segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Atenção ao "burnout" dos Professores!


O burnout é uma síndrome que pode afectar várias profissões, nomeadamente as chamadas "profissões de ajuda", como professores, polícias, médicos ou enfermeiros. [...]

Conheço casos de professores de excelência com 50 e poucos anos de idade e 30 anos de serviço que estão no limite da resistência. E professores que passam a ter um comportamento estranho: Não percebeste o que eu disse?! Então... vai para a rua!. Atenção: No caso de professores, é o futuro de jovens que está em jogo...

Lucienne Renaudin-Vary, eleita "Révélation soliste instrumental" 2016



sábado, 27 de fevereiro de 2016

O meu Cadillac número quatro…

Aluna da Universidade Livre de Bruxelas
Em conversas ocasionais, as pessoas admiravam-se muito quando eu dizia que não tinha automóvel. “Não tens carro?!” “Não, mas tenho lá em casa quatro Cadillacs…” (podia ter pensado em Rolls-Royce!).
O meu quarto Cadillac é a minha filha Isabel. Já falei dela neste blogue: AQUI (numa resenha do seu percurso até 2011; actualmente trabalha na cooperação da Comissão Europeia com a Austrália e a Nova Zelândia) e AQUI (relativamente a uma entrevista na RTP com o Padre Alberto). Mas agora, que tenho estado a mexer em papeis antigos, decidi voltar ao “tema”... com alguns detalhes "históricos" fixados em formato fotográfico.

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Certificado de licenciatura pela ULB com "grande distinction"

Carta de felicitações da ULB pelos resultados académicos obtidos
Notícia sobre prémio ganho num concurso na Bélgica

Com 24 anos era "Deputy Executive Director" do Centro Norte-Sul

Um dos seus primeiros cartões de acesso na Comissão Europeia

Serviço onde tem trabalhado na Comissão Europeia

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

«É mesmo necessário ir lá?»…

…perguntou-me o meu filho Paulo Miguel, que gosta tanto de cerimónias públicas como eu. 
Acontece que ele foi um distinto aluno da Escola Superior de Medicina Veterinária (1980/81 a 1984/85), licenciou-se com uma excelente nota e, no final do ano lectivo, ganhou três prémios: Prémio Prof. Doutor Augusto Abreu Lopes (19 valores na disciplina de Patologia e Clínica Médicas) atribuído pela ESMV e, ainda, o Prémio Bernardo Lima e o Prémio Ferreira Lapa atribuídos pela Sociedade Portuguesa de Ciências Veterinárias. 
Foi quando recebeu o pedido de comparência no Salão Nobre do Instituto Superior Técnico para a cerimónia da distribuição de prémios, que ele me fez a pergunta:  
E é mesmo necessário ir lá para receber os prémios?”.
Mexer em papeis antigos é no que : traz-nos recordações :)


Diploma do Prémio Prof. Dr. Augusto Abreu Lopes + Ofício da Soc. P. de Ciências Veterinárias
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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Uma realidade de há 30 anos vivida algures em Portugal

Com apenas 20 anos, a Educadora Helena Martinho efectivou-se no Jardim de Infância de Carapito, em plena Beira Alta, onde passou o ano lectivo 1984/1985. Para uma jovem lisboeta desconhecedora do que era a “vida a sério”, foi uma experiência ímpar e marcante.
No que se segue, estão reunidos os links do que foi publicado neste blogue ao longo de Fevereiro. Fica assim completa uma história real cheia de emoção, numa mistura de sentimentos onde cabem o espanto, a entrega e a esperança.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Carapito-84/85 ― A Nudez

O texto que se segue faz parte do relatório citado em  Se-Carapito-tivesse-ondas... produzido pela Educadora Helena Martinho no final de 1984/1985, ano lectivo em que trabalhou no Jardim de Infância do Carapito.


Um facto que me chocou constatar foi o modo degradado como crianças tão novas encaram a realidade e diferenças corporais. Fazem grandes exclamações ao ver uma criança semidespida, apontam, envergonham-se umas às outras. Têm reacções negativas face a fotografias de revistas ou imagens de livros com pessoas menos vestidas ou mesmo nuas. Escondem, rasgam, deitam fora. Tentei pela conversa brincar com tal reacção e tornar natural o que para eles está já corrompido. Através de jogos ou de modelagem e outras actividades plásticas tornou-se usual expressar o corpo ou partes dele e conversar sobre isso e sobre as diferenças dos sexos. Deixo-os à vontade, permito espaços de isolamento. Brincam com o vestir e despir, o trocar de roupa. Descobrem as diferenças de modo mais saudável e aprendem a respeitá-las. É preciso perder a vergonha de uma coisa tão simples como é o corpo. É preciso descobrir a beleza da diferença.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Carapito-84/85 ― Vestuário e O Estatuto Masculino e Feminino

O texto que se segue faz parte do relatório citado em  Se-Carapito-tivesse-ondas... produzido pela Educadora Helena Martinho no final de 1984/1985, 
ano lectivo em que trabalhou no Jardim de Infância do Carapito.


