... esperança de melhores dias, com Saúde, Paz interior e Harmonia familiar.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Emissão zero não existe...
“Carta ao Director” que dirigi ao jornal PÚBLICO e foi publicada hoje:
Segundo uma notícia do PÚBLICO de 23.Dez.2010, «o primeiro-ministro defendeu que há três principais razões para apostar num veículo eléctrico: “Não faz barulho, não tem emissões e liberta os países da dependência do petróleo, promovendo as energias renováveis”». Que a Nissan apresente o seu carro eléctrico como sendo de “zero emission” percebe-se, mas compreende-se menos que o primeiro-ministro (que se diz engenheiro e até já foi ministro do Ambiente) acompanhe fielmente essa publicidade.
É um facto que um carro eléctrico (não-híbrido), durante a sua utilização, não produz directamente gases com efeito estufa como acontece com os automóveis movidos a gasolina, gasóleo ou gás. O mesmo não se pode dizer quando se tem em conta a produção da electricidade que está na base do carregamento das baterias utilizadas pelos carros eléctricos.
Sendo indistinta na sua proveniência a electricidade que alimenta as baterias, pode-se afirmar com segurança que os carros eléctricos têm um impacte ambiental não-nulo, ou seja, a “emissão zero” é uma ficção. Por alguma razão os ambientalistas recomendam que se economize energia eléctrica apagando luzes, substituindo lâmpadas, desligando aparelhos...
Ilustração in: http://radames.manosso.nom.br/ambiental/transporte/transporte
Segundo uma notícia do PÚBLICO de 23.Dez.2010, «o primeiro-ministro defendeu que há três principais razões para apostar num veículo eléctrico: “Não faz barulho, não tem emissões e liberta os países da dependência do petróleo, promovendo as energias renováveis”». Que a Nissan apresente o seu carro eléctrico como sendo de “zero emission” percebe-se, mas compreende-se menos que o primeiro-ministro (que se diz engenheiro e até já foi ministro do Ambiente) acompanhe fielmente essa publicidade.
É um facto que um carro eléctrico (não-híbrido), durante a sua utilização, não produz directamente gases com efeito estufa como acontece com os automóveis movidos a gasolina, gasóleo ou gás. O mesmo não se pode dizer quando se tem em conta a produção da electricidade que está na base do carregamento das baterias utilizadas pelos carros eléctricos.
Sendo indistinta na sua proveniência a electricidade que alimenta as baterias, pode-se afirmar com segurança que os carros eléctricos têm um impacte ambiental não-nulo, ou seja, a “emissão zero” é uma ficção. Por alguma razão os ambientalistas recomendam que se economize energia eléctrica apagando luzes, substituindo lâmpadas, desligando aparelhos...
Ilustração in: http://radames.manosso.nom.br/ambiental/transporte/transporte
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Rómulo de Carvalho - MEMÓRIAS
«Rómulo de Carvalho, o professor, mestre de professores e pedagogo, que se notabilizou também como investigador do pensamento e da actividade científica em Portugal no século XVIII, deixou-nos mais de um de milhar de páginas manuscritas a que deu o título de “Memórias”, escritas segundo nos diz “para instrução e divertimento de seus tetranetos”. Aí nos fala da sua vivência na sociedade em que nasceu, se tornou adulto e trabalhou, ao longo de quase um século de vida. Fala-nos do “nascimento” do poeta António Gedeão e do acolhimento que teve a sua poesia entre os que a leram ou puderam ouvi-la, dita por ele ou por outros, musicada e cantada.
As “Memórias” de Rómulo de Carvalho vêm agora a público numa edição lançada pela Fundação Calouste Gulbenkian através do seu Serviço de Educação e Bolsas. Com o humor, a independência de espírito, e agudeza crítica, que eram características marcantes da personalidade do autor, este desvenda-se aos olhos do leitor deixando entender a sua particular visão do mundo e da história, e da comunidade dos homens e mulheres que fazem essa mesma história. Rómulo de Carvalho, nascido quando em Portugal reinava o Senhor D. Carlos, fecha as suas “memórias” três semanas antes de nos deixar em Fevereiro de 1997, com uma linha em branco para que nela fosse inscrita a data da sua morte.
A forma simples e directa de expressão, usando sempre as palavras certas para descrever a realidade tal como o autor a vê, permite olhar a obra como “o romance de uma vida” que interessará a um vasto público mas é ao mesmo tempo rica de informação, em especial no que toca à evolução da escola e do ensino entre nós, vistos de dentro por alguém que confessa ter escolhido a profissão “por amor”.»
in http://www.gulbenkian.pt/
in http://www.gulbenkian.pt/
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
ENERGIA NUCLEAR - Mitos e Realidades
Completam-se agora dez anos sobre a sessão de lançamento do livro Energia Nuclear – Mitos e Realidades que decorreu na FNAC-Colombo (14.Dez.2000). Na mesa estiveram, além dos autores, o Professor José Veiga Simão e Joaquim António Emídio (director-geral do jornal O MIRANTE, que editou a obra).
Hoje pode dizer-se, sem falsa modéstia, que o livro fez um percurso meritório e tem sido útil. Nesta entrada são apresentados comentários feitos ao livro por diversas individualidades.
