José Pacheco Pereira
PÚBLICO, 08.Junho.2013
«Um dos aspectos mais
inaceitáveis deste processo é o grau de dolo e fraude em que ele é feito.
Repito-me, mas este é um dos aspectos mais repulsivos da actual governação. Todos
os governantes juraram várias vezes, há dois anos, e há dois meses, que nunca
haveria despedimentos na função pública, nunca haveria “mobilidade especial”
para os professores, e que apenas quem quiser sair teria abertas as portas a
“rescisões amigáveis”. O que ofende mais a consciência comum é que as mesmas
pessoas que usaram o “nunca”, várias vezes e em contextos que não permitiam a
ambiguidade, estão hoje na vanguarda de piruetas verbais mais obscenas para se
desdizerem, parecendo aliás muito pouco preocupados com o valor da sua palavra.»
«Uma das razões por que prefiro
mesmo o desconhecido e o arriscado à situação presente, como sejam eleições
antecipadas sem grandes expectativas, é que prefiro um tumulto que abra o
espaço político a uma situação nova, à continuidade de uma governação que é uma
forma muito pior de tumulto, é a destruição de um país em que a condição de se
ser português não significa nada, porque já não existem laços comunitários em
que nos reconheçamos.»
«Não é irrelevante o que se
está a passar, para quem seja “justo”, para quem não seja indiferente ao tónus
moral e cívico de uma sociedade, com todos os piores instintos a ser
despertados e alimentados, para garantir um terreno favorável a um projecto de
engenharia política que hoje está em decadência, mas que envenena a terra em
que está a apodrecer. Se há um princípio cívico de moralidade – e é um cínico e
um relutante defensor de argumentos morais em política que escreve isto – o que
está a acontecer aos funcionários públicos deveria fazer soar todos os sinais
de alarme.»
Sem comentários:
Enviar um comentário