VESTUÁRIO
Há também os pequenos pormenores. Certas peças de roupa... porque é que só uso calças, se sou mulher... mas percebem com o tempo a utilidade de certo vestuário em certas situações. Explico, e eles vêem-no na prática, que, para brincar com eles, sentar-me no chão, saltar muros, jogar à bola, fazer jogos, é muito melhor usar calças. Com o tempo isso já não os incomoda e talvez se tenha desvanecido um pouco a rígida ideia de que as mulheres devem andar de saia. E, se isso aconteceu, aprendeu-se mais um pouco o que é o direito à diferença.


ESTATUTO MASCULINO E FEMININO
Sempre acreditei não haver uma lei de actuação especificamente masculina ou feminina. E mais importante que inventar e impor os limites de um e outro sexo é conseguir libertar os indivíduos como pessoas. Não será esse um processo muito mais rico? Há que fazer o maior e mais diversificado número de experiências para que cada um se torne autónomo. Impedir algumas, apoiando-se em preconceitos destituídos de fundamento, é criar lacunas no processo educativo da criança. E foram lacunas deste tipo com que deparei imediatamente no grupo de crianças desta aldeia.
Tornou-se então para mim uma linha de acção muito importante o criar de situações desmistificadoras de certos preconceitos já adquiridos pelas crianças, no meio familiar e social da aldeia. As crianças mais novas, de 3 anos e algumas de 4 anos, tiveram um papel importante, porque menos absorvidas por essas ideias que aos 5 anos se manifestam já claramente. Vejamos alguns dos preconceitos que observei e quais as tentativas para diluí-los: 


A lida da casa - Em várias brincadeiras e dramatizações as crianças espantavam-se e apontavam a dedo, rindo, um rapaz que varresse o chão, fizesse comida ou lavasse pratos. "Nunca vi um homem a varrer!" Ou: "Os homens não lavam roupa! "Quem lava são as mulheres!" Eram expressões que se ouviam todos os dias.
Em conversa com eles, um ou outro lá disseram que os pais ajudavam nalgumas coisas e começou por aí o desvanecer da ideia fixa. Depois em actividades diárias surgia a necessidade de varrer a sala ou lavar mesas, frascos, pincéis, limpar o pó, regar plantas e os rapazes eram chamados a participar, aderindo primeiro os mais novos, e só mais tarde os outros. Com trocas de papéis masculinos e femininos em dramatizações, os rapazes lá eram encorajados a experimentar o diferente. O lavar passou a ser jogo de água com panos ou louça e outros objectos e deixou de ser qualificado como brincadeira feminina. Ficaram um pouco mais livres depois de todas estas experiências. Libertaram-se da rigidez do estatuto masculino e feminino que tinham à partida. 


Saltar à corda - Já todas as raparigas haviam experimentado as cordas novas, ainda os rapazes não lhes tinham tocado senão para dar nós, puxar camiões, fazer jogos de força. Um dia desafiei o mais crescido dos rapazes ("o mais homenzinho", já). Usei exactamente o facto de ele querer ser perfeito em tudo para o levar ao jogo. E consegui. Saltou ao jogo e revelou-se óptimo. Passou a ser o nosso "campeão". Encorajados, os outros rapazes começaram a experimentar e apoiados por mim e pelas raparigas do grupo todos começaram a saltar, cada um com o seu tipo de salto e de rapidez. É essa diferença que é hoje defendida e incentivada. Agora fazemos jogos todos juntos, com lengalengas, canções, contando os saltos ou inventando novas maneiras de saltar. A corda deixou de andar só na mão das raparigas. 