A energia nuclear vai continuar a ser um tema actual e deve saudar-se o aparecimento deste livro como sinal de sanidade e da convicção de que pela ignorância não se chega a nenhum lado onde valha a pena ir. (...)
A obra que agora Jaime Oliveira e Eduardo Martinho apresentam ao leitor coloca, de um forma sugestiva, didacticamente atractiva, e autorizada pela experiência e competência dos seus autores, a energia nuclear, sine ira et cum studio, como a alternativa que verdadeiramente é já, para além dos prováveis progressos futuros na sua segurança, desempenho e custo. Seria lamentável que receios injustificados levassem à recusa do seu estudo. (...)
António Manuel Baptista, Professor Jubilado da Academia Militar e notável Divulgador de Ciência, in Prefácio
Os estudantes portugueses têm muita sorte em poderem adquirir uma obra como esta.
Pierre Menessier, Engenheiro do Comissariado de Energia Atómica de França, 03.Novembro.2000
“Energia Nuclear - Mitos e Realidades” é um importante contributo para a cultura científica.
Rosália Vargas, Directora de Ciência Viva - Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, do Ministério da Ciência e da Tecnologia, 13.Dezembro.2000
É de felicitar o editor pela ousadia -- para alguns -- de ter editado este livro, contribuindo assim para que a Sociedade do Conhecimento onde vivemos disponha de um documento onde possa aprender um assunto tão importante como é a energia nuclear. (...)
Estamos em presença de dois autores que dominam, com perfeição e profundidade, o estado da arte em que se encontra a energia nuclear. (...)
Não deixem de ler este livro e de o discutir. Era bom que ele fosse para as escolas, no sentido de constituir um desafio à análise e ao posicionamento rigoroso em relação a muitos aspectos de uma verdade que é uma só, a unidade teleológica do saber. Na evolução que tudo isto teve, socorro-me do pensamento de alguém que constitui o nosso deus terreno. O que é que nos diz Einstein -- um homem que oscilou entre certas aplicações da energia nuclear e o pacifismo -- sobre este assunto? Podemos reflectir sobre esta frase: As equações são mais importantes para mim, porque a política é do presente e uma equação é qualquer coisa para a eternidade. A vida de Einstein foi dividida entre a política e as equações, mas o seu amor às equações deixou uma lição para todos nós. Este livro é uma equação que deve ser lida.
José Veiga Simão, Professor Catedrático Jubilado da Universidade de Coimbra e
ex-Ministro da Educação -- passagens da intervenção feita na sessão de lançamento do livro na FNAC - Centro Colombo, 14.Dezembro.2000.
Hoje, em que cada vez mais se fala de reactores nucleares, da aplicação de isótopos radioactivos na medicina, na agricultura e na indústria, do futuro da energia nuclear e, agora, até do famoso urânio empobrecido, os nossos alunos do 12.º ano de escolaridade não dispõem, infelizmente, de uma formação que lhes permita falar e discutir estes problemas. E é aqui que “Energia Nuclear - Mitos e Realidades” vem suprir este tipo de carência.
Asseguro-vos que este livro é utilíssimo para professores e alunos, e até para o público em geral. O Eduardo Martinho e o Jaime Oliveira tiveram o cuidado de aliar a sua prática e conhecimentos científicos a uma escrita simples, desenvolta, agradável e cientificamente correcta. E atenção! É vulgar ver textos sobre esta matéria, aparentemente cheios de ciência e repletos de asneiras. Ou ouvir noticiários televisivos que, muitas vezes, nos arripiam.
Artur Marques da Costa, Professor do Colégio Militar -- passagem da intervenção feita na sessão de apresentação do livro na Chamusca, 20.Janeiro.2001, in O MIRANTE, 25.Janeiro.2001
(…) o livro tem um carácter acentuadamente pedagógico, dado que se destina prioritariamente aos estudantes do ensino secundário (…) tem um cunho marcadamente didáctico, como é apanágio dos seus autores (…). A comunidade científica portuguesa está, pois, de parabéns.
J.J. Quintela de Brito, Presidente da direcção da Sociedade Portuguesa de Protecção Contra Radiações, in Radioprotecção, Volume I, Números 8 e 9, Dezembro.2000 e Maio.2001
A leitura de “Energia Nuclear - Mitos e Realidades” é muito interessante. Admirei a apresentação e as ilustrações. É um livro que é agradável consultar. Em França, não temos uma obra equivalente -- a única que poderia ser comparável é o livro de Yves Chelet [L’Énergie Nucléaire, Éditions du Seuil, 8.ª edição, 1975] publicado há mais de 25 anos; já não se encontra à venda e jamais foi reeditado. Em França, os editores não querem publicar obras que eu qualificaria de divulgação científica séria sobre o nuclear. Os ecologistas ficariam escandalizados...
Jean-Claude Carré, Engenheiro do Comissariado de Energia Atómica de França, 23.Abril.2001
É muito importante o livro acabado de editar para “objectivar” o(s) problema(s) que temos em mãos. (...) [Os autores] retratam com rigor científico e seriedade, como sempre, uma realidade que não pode ser esquecida ou distorcida.
