sexta-feira, 29 de abril de 2011

Díptico "Vanessa cardui"

Teoria?

Tenho uma teoria perfeita sobre os sonhos:
nascem de ovos.
Não importa o tamanho
não importa a cor, tão pouco a dor para os dar à luz.
Nascem de ovos os sonhos
tenho a certeza.
Já nem é bem uma teoria.

(Olhei para uma borboleta que passou...
... se não era um sonho de coisa que já rastejou
o que seria?)

Teresa Martinho Marques
http://www.sabordepalavra.blogspot.com (poesia)
http://tempodeteia.blogspot.com (fotografia)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Sessão comemorativa dos 50 anos do RPI

A Mesa (a partir da esquerda): Jaime da Costa Oliveira, Júlio Pistacchini Galvão, 
Júlio Montalvão e Silva (presidente do ITN), Frederico Gama Carvalho, 
António Gonçalves Ramalho e Cândido Marciano da Silva. (Programa aqui)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Reactor Português de Investigação (1961-2011)

Vista exterior e interior do RPI no início da década de 60 do séc.XX

No próximo dia 27 de Abril serão comemorados os 50 anos decorridos desde a entrada em funcionamento do Reactor Português de Investigação. A celebração terá lugar no Instituto Tecnológico e Nuclear (http://www.itn.pt/); o respectivo programa encontra-se em http://www.itn.pt/pt/ev/2011/50AnosRPI%20-%20Programa.pdf .

quarta-feira, 20 de abril de 2011

domingo, 17 de abril de 2011

Fukushima em Tancos?!

O grande destaque da primeira página do PÚBLICO de hoje, a toda a largura, tem por título «Acidente em Portugal como o de Fukushima afectaria 1,6 milhões de pessoas em 48 horas», a que se segue o sub-título «Exército simula desastre em Tancos e conclui que radioactividade chegaria a 12 mil km2 do território. (...)».


A notícia ocupa as primeiras quatro páginas interiores do jornal. Trata-se, portanto, de um “caso” a que se quis dar uma relevância fora do comum. A questão é: justificar-se-á a relevância?

Na página 2 ficamos a saber que a simulação foi levada a efeito pelo Centro de Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica e Protecção Ambiental, e que «Para a hipotética central em Portugal, escolheu-se um local arbitrário: Tancos, por ser aí, na Escola Prática de Engenharia do Exército, que fica o centro (...).» E ficamos a saber também que a central escolhida para ser colocada em Tancos (aprox. 50 km a nordeste de Santarém) foi, nada mais nada menos, a central de Fukushima «com danos severos no núcleo de dois reactores (...) com fuga maciça de radiação».

É sabido que a simulação de acidentes, quaisquer que sejam, é sempre útil desde que permita tirar conclusões aceitáveis/aproveitáveis. Para isso é indispensável dispor pelo menos de: (a) software adequado e (b) dados de entrada credíveis. Se assim não for, os resultados da simulação são pura ficção.

Posto isto, é de perguntar: terá sido uma boa opção “colocar” a central de Fukushima em Tancos? Julgo que não. Em primeiro lugar, porque não há acidentes nucleares com consequências idênticas e, em segundo lugar, porque a central de Fukushima foi atingida por um inimaginável terramoto de nível 9 e, em seguida, apenas uma hora depois, por um “muro de água” com mais de 10 metros de altura que tudo destruiu à sua passagem, donde resultou a gravidade do acidente. Poderia ocorrer uma tal situação em Tancos? Consegue o leitor imaginar o nível de destruição que afectaria Portugal antes de o (eventual) maremoto chegar a Tancos? Eu não.

Em suma: A meu ver, o termo “fonte de radiação” utilizado na referida simulação é aberrante. Em consequência, os resultados obtidos não são para levar a sério. Assim sendo, por que razão terá dado o PÚBLICO uma relevância tão grande à “notícia” em questão?