Cantar e fazer rodas - Quando nos juntávamos para cantar ou fazer rodas, havia sempre um grupo de rapazes mais crescidos que se afastavam para outras actividades ou ficavam de longe olhando, sérios. Tentei através da sua inserção em histórias dramatizadas levá-los desprevenidamente a jogos de roda ou canções. Outra tentativa foi a de, através de jogos feitos na disposição de roda, conseguir habituá-los à mesma, para que mais facilmente aderissem a uma roda cantada. Mesmo assim, noto ainda certa reacção negativa dos rapazes a estes momentos. Creio ser difícil conseguir um resultado totalmente positivo após 4 ou 5 anos de educação familiar noutro sentido. Sinto essa limitação. Às vezes devo render-me.
Pintar os lábios e unhas - Um rapaz apareceu com verniz nas unhas. Claro que teve que ouvir os reparos e risota de todo o grupo. Mas no meio das pinturas dou com eles a pintarem as unhas, uma de cada cor. Tinham sido eles a dar a solução ao caso, aproveitando a ideia de um. Explorei a brincadeira, o prazer que lhes dava fazer algo diferente. Mais tarde trouxe "bâton" e lápis. Pintei-os, dramatizámos, rimos. A diversão contagiou mesmo os mais ariscos àquelas "manifestações femininas". Foi uma vitória para todos eles.
Outras ideias como a de o cor-de-rosa ser "cor de menina" ou que "os homens não choram" têm sido combatidas aos poucos em diversas situações que se vão proporcionando espontânea ou planeadamente.
Penso que o grupo já percebeu a mensagem. Quero sobretudo que sintam que podem divertir-se, aprender e ter prazer experimentando o outro lado das coisas. O lado que antes era dito "errado". 

Jogo da macaca - Também neste jogo notei certo afastamento dos rapazes. Entrei no jogo, desafiei rapazes. Mostrei-lhes que tudo era questão de pontaria e equilíbrio (habilidade que não é masculina nem feminina, mas de todos). Foram evoluindo no jogo, entusiasmados e aplaudidos por mim e pelos outros. Hoje jogam lado a lado, esquecendo ideias antigas.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O grande Ronnie O'Sullivan ganhou...

... com brilhantismo o Welsh Open 2016 
(snooker) batendo Neil Robertson por 9-5


Querem "o melhor dos dois mundos"...


Carapito-84/85 ― Religião

O texto que se segue faz parte do relatório citado em  Se-Carapito-tivesse-ondas... produzido pela Educadora Helena Martinho no final de 1984/1985, ano lectivo em que trabalhou no Jardim de Infância do Carapito.


"A senhora educadora não gosta de ir à missa". Observação feita na igreja por um pequeno de três anos, a meio da missa de domingo. As crianças apercebem-se e ouvem os adultos falar. Acham estranho esta fuga à norma. Perguntam porquê... aos poucos entenderão que em pequena não ia, como eles, à igreja, à catequese, às missas, casamentos, baptizados, procissões e outros rituais religiosos. A sua vida está tão ligada a essas experiências como a minha nunca esteve. Ao mesmo tempo apercebem-se de uma atitude interessada. Participo nas suas dramatizações de casamentos religiosos, nas procissões que improvisam, nos cânticos que trazem das missas. Eles benzem-se antes de qualquer actividade "mais difícil" ou de maior cuidado e, se vamos brincar para o adro da igreja, têm a liberdade de ir rezar lá dentro. Sentem que não os critico, apesar de ficar de fora.
Cedo deixarão de se espantar com a minha não participação nas missas e festas religiosas da aldeia. Esse problema acaba por ser ultrapassado.
Sinto que outra conquista foi feita de parte a parte.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Carapito-84/85 ― Linguagem

O texto que se segue faz parte do relatório citado em  Se-Carapito-tivesse-ondas... produzido pela Educadora Helena Martinho no final de 1984/1985, ano lectivo em que trabalhou no Jardim de Infância do Carapito.


Começado o diálogo, outra diferença surgiu: a linguagem. Primeiro que tudo era necessário entendê-los e fazer-me entender. Não tardei a notar que não me compreendiam. As palavras que eu usava eram mal entendidas ou não compreendidas de todo. Aos poucos vou ter que adaptar a minha linguagem à deles. Tantas palavras diferentes ou com pequenas alterações. Tantas expressões típicas do interior nortenho e que eu desconhecia... Eles admiram-se com as palavras que uso, com a pronúncia diferentes da deles; eu peço-lhes que me ensinem o significado de certas coisas que dizem. Assim se dá a troca... e eles, como eu, passam a saber uma outra maneira de falar. Até que lhes peço uma ajuda ilustrativa, com desenhos, para a recolha de algumas diferenças...