Nuno Ribeiro da Silva, ex-Secretário de Estado da Energia e Professor do Instituto Superior de Economia e Gestão, 07.Maio.2001
“Energia Nuclear - Mitos e Realidades”, a recente obra de Jaime Oliveira e Eduardo Martinho, tem como principal objectivo ajudar o leitor a compreender o papel da energia nuclear como uma das alternativas energéticas disponíveis. De acordo com os autores, a ideia de escrever este livro surgiu da necessidade de preencher a grande falta de informação que existe nesta matéria. Utilizando uma linguagem acessível mas sem perda de rigor científico, os autores esperam que esta obra possa ser útil a todos quantos, em geral, “pretendam saber mais sobre os fundamentos de uma área técnico-científica que continua a prestar-se a controvérsias e mal-entendidos”.
in Água & Ambiente -- O Jornal de Negócios da Indústria do Ambiente, Ano 3, Número 31, Junho.2001
O livro, do prelo de uma editora ribatejana que publica um jornal regional, é uma interessante introdução à ciência e tecnologia nuclear, que inclui várias tabelas e ilustrações a cores. A preocupação didáctica é evidente por todo o livro. O prefácio -- uma saborosa apologia da Física Nuclear -- é de António Manuel Baptista, o conhecido divulgador da ciência (...).
Carlos Fiolhais, Professor Catedrático da Universidade de Coimbra, in Gazeta de Física, Volume 24, Fascículo 2, Abril-Junho.2001
Este livro, além de abordar um tema polémico, serve como manual de aprendizagem de diversos assuntos importantes quer para alunos e professores do ensino secundário e universitário, quer para um público mais vasto. (...)
Além de estar escrito numa linguagem científica simples e simultaneamente rigorosa, e com um estilo linguístico impecável, é acompanhado de fotografias e ilustrações a cores que, além de explicarem o texto, o tornam agradável de ler. (...)
A publicação deste livro é uma importante contribuição para a divulgação das ciências nucleares, para o aumento da cultura científica de alunos e professores do ensino secundário e universitário. É útil a existência desta obra em qualquer biblioteca.
António Pires de Matos, Investigador do Instituto Tecnológico e Nuclear, in Boletim da Sociedade Portuguesa de Química, N.º 81, Abril-Junho.2001
http://www.spq.pt/boletim/docs/BoletimSPQ_081_076_12.pdf
Li “Energia Nuclear - Mitos e Realidades” com muito interesse. Por aqui falta um livro de divulgação como este.
Roberto Poledna, Investigador do Instituto de Radioprotecção e Dosimetria da Comissão Nacional de Energia Nuclear do Brasil, 13.Agosto.2001
Gostaria de agradecer o livro que me enviou e dizer que o seu conteúdo servirá com certeza para informar e educar todos os leitores. O livro, muito bem escrito, descreve claramente os pontos obscuros referentes ao uso da energia nuclear.
Luiz Carlos Leal, Investigador do Oak Ridge National Laboratory, Estados Unidos da América, 22.Janeiro.2002
A oferta do livro, sonhado e realizado para bem de muitos de nós – que pouco conhecemos da matéria – é, para mim, um magnífico presente. Olhei tão só para o layout, capítulos e ilustrações… e fiquei encantado.
J. Renato Araújo, ex-Reitor da Universidade de Aveiro, Janeiro.2002
A comunidade científica, por vezes, também desce à terra… e a prova disso é (…) um livro que simplifica conceitos científicos da problemática nuclear e que se destina sobretudo a alunos e professores do ensino secundário, bem como ao público de um modo geral.
“Energia Nuclear – Mitos e Realidades” foi o título escolhido para um trabalho de 200 páginas – editado pelo jornal O Mirante – diante do qual a sociedade do conhecimento internacional fez a devida vénia. Aliás, o reconhecimento interpares sobressaiu numa época particularmente polémica [em especial, devido ao debate sobre a utilização de urânio empobrecido em projécteis militares]. (...)
“Energia Nuclear – Mitos e Realidades” é, sem dúvida, o exemplo de um trabalho de investigação que consegue cativar o público.
Helga Nunes, in ESEG-Magazine, N.º 2, Abril-Junho.2002 (ESEG: Escola Superior de Educação da Guarda)
Hoje pode dizer-se, sem falsa modéstia, que o livro fez um percurso meritório e tem sido útil. Nesta entrada são apresentados comentários feitos ao livro por diversas individualidades.
A energia nuclear vai continuar a ser um tema actual e deve saudar-se o aparecimento deste livro como sinal de sanidade e da convicção de que pela ignorância não se chega a nenhum lado onde valha a pena ir. (...)
A obra que agora Jaime Oliveira e Eduardo Martinho apresentam ao leitor coloca, de um forma sugestiva, didacticamente atractiva, e autorizada pela experiência e competência dos seus autores, a energia nuclear, sine ira et cum studio, como a alternativa que verdadeiramente é já, para além dos prováveis progressos futuros na sua segurança, desempenho e custo. Seria lamentável que receios injustificados levassem à recusa do seu estudo. (...)
António Manuel Baptista, Professor Jubilado da Academia Militar e notável Divulgador de Ciência, in Prefácio
Os estudantes portugueses têm muita sorte em poderem adquirir uma obra como esta.
Pierre Menessier, Engenheiro do Comissariado de Energia Atómica de França, 03.Novembro.2000
“Energia Nuclear - Mitos e Realidades” é um importante contributo para a cultura científica.