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O cartão de crédito

2008 Cartão de crédito (1)


De crédito, és Cartão
meu amigo, meu irmão...
Vazia, a carteira
mas tu, companheiro
dás dinheiro
a vida inteira
por isso, fica comigo
e eu contigo...
O povo diz
"Quem não tem Cartão
no bolso ou na mão
faz mal
é infeliz
é excluído social"...
Sem qualquer hesitação
mete pois o Cartão
marca o código secreto
e a carteira, antes vazia
por golpe de pura magia
já tem o papo repleto...
Altruístas, geniais
conheço mesmo Cartões
que conquistam corações
pois dão-te sempre o "pilim"
mesmo que não tenhas mais...
Sim...
venham, venham
não se detenham...
qual de vós é o primeiro
a gastar adiantado
um saboroso ordenado
ainda não trabalhado?
Abençoado Cartão
és nosso pai, nosso irmão
tudo me dás, quando peço
e só por vezes, confesso
me sinto
frágil, como um pinto
sozinho
longe do ninho
chupado até ao tutano
cérebro oco, tipo cano
mas, quando essa crise pressinto
a lucidez sempre finto
pois se o macaco quer bananas
a vaca, verdes canas
o porco, tenras bolotas
o comilão, boa mesa
o guloso, sobremesa...
eu quero o Cartão que dá notas!!!


Paulo Miguel Pinheiro Martinho (Mizangala): http://pintapalavras.blogspot.com

sábado, 9 de abril de 2011

Barcos

Barcos são

instantes azuis

com sonhos presos

num carrocel.

Miragens

e reflexos

de vidro

madeira

e papel.


Poema de Teresa Martinho Marques (http://sabordepalavra.blogspot.com/), in Das Palavras (Edições Eterogémeas - http://www.eterogemeas.com/), ilustrado por Paulo Miguel Pinheiro Martinho (http://pintapalavras.blogspot.com/).

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Ludoteca GIRA-SOL... um espaço onde tudo pode acontecer

10 horas. É tempo de abrir o portão da Ludoteca para mais oito horas de animação, conversa, surpresas, combinações, novidades, cumplicidades. Quando se sobe a rampa que dá acesso ao exterior da Ludoteca, nunca se sabe bem o que se vai encontrar...

Será natural deparar com a Joana envolta em tecidos fulgurantes, bruxa colorida sobre patins em linha, num ritual em torno de um caldeirão mágico...

Ou descobrir as enérgicas Lia e Diana, brincando no alto de uma árvore frondosa, criando um esconderijo com tecidos, para alvejar com bugalhos os desprevenidos passantes...

Ou encontrar as doces Diana, Catia, Deonilde e mais amigas, amenamente conversando sobre toalhas multicores, na relva, depois de delirantes brincadeiras com água, e grandes banhos de mangueira ou de piscina...

Ou ainda, surpreender o engenhoso e diabólico Fábio, transformado num verdíssimo dinossáurio, dançando e saltitando com uma cabeleira e cauda de esponja, construídos na Ludoteca à imagem de um dos seus heróis favoritos...

Nada mais natural...

Por isso nos habituámos a dizer da Ludoteca que «é um espaço onde tudo pode acontecer». Foram já 18 meses de descobertas, numa experiência onde a rotina não tem lugar. O ritual sim... porque é o ritual que nos dá força e segurança, que constrói a amizade e nos dá coragem para continuar. Todos os dias o prazer de rever um amigo, de o desafiar para um jogo... o prazer de continuar projectos... de pôr em acção a imaginação...

Há amigos de longa data. .. aqueles que, desde o primeiro dia, não dispensam uma passagem quase diária na Ludoteca. Há os que vêm todas as semanas. Há os que só regressam no Verão, vindos de outros países, e que todos os anos esperamos ansiosamente... Depois há todos os outros que nunca sabemos quando vão aparecer, com que ideias, com que desejos e propostas de jogo...

