“Os professores fizeram greve e o Governo
lançou o caos”
José
Vítor Malheiros
Publico (p.45),
18.Junho.2013
Cf. aqui
«O Ministério da Educação tinha
a possibilidade de resolver a situação causada pela greve de professores com o
mínimo de perturbação para os alunos, com o mínimo de confusão nas escolas,
respeitando os professores que querem e os que não querem fazer greve, sem pôr
em causa o direito à greve, sem atropelar o regulamento dos exames, tratando os
alunos com a equidade que a lei exige e dando de si e do Governo uma imagem de
sensatez. Bastaria que seguisse a
recomendação do colégio arbitral e que adiasse para dia 20 a realização dos
exames marcados para ontem. Ninguém poderia dizer que se tratava de uma
cedência perante os professores ou de um recuo perante os sindicatos, já que a
proposta vem de um colégio arbitral e já que a mudança de data permitiria que
os exames se realizassem, e - segundo o ministério - o objectivo dos sindicatos
de professores é impedir a sua realização. Seria até fácil apresentar este
desvio táctico como uma vitória do ministério nas declarações de propaganda que
se tornaram habituais nos últimos dias ("Conseguimos minimizar o incómodo
causado pela greve, conseguimos realizar os exames que os sindicatos queriam
impedir, não respondemos a esta provocação, mostrámos que estamos organizados,
a nossa prioridade são os alunos, blá, blá blá..."
Porém, em vez disso, o ministro Nuno Crato preferiu levar o
braço-de-ferro com os professores até ao fim e forçar a
realização de exames sem que estivessem reunidas as condições mínimas de
serenidade para que os estudantes pudessem realizar as suas provas, criar
um problema de iniquidade no tratamento dos alunos que não tem nenhuma solução
aceitável, praticar uma clara violação do direito à greve ao convocar
para o serviço de exames todos os professores possíveis e imaginários
(incluindo directores, professores do ensino especial, educadores de infância,
professores sem formação específica para acompanhar exames) e lançar uma
suspeita insidiosa sobre os sindicatos de que estes se preparariam para fazer
greve na nova data se houvesse adiamento do exame – o que, como se sabe, não
seria legalmente possível e os sindicatos garantiram que não faziam.
Por que não
adoptar aquela que era considerada uma boa solução e preferir a posição oposta,
que suscita problemas de todo o tipo e prejudica de forma máxima os alunos? A resposta: para
inventar um novo inimigo interno. (…)».
NOTA – A tese sobre a “necessidade”
de inventar um inimigo interno não é
de hoje. Vem do tempo de José Sócrates e da ex-ministra Maria de Lourdes
Rodrigues, que muito humilharam os professores. Esta obsessão trouxe-me à
memória um estudo de há 2 ou 3 anos – cujos números não devem ter sofrido grande
alteração até hoje – que revelava que os portugueses confiavam pouco nos políticos
(17%), advogados, banqueiros e gestores de grandes empresas, e depositavam
mais credibilidade nos bombeiros,
professores (92%), carteiros e médicos. Afinal, quem são os inimigos
de quem?
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