ALMOÇO — pequeno-almoço
JANTAR — almoço
CEIA — jantar
VENDA — mercearia
LOJA / CORTE — divisão dos animais
CORTELHO — loja dos porcos
QUELHA — caminho estreito
CARVELHO / ALDRAVE — tranca
VIANDA — comida das vacas
SACADA — pequena varanda com gradeamento
BALCÃO — escadas
LAJE — eira onde se secam cereais
PENEDO — laje alta
CABANUXO — cabana cónica feita de giestas, onde se guardava o gado à noite
GADANHA — concha da sopa
CARRASCA — casca de árvore
AIXE — ferida
BUCHACA — bolha
CALDEIRA — recipiente de cobre onde se fazem os doces caseiros à lareira
SERTÃ — frigideira
CANIÇO / FUMEIRO — pau de pendurar enchidos na cozinha
ASSENTO — almofada de bracejo entrançado
TENAZ — tesoura comprida de ferro preto para mover as cavacas no lume
MALGA — tigela
ARRESTA — sobra
XIXA — carne
MARRECO — pato
PITA — galinha
LAMEIRA — caminho cone relva
SOMBREIRO — chapéu-de-chuva
CAMBALUÇO — cambalhota
ESCORREGADOURO — escorrega
GARRUÇO — barrete de lã para o Inverno
CACHOS — uvas
GRIFOS — caracóis (no cabelo)
NALGAS — nádegas
Verbos
EMPANCAR — chocar
CARREJAR — carregar
APAJEAR — mimar, proteger
ARREBANHAR — puxar para si
EMPONTAR — atirar para os outros
ARREMANGAR — arregaçar
BOTAR — atirar (movimento)
Expressões
ESTAR EM COIRO — estar despido
ANDAR ÀS CARRACHUCHAS — andar às cavalitas
COMPARADO — parecido com
PRECISA LAVADO — precisa de ser lavado
PRECISA COSIDO — precisa de ser cosido
PRECISA PASSADO — precisa de ser passado
COSTAS VOLTAS — de costas viradas para alguém 
BEM NÃO — de repente...

Esta troca de experiências torna-se uma conquista importante, porque permite perceber que há várias maneiras de fazer qualquer coisa, e que não é necessário negar ou sufocar uma das maneiras. Este foi um dos confrontos amigáveis que se deram. Outros aconteceram e penso que todos positivos para estas crianças que vivem habituadas a uma mentalidade que critica rapidamente e é, em geral, extremista e infundada no julgamento.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

O programa segue dentro de momentos...

 

Carapito-84/85 ― Conhecimentos

O texto que se segue faz parte do relatório citado em  Se-Carapito-tivesse-ondas...  
produzido pela Educadora Helena Martinho no final de 1984/1985,  ano lectivo em que trabalhou no Jardim de Infância do Carapito.


O direito à diferença 
Num meio algo extremista e crítico em demasia, senti ser positiva uma aprendizagem a vários níveis da transigência, da aceitação do diferente. 
E esse foi um dos caminhos por que enveredei.

Conhecimentos
A primeira grande diferença foi naturalmente entre a minha experiência de vida e conhecimentos e os das crianças. Estas reflectem mais ou menos o tipo de hábitos e de mentalidade dos adultos com que vivem.
Partilham do seu trabalho, são chamadas a colaborar. Conhecem por isso os ciclos de trabalho, a utilização das lajes para secar milho, trigo, malhar o feijão.
Eles andam nos carros das vacas. Aprendem a tocá-las. Vão à erva e ao estrume. Ajudam a fazer a comida para os animais. Sabem e vivem profundamente os momentos de ir aos míscaros, apanhar castanha, matar o porco, fazer enchidos, deitar ou apanhar a batata... Estão ligados à terra e ao trabalho dos pais, parentes e vizinhos; conhecem os utensílios, os materiais e as máquinas usadas. Toda essa experiência de vida adquirem-na quotidianamente, pois desde pequenos acompanham grupos de adultos nos seus afazeres. Crianças de colo ainda, outras que mal andam, já vão ficando perto dos tanques ou dos ribeiros onde as mulheres lavam.
E assim, naturalmente, muito cedo as crianças ficam aptas a fazer um trabalho lado a lado com o adulto. E é no fundo o que acontece à maioria após o fim da escolaridade obrigatória.
E tudo isto é novo para mim. E tudo isto devo aprender com eles. Eles que se espantam da minha ignorância... e aos poucos tento fazê-los entender a realidade de onde vim, a distância que nos separa e ao mesmo tempo a riqueza do que temos para nos dar.