Rosália Vargas, Directora de Ciência Viva - Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, do Ministério da Ciência e da Tecnologia, 13.Dezembro.2000
É de felicitar o editor pela ousadia -- para alguns -- de ter editado este livro, contribuindo assim para que a Sociedade do Conhecimento onde vivemos disponha de um documento onde possa aprender um assunto tão importante como é a energia nuclear. (...)
Estamos em presença de dois autores que dominam, com perfeição e profundidade, o estado da arte em que se encontra a energia nuclear. (...)
Não deixem de ler este livro e de o discutir. Era bom que ele fosse para as escolas, no sentido de constituir um desafio à análise e ao posicionamento rigoroso em relação a muitos aspectos de uma verdade que é uma só, a unidade teleológica do saber. Na evolução que tudo isto teve, socorro-me do pensamento de alguém que constitui o nosso deus terreno. O que é que nos diz Einstein -- um homem que oscilou entre certas aplicações da energia nuclear e o pacifismo -- sobre este assunto? Podemos reflectir sobre esta frase: As equações são mais importantes para mim, porque a política é do presente e uma equação é qualquer coisa para a eternidade. A vida de Einstein foi dividida entre a política e as equações, mas o seu amor às equações deixou uma lição para todos nós. Este livro é uma equação que deve ser lida.
José Veiga Simão, Professor Catedrático Jubilado da Universidade de Coimbra e
ex-Ministro da Educação -- passagens da intervenção feita na sessão de lançamento do livro na FNAC - Centro Colombo, 14.Dezembro.2000.
Hoje, em que cada vez mais se fala de reactores nucleares, da aplicação de isótopos radioactivos na medicina, na agricultura e na indústria, do futuro da energia nuclear e, agora, até do famoso urânio empobrecido, os nossos alunos do 12.º ano de escolaridade não dispõem, infelizmente, de uma formação que lhes permita falar e discutir estes problemas. E é aqui que “Energia Nuclear - Mitos e Realidades” vem suprir este tipo de carência.
Asseguro-vos que este livro é utilíssimo para professores e alunos, e até para o público em geral. O Eduardo Martinho e o Jaime Oliveira tiveram o cuidado de aliar a sua prática e conhecimentos científicos a uma escrita simples, desenvolta, agradável e cientificamente correcta. E atenção! É vulgar ver textos sobre esta matéria, aparentemente cheios de ciência e repletos de asneiras. Ou ouvir noticiários televisivos que, muitas vezes, nos arripiam.
Artur Marques da Costa, Professor do Colégio Militar -- passagem da intervenção feita na sessão de apresentação do livro na Chamusca, 20.Janeiro.2001, in O MIRANTE, 25.Janeiro.2001
(…) o livro tem um carácter acentuadamente pedagógico, dado que se destina prioritariamente aos estudantes do ensino secundário (…) tem um cunho marcadamente didáctico, como é apanágio dos seus autores (…). A comunidade científica portuguesa está, pois, de parabéns.
J.J. Quintela de Brito, Presidente da direcção da Sociedade Portuguesa de Protecção Contra Radiações, in Radioprotecção, Volume I, Números 8 e 9, Dezembro.2000 e Maio.2001
A leitura de “Energia Nuclear - Mitos e Realidades” é muito interessante. Admirei a apresentação e as ilustrações. É um livro que é agradável consultar. Em França, não temos uma obra equivalente -- a única que poderia ser comparável é o livro de Yves Chelet [L’Énergie Nucléaire, Éditions du Seuil, 8.ª edição, 1975] publicado há mais de 25 anos; já não se encontra à venda e jamais foi reeditado. Em França, os editores não querem publicar obras que eu qualificaria de divulgação científica séria sobre o nuclear. Os ecologistas ficariam escandalizados...
Jean-Claude Carré, Engenheiro do Comissariado de Energia Atómica de França, 23.Abril.2001
É muito importante o livro acabado de editar para “objectivar” o(s) problema(s) que temos em mãos. (...) [Os autores] retratam com rigor científico e seriedade, como sempre, uma realidade que não pode ser esquecida ou distorcida.
Nuno Ribeiro da Silva, ex-Secretário de Estado da Energia e Professor do Instituto Superior de Economia e Gestão, 07.Maio.2001
“Energia Nuclear - Mitos e Realidades”, a recente obra de Jaime Oliveira e Eduardo Martinho, tem como principal objectivo ajudar o leitor a compreender o papel da energia nuclear como uma das alternativas energéticas disponíveis. De acordo com os autores, a ideia de escrever este livro surgiu da necessidade de preencher a grande falta de informação que existe nesta matéria. Utilizando uma linguagem acessível mas sem perda de rigor científico, os autores esperam que esta obra possa ser útil a todos quantos, em geral, “pretendam saber mais sobre os fundamentos de uma área técnico-científica que continua a prestar-se a controvérsias e mal-entendidos”.
in Água & Ambiente -- O Jornal de Negócios da Indústria do Ambiente, Ano 3, Número 31, Junho.2001
O livro, do prelo de uma editora ribatejana que publica um jornal regional, é uma interessante introdução à ciência e tecnologia nuclear, que inclui várias tabelas e ilustrações a cores. A preocupação didáctica é evidente por todo o livro. O prefácio -- uma saborosa apologia da Física Nuclear -- é de António Manuel Baptista, o conhecido divulgador da ciência (...).
Carlos Fiolhais, Professor Catedrático da Universidade de Coimbra, in Gazeta de Física, Volume 24, Fascículo 2, Abril-Junho.2001
Este livro, além de abordar um tema polémico, serve como manual de aprendizagem de diversos assuntos importantes quer para alunos e professores do ensino secundário e universitário, quer para um público mais vasto. (...)
Além de estar escrito numa linguagem científica simples e simultaneamente rigorosa, e com um estilo linguístico impecável, é acompanhado de fotografias e ilustrações a cores que, além de explicarem o texto, o tornam agradável de ler. (...)
A publicação deste livro é uma importante contribuição para a divulgação das ciências nucleares, para o aumento da cultura científica de alunos e professores do ensino secundário e universitário. É útil a existência desta obra em qualquer biblioteca.
António Pires de Matos, Investigador do Instituto Tecnológico e Nuclear, in Boletim da Sociedade Portuguesa de Química, N.º 81, Abril-Junho.2001
http://www.spq.pt/boletim/docs/BoletimSPQ_081_076_12.pdf
Li “Energia Nuclear - Mitos e Realidades” com muito interesse. Por aqui falta um livro de divulgação como este.
Roberto Poledna, Investigador do Instituto de Radioprotecção e Dosimetria da Comissão Nacional de Energia Nuclear do Brasil, 13.Agosto.2001
Gostaria de agradecer o livro que me enviou e dizer que o seu conteúdo servirá com certeza para informar e educar todos os leitores. O livro, muito bem escrito, descreve claramente os pontos obscuros referentes ao uso da energia nuclear.
Luiz Carlos Leal, Investigador do Oak Ridge National Laboratory, Estados Unidos da América, 22.Janeiro.2002
A oferta do livro, sonhado e realizado para bem de muitos de nós – que pouco conhecemos da matéria – é, para mim, um magnífico presente. Olhei tão só para o layout, capítulos e ilustrações… e fiquei encantado.
J. Renato Araújo, ex-Reitor da Universidade de Aveiro, Janeiro.2002
A comunidade científica, por vezes, também desce à terra… e a prova disso é (…) um livro que simplifica conceitos científicos da problemática nuclear e que se destina sobretudo a alunos e professores do ensino secundário, bem como ao público de um modo geral.
“Energia Nuclear – Mitos e Realidades” foi o título escolhido para um trabalho de 200 páginas – editado pelo jornal O Mirante – diante do qual a sociedade do conhecimento internacional fez a devida vénia. Aliás, o reconhecimento interpares sobressaiu numa época particularmente polémica [em especial, devido ao debate sobre a utilização de urânio empobrecido em projécteis militares]. (...)
“Energia Nuclear – Mitos e Realidades” é, sem dúvida, o exemplo de um trabalho de investigação que consegue cativar o público.
Helga Nunes, in ESEG-Magazine, N.º 2, Abril-Junho.2002 (ESEG: Escola Superior de Educação da Guarda)
domingo, 26 de dezembro de 2010
Nevão em Zurique
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Presépio + Árvore de Natal
Estes trabalhos foram feitos por Paulo Miguel Pinheiro Martinho, veterinário de profissão e escultor artesanal nas horas vagas, por vocação tardia. Digamos que lhe assenta bem a designação de "veterinário-escultor"... como um bloguista o caracterizou recentemente.
http://madeiraviva.blogspot.com/
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Escola a tempo inteiro? Não, muito obrigada!
Referia o pedopsiquiatra Pedro Strecht no notável artigo “Escola e Saúde Mental” publicado a 12 de Setembro de 2002 no PÚBLICO, por ocasião de mais um início de ano lectivo, que um dos pressupostos para o sucesso escolar dos alunos passava por não permanecerem tempo demais na Escola, facto que aquele médico classificava como “doentio”.
Voltei a lembrar-me das esclarecidas palavras de Pedro Strecht quando o Agrupamento da Escola que o meu filho frequenta me solicitou uma exposição para justificar o facto de ele não frequentar as Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC) “em bloco”, como parece ser exigência da Câmara Municipal, e sair da Escola mais cedo que as demais crianças.
Como mãe e profissional de Educação que sou, tenho a noção clara do efeito perverso que tempo a mais na Escola pode produzir. Por este facto nunca pretenderia que o meu filho frequentasse quaisquer AEC. No entanto, sendo parte deste horário a meio do tempo lectivo, assumi a necessidade de uma hora diária dessas actividades por impossibilidade real de o retirar da Escola a essa hora, mantendo a intenção de não-frequência das AEC na parte da tarde.
Escrevi a justificação para o Agrupamento de forma neutra e contida, não sem, no entanto, ficar com vontade de colocar a quem de direito algumas questões:
· Terá alguma vez sido solicitada uma justificação formal aos pais que deixam os seus filhos 12 horas nas Escolas?
· E àqueles pais que, independentemente de estarem em período de férias, continuam a entregar os seus educandos a instituições?
· Alguma vez se teve o cuidado de verificar se os horários dos pais justificavam o recurso a prolongamentos de horário em instituições educativas?
