduos que Portugal quer desesperadamente ouvir sobre o
futuro. Este grupo passa hoje a vida na televisão e nos jornais, com ou sem
espaço próprio, e, fora disso, é fatal em qualquer conferência, encontro,
simpósio ou debate que por aí se faça na universidade e nos partidos.
Quem são os
génios que adquiriram um prestígio que vai do povinho iletrado da TVI, da RTP
ou da SIC, às maiores sumidades do país? São, como seria de calcular, os
ministros das finanças que magistralmente nos levaram à bancarrota e à miséria.
Não sei ou não percebo por que razão esse fracasso lhes deu uma autoridade para
falar sobre o desastre a que presidiram. Mas que deu, com certeza que deu; e
eles assoprados pela sua importância, não se importam de o usar.
Tirando Cadilhe,
que tem juízo, e Sousa Franco, que já morreu, a espécie não se poupa. Vítor
Gaspar, Teixeira dos Santos, Bagão Félix, Manuela Ferreira Leite, Catroga,
Cavaco (que não se demitiu do seu penacho de economista lá por ser primeiro-ministro
e Presidente da República), nenhum deles pára. Acordamos com os conselhos da
seita, adormecemos com as suas profundas profecias. O facto de quase sempre se
enganarem e de sempre revelarem com emoção e tremor aquilo que é óbvio para
toda a gente não os perturba, nem perturba o público que os venera e ouve. A
felicidade da vida deles não se explica: entram com foguetes, “governam” no
meio de uma contínua gritaria e saem (enquanto não entram em grandes lugares)
para uma espécie de nuvem, donde arengam as massas e criticam com azedume os
predecessores. [...]
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