São cerca de 360 crianças e jovens com idades entre os 5 e os 16 anos. É imensa a variedade de origens e de experiências. Por isso não há dois dias iguais na Ludoteca. As capacidades individuais são postas em acção, e funcionam naturalmente como motor e estímulo para grupos de crianças. As ideias circulam, voam, contagiam, fazem nascer projectos...


Criámos um folheto mensal que funciona como veículo de comunicação para as crianças, famílias e profissionais de educação. Nele noticiamos alguns planos e uma calendarização para as animações especiais de cada mês. Estas podem ser surpresas organizadas pelas educadoras: lançamento de ateliers (de construção de brinquedos, marionetas, fantoches de esponja, papagaios, pintura de camisolas, reciclagem de papel), passagem de diaporamas criados na Ludoteca, teatros de sombras...

Também podem ser momentos que surgem da colaboração com grupos culturais da comunidade: espectáculos de teatro e música ao vivo...

Muitas vezes são propostas de grupos de frequentadores da Ludoteca: sessões de aeróbica ministradas no ginásio por entusiásticas raparigas, torneios de futebol propostos por grupos de rapazes...

O folheto mensal pode ainda divulgar momentos rituais como o banho de mangueira, os jogos de água na piscina, a limonada a meio da tarde. Funciona ainda como desafio para certas actividades, como por exemplo a colaboração na elaboração do jornal «Gira-Sol» que lançamos no final de cada ano.

Criou-se o ritual de preparar animações em grupo, que funcionam como surpresa para os outros frequentadores da Ludoteca. E quando chega o momento, todos são convidados a assistir ou a participar... Desfiles de moda (com os adereços do «camarim de teatro»), simulacros de programas televisivos, concursos, gincanas, teatros de marionetas ou fantoches, animações dramáticas de rua, absolutamente contagiantes, são alguns dos momentos criados entre eles. Como animadoras tentamos dar seguimento aos desejos e iniciativas individuais ou de grupo, resolvendo problemas técnicos, colaborando na organização, criando materiais, servindo como mediadores nos contactos entre crianças ou jovens que se desencontraram na vinda à Ludoteca.

E quando o desafio é para «entrar no jogo»... «fazemos a festa»! Por vezes damos com eles surpreendidos com algumas inesperadas performances a que o sentido de humor nos leva. É que nós levamos o jogo a sério! E é esta cumplicidade que tem feito nascer o companheirismo e a abertura com que eles sabem que podem contar. Tentamos promover diferentes vivências: momentos de prazer estético (como criadores ou observadores), momentos de diversão pura (que por vezes revemos em filme, sempre com o mesmo gozo) e momentos de «estar só a estar»... com tempo, com serenidade, na relva, em confidência com um amigo, deitado num banco de jardim, à sombra do guarda-sol, com uma música envolvente no ar, lendo um livro sossegadamente... pairando distante. Tentamos, diariamente, diversificar os momentos de jogo e de prazer... mas, também, ajudá-los a melhorar regras de convivência, a perder preconceitos, a rever ideias estereotipadas que os limitam, a abri-las para novas experiências e para novos valores de amizade e solidariedade.

Tudo isto faz parte do nosso jogo de vida. Tudo isto faz parte integrante da qualidade de vida que queremos oferecer. Quando uma menina nos confidencia: «Eu nunca tinha estado num sítio tão bonito como este...». Ou um rapaz exclama: «Este sítio foi mesmo feito a pensar em mim!...» sabemos que estamos no bom caminho. Pouco habituados a coisas boas que vêm para ficar, ainda hoje há alguns que se aproximam de nós perguntando se a Ludoteca vai acabar ou se é para sempre...

... É para sempre.

Com eles continuaremos a fazer girar o sol.