Fico perplexa quando se toma como “anormal” aquilo que é raro mas deveria ser absolutamente normal… pelo menos a bem da saúde mental de crianças e jovens.
Carta de Helena Martinho publicada no jornal PÚBLICO em 01.Novembro.2010
Voltei a lembrar-me das esclarecidas palavras de Pedro Strecht quando o Agrupamento da Escola que o meu filho frequenta me solicitou uma exposição para justificar o facto de ele não frequentar as Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC) “em bloco”, como parece ser exigência da Câmara Municipal, e sair da Escola mais cedo que as demais crianças.
Como mãe e profissional de Educação que sou, tenho a noção clara do efeito perverso que tempo a mais na Escola pode produzir. Por este facto nunca pretenderia que o meu filho frequentasse quaisquer AEC. No entanto, sendo parte deste horário a meio do tempo lectivo, assumi a necessidade de uma hora diária dessas actividades por impossibilidade real de o retirar da Escola a essa hora, mantendo a intenção de não-frequência das AEC na parte da tarde.
Escrevi a justificação para o Agrupamento de forma neutra e contida, não sem, no entanto, ficar com vontade de colocar a quem de direito algumas questões:
· Terá alguma vez sido solicitada uma justificação formal aos pais que deixam os seus filhos 12 horas nas Escolas?
· E àqueles pais que, independentemente de estarem em período de férias, continuam a entregar os seus educandos a instituições?
· Alguma vez se teve o cuidado de verificar se os horários dos pais justificavam o recurso a prolongamentos de horário em instituições educativas?
Fico perplexa quando se toma como “anormal” aquilo que é raro mas deveria ser absolutamente normal… pelo menos a bem da saúde mental de crianças e jovens.
Carta de Helena Martinho publicada no jornal PÚBLICO em 01.Novembro.2010
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Reunião de Família
No dia 24 acontecerá a habitual reunião com os nossos filhos e netos, cada um vindo do seu “canto” se não houver qualquer impedimento. O Paulo Miguel, a Filomena e o Bruno vêm da Guarda; a Maria Teresa e o Fernando chegam de Vila Nogueira de Azeitão; a Maria Helena e o João Guilherme deslocam-se de Santa Cruz (Torres Vedras); e a Maria Isabel, o Hugo (na foto, com a avó Piedade), a Inês e o Pedro aterram hoje no aeroporto da Portela provenientes de Bruxelas.
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
De mãos dadas
Reencontrei a Isabel há dias. Estar com ela, embora fortuitamente, sempre me enriquece. Aliada à inteligência, tem uma visão ampla do mundo e dos seus problemas. É humana, profunda e sensível. Nunca casou. Os sobrinhos são os "seus" filhos. Nesse dia falou-se deles, e dos filhos em geral. Também ela acentua os cuidados a que têm direito e vê na Mãe o papel fundamental.
Lembra um episódio vivido há muitos anos em casa do irmão, oficial da marinha mercante, quase sempre ausente. A cunhada, médica de profissão e absorvida pela carreira, trazia invariavelmente trabalho para casa. Fechava-se no escritório para não a perturbarem. Colados à porta, aninhavam-se os filhos, implorando à mãe que os deixasse entrar, mas a benesse era-lhes negada. Foi sempre assim, diz-me Isabel. Bens materiais que sobejaram em detrimento da ternura que faltou. Hoje, são adultos "perdidos" e sem perspectivas.
Mas ela tem bonitas recordações do tempo de menina, dos pais já falecidos e do apoio que nunca lhe foi regateado. Emocionada, relembra com saudade os passeios que dava com a Mãe, de mãos dadas. No gesto singelo, o mundo todo, sinónimo perfeito da segurança que ainda hoje sente.
Lembra um episódio vivido há muitos anos em casa do irmão, oficial da marinha mercante, quase sempre ausente. A cunhada, médica de profissão e absorvida pela carreira, trazia invariavelmente trabalho para casa. Fechava-se no escritório para não a perturbarem. Colados à porta, aninhavam-se os filhos, implorando à mãe que os deixasse entrar, mas a benesse era-lhes negada. Foi sempre assim, diz-me Isabel. Bens materiais que sobejaram em detrimento da ternura que faltou. Hoje, são adultos "perdidos" e sem perspectivas.
Mas ela tem bonitas recordações do tempo de menina, dos pais já falecidos e do apoio que nunca lhe foi regateado. Emocionada, relembra com saudade os passeios que dava com a Mãe, de mãos dadas. No gesto singelo, o mundo todo, sinónimo perfeito da segurança que ainda hoje sente.
Crónica de Maria da Piedade Pinheiro Martinho
publicada no jornal O MIRANTE (Dez.1989)
publicada no jornal O MIRANTE (Dez.1989)
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
domingo, 19 de dezembro de 2010
Boas Festas!
O meu neto João Guilherme (6 anos feitos em Setembro), filho da Maria Helena e do Paulo Quintas, desenhou as aves copiando-as à vista do livro “Les oiseaux” de Germano Zullo e Albertine, e a Mãe idealizou um cartão de Boas Festas original para a Família e os Amigos. Trabalho cooperativo ternurento...
sábado, 18 de dezembro de 2010
Natal
Definição (Desejo de?)
Natal devia ser coisa comprida e alongada
Natal devia ser coisa comprida e alongada
esguia
Natal devia ser coisa redonda e grande
cheia
assim uma espécie de infinita e completa magia
não coisa meia
coisa quarta
coisa quase milésima
de cada dia.
Natal
Natal
(se eu mandasse no dicionário
das coisas a precisar de re_definição)
teria sabor, cheiro e forma de seta
aninhada sem fuga no colo-coração.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Rio abaixo, rio acima
19 de Setembro de 1995 -- dia em que, pela primeira vez, O MIRANTE [que nasceu na Chamusca] “fecha” uma edição na sede que o jornal dispõe, a partir de agora, em Santarém -- passa a constituir uma data de referência para todos quantos têm tornado possível este projecto jornalístico. Para mim, que colaboro nesta aventura iniciada há quase oito anos, tal facto é-me grato, pelo muito que me diz.
Na Chamusca, nasci e fui criança; em Santarém, vivi a adolescência.
Na Chamusca, tinha o horizonte alargado dos miradouros de Nossa Senhora do Pranto e do Senhor do Bonfim; em Santarém, tive o vasto panorama das Portas do Sol, sempre com a planície em pano de fundo e o Tejo a marcar o encanto e o ritmo da lezíria.
Na Chamusca, aprendi as primeiras letras e venci os primeiros desafios da minha formação académica na Escola Secundária Municipal “Padre Fernando Eduardo Pereira”, apoiado pelo meu mentor Senhor António Dores do Carmo; em Santarém, completei o (antigo) 7º ano no Externato Braamcamp Freire, com a ajuda importante do seu Director, e também grande amigo, Dr. José Lopes.
Dos mestres que tive na Chamusca, retenho na memória o professor Filipe Baptista, a Dra. Carlota Seixas Serra, o padre Américo Cabeleira, o Dr. Ferrári e Silva e o Dr. José Barracas; dos meus professores de Santarém, não esqueço, entre outros, a Dra. Mariana Ginestal Machado, o Dr. Mário Castro, o Dr. Pombo, o Dr. Lino, o Dr. Belo Catarino e, como não podia deixar de ser, o Dr. José Lopes. A todos, presto aqui a minha homenagem!
Na Chamusca, tive os inúmeros companheiros de quem nasce numa vila onde todos se conhecem e têm uma origem comum; em Santarém, conheci muitos contemporâneos e fiz boas amizades (lembro os colegas Fernando Rei, Jacinto Lisboa, Faísca, Paulino, Lança, Neto, Hilário, Montez, Cascalheira, José Niza, Leitão, Menezes, Dias Ferreira, Quelhas, Picoto, Inácio, entre tantos outros). Por razões diversas, as vicissitudes da vida afastaram-nos do convívio, mas a lembrança guarda o melhor dessas relações, cimentadas nas mesas de bilhar do Café Central, nos matraquilhos do Café Portugal, nas mesas de ping-pong da Académica, nas tertúlias do Jardim da República ou na Livraria Escolar -- junto ao balcão da gentil Dona Elsa, que nos aturava com uma paciência sem limites. Nos intervalos, também estudávamos...
Na Chamusca, rompi muitas solas em disputados jogos de futebol de rua; em Santarém, tive o privilégio de pertencer à equipa de futebol dos juniores da Académica. O grupo, que era formado por estudantes da Escola Agrícola, do Liceu e do Braamcamp Freire e tinha como treinador o respeitado Senhor Madeira, venceu galhardamente o Regional e o Distrital e foi ao Nacional em 1955/56, com direito a fotografia no Mundo Desportivo... Desse tempo, recordo os colegas Pedro Lopes, Andrade, Claudino, Gouveia, Calado, Souto Barreiros, Ivo, Teixeira, Escabelado, Avelino, Artur, Guerra, Pereira, Orlando, Cabrita e, ainda, o Renato, com a sua caixinha milagrosa...
Na Chamusca, tive a família dos meus progenitores; em Santarém, acabei por fundar a família dos meus descendentes, ao conhecer, na família Pinheiro, aquela que viria a ser a Mãe dos meus filhos...
Na Faculdade de Ciências de Lisboa, tive o prazer de ser aluno do ilustre matemático Professor Doutor Fernando Dias Agudo, um universitário ribatejano merecedor da maior consideração -- como muitos outros, aliás, de entre os quais é justo destacar o notável historiador Professor Doutor Joaquim Veríssimo Serrão, um Homem de Santarém, por excelência, que só vim a conhecer bastante mais tarde.
Concluído o curso em 1961, quiseram as circunstâncias que a minha actividade profissional viesse a ser desenvolvida no Laboratório de Física e Engenharia Nucleares, em Sacavém -- um complexo laboratorial ímpar, em Portugal, no domínio da energia nuclear -- cuja criação e dinamização se ficou a dever, em excepcional medida, ao conceituado físico ribatejano Doutor Carlos Ferreira Madeira Cacho, cuja memória é inteiramente justo evocar hoje, a poucos dias de se completar mais um aniversário sobre a data do seu nascimento, na Golegã.