Maria Helena Pinheiro Martinho

Crónica publicada em Cadernos de Educação de Infância, N.º 40, 1996

NOTA 1 – À data da publicação da presente crónica, as animadoras da Ludoteca “Gira-Sol” eram Helena Martinho e Elisete Moreiras

NOTA 2 – Helena Martinho foi a responsável pela elaboração, implementação e montagem do projecto da Ludoteca “Gira-Sol” da Creche do Povo (Torres Vedras), em funcionamento desde Janeiro de 1995, de que foi coordenadora pedagógica até 2001. Este projecto foi financiado pelo programa NOW (New Opportunities for Women), do Fundo Social Europeu.

sábado, 2 de abril de 2011

As nossas mãos, encontro de sentidos

O ano começa e vou até ti de mãos nuas. Tento despejar de mim todos os cansaços passados, todos os desalentos, todos os pensamentos, preocupações, todos os escuros. Tento acender luz nova nos meus olhos para os teus sedentos. Quero ajudar-te a sentir o prazer de olhar e ver as coisas profunda, vagarosa e demoradamente. Assim nascem as melhores perguntas, as que mais nos fazem caminhar e aprender.

Serás novo para mim. Eu nova para ti. E haverá no nosso mútuo olá de primeira vez uma coisa fresca de fruta doce de Outono. Hei-de ajudar-te a distinguir os sabores que o saber pode partilhar. E o gosto apurar-se-á em cada colher de sopa mágica que tomarmos na mesa que vamos partilhar. Sei que te darei tudo o que puder, mas pedir-te-ei muito mais do que aquilo que te posso dar. Para que sejas tu a progressivamente saborear, a construir (e não eu através de ti).

E já sei que, provavelmente, as minhas mãos se encherão das tuas. Nelas vais ler os muitos anos na companhia de ti sem seres exactamente tu. Perceberás as mil texturas de que é feita uma estrada. E descobrirás que também consegues moldar formas novas, tornar macio o áspero, encontrar o quente que se esconde no frio. Te direi, um dia, das minhas causas, das minhas lutas, porque as não esqueço e é por ti que elas se desenham e cumprem. Mas apenas depois de crescermos os dois um bocadinho mais, nesse exercício de aves aprendendo a voar juntas e separadas. As tuas causas, as tuas lutas serão as tuas.

O ano começa e vou até ti de mãos nuas. Porque quero ter espaço para ti em mim. Quero os meus sentidos livres no encontro com os teus. Sacudo os restos do pó acumulado do ano que já foi. Lavo-me (procuro lavar-me?) de tudo o que fere o sorriso que te quero dar. Afasto o cheiro menos bom do que é velho e desnecessário, perfumo a preciosidade antiga que faz falta, decido partilhar o aroma dos futuros possíveis. Das flores que semearmos a meias. Mereces um sorriso fresco e claro. Um cheiro a cama feita de fresco. Tudo novo por ser mesmo novo ou apenas porque o é aos olhos de quem vê pela primeira vez o que pensava já conhecer.

E sei que, nos anos contados a partir desse sorriso primeiro, iremos entrelaçar-nos numa teia macia que não prende, e ajudará o difícil exercício de libertação. E abraçar-nos-emos de mil formas possíveis, percorrendo com o corpo bem desperto todos os caminhos reais e sonhados. E hei-de escutar-te sempre, mesmo quando não te ouvir. E ajudar-te-ei a descobrir essa arte preciosa de saber colar os ouvidos ao universo infinito que nos habita por dentro e ao mundo, que tantas vezes dizemos ser pequeno, desarrumado fora de nós. Na escuta se aprende o prazer e a importância do som. Se cresce em cada aventura entranhada nos dias. Tudo é música, até o silêncio.

Vais descobrir. Basta quereres, deixares, aceitares as minhas mãos, quando bater à tua porta. Acreditas em mim se disser que está também nas tuas mãos? E as minhas mãos na companhia das tuas passarão a ser as nossas mãos.

(Com um cuidado especial, segredo que todos os Professores deviam conhecer: saber sempre, em cada minuto partilhado, onde acabam os meus dedos, onde terminam os meus sentidos e começam os teus... As tuas asas?)


Texto de Teresa Martinho Marques


Correio da Educação ASA, n.º 265, 11.Setembro.2006