Rio abaixo, rio acima, entre Chamusca e Santarém, foi neste circuito que encontrei o quadro de valores de referência em que cresci saudavelmente e me fiz homem; foi aqui que alicercei um eixo importante das minhas amizades e o cerne dos meus laços familiares. Rio abaixo, rio acima, entre Chamusca e Santarém, é aqui que O MIRANTE vai tentar ganhar o desafio da sua implantação no Ribatejo, como jornal regional de qualidade. (Se o êxito se medir pelo entusiasmo dos que trabalham neste projecto, a aposta será ganha!) Para mim, do ponto de vista afectivo, é como se continuasse em casa, na minha segunda casa.
Artigo publicado no jornal O Mirante em 19 de Setembro de 1995
Nota - A sede do jornal O Mirante encontra-se actualmente no edifício onde funcionou o Externato Braamcamp Freire que eu frequentei. As voltas que o mundo dá...
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Parabéns Inês!
A minha neta Inês faz hoje 6 aninhos.
Aqui está ela a chegar a Santa Cruz (com 8 meses) vinda de Bruxelas...
domingo, 12 de dezembro de 2010
sábado, 11 de dezembro de 2010
Prémio Nobel da Paz 2010
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
A Josefina e os outros
Os tempos de liceu em Santarém foram um marco importante na vida de quem por lá passou. Local privilegiado, o liceu acolhia, como hoje, muitos alunos, oriundos da cidade e arredores. Ali passei alguns anos por entre as agruras do ensino à moda antiga e as alegrias comuns da adolescência, repartida nessa época pela escola, a família e... pouco mais.
Lembro os professores Dr. Jacob, Dr. Guerreiro, Dr. Neto (ao qual associo sempre o “ultraje" cometido sobre «Os Lusíadas", com o texto dissecado impiedosamente pelas orações gramaticais)! Ainda o Dr. Lobato de Faria e tantos outros. Revivo o medo das matérias mal preparadas (nós, os cábulas) e os sempre alinhados e serenos colegas, os «ursos» da turma. Como exemplos, aí temos a Catarina, pediatra em Santarém; o José Nisa, músico e político; o Rui Pena, figura destacada do CDS. No lado oposto, a Josefina, presença muito viva nas minhas recordações [na foto, última fila, com blusa branca]. Ela chegou um dia, após expulsão dum colégio de freiras em Abrantes. À distância, tenho alguma dificuldade em transcrever o que significou para nós esse encontro. Sei que a Josefina gozava de permanente bom humor, muito característico, confesso. Desconcertante, ousada. Os professores reconheciam-lhe a graça e tinham dificuldade em conter o ímpeto das suas larachas. Fazia tropelias sem conta ao professor de inglês, desestabilizava as lições de física do Dr. Rúben, desafinava propositadamente o canto coral do maestro Joel Serrão, que muitas vezes optava por dispensá-Ia logo no início da aula.
Foi assim, repartidos pelo estudo e as brincadeiras, os exames e os divertimentos possíveis, que todos nós crescemos.
Lanço um último olhar para o pátio do liceu: há quem jogue o ringue, salte à corda, converse. Usamos batas pretas e soquetes brancos. No primeiro andar, pelos vidros expressamente mandados pintar pela escola, os rapazes espreitam-nos. Os vidros foram expressamente riscados por eles... Os contínuos vigiam. Alguns pertencem à PIDE, diz-se. A campainha toca. Deixamos ruidosamente o recreio. Encontrar-nos-emos todos, de novo, na aula que vai começar já.
Crónica de Maria da Piedade Pinheiro Martinho publicada no jornal O Mirante em Março de 1991
Lembro os professores Dr. Jacob, Dr. Guerreiro, Dr. Neto (ao qual associo sempre o “ultraje" cometido sobre «Os Lusíadas", com o texto dissecado impiedosamente pelas orações gramaticais)! Ainda o Dr. Lobato de Faria e tantos outros. Revivo o medo das matérias mal preparadas (nós, os cábulas) e os sempre alinhados e serenos colegas, os «ursos» da turma. Como exemplos, aí temos a Catarina, pediatra em Santarém; o José Nisa, músico e político; o Rui Pena, figura destacada do CDS. No lado oposto, a Josefina, presença muito viva nas minhas recordações [na foto, última fila, com blusa branca]. Ela chegou um dia, após expulsão dum colégio de freiras em Abrantes. À distância, tenho alguma dificuldade em transcrever o que significou para nós esse encontro. Sei que a Josefina gozava de permanente bom humor, muito característico, confesso. Desconcertante, ousada. Os professores reconheciam-lhe a graça e tinham dificuldade em conter o ímpeto das suas larachas. Fazia tropelias sem conta ao professor de inglês, desestabilizava as lições de física do Dr. Rúben, desafinava propositadamente o canto coral do maestro Joel Serrão, que muitas vezes optava por dispensá-Ia logo no início da aula.
Foi assim, repartidos pelo estudo e as brincadeiras, os exames e os divertimentos possíveis, que todos nós crescemos.
Lanço um último olhar para o pátio do liceu: há quem jogue o ringue, salte à corda, converse. Usamos batas pretas e soquetes brancos. No primeiro andar, pelos vidros expressamente mandados pintar pela escola, os rapazes espreitam-nos. Os vidros foram expressamente riscados por eles... Os contínuos vigiam. Alguns pertencem à PIDE, diz-se. A campainha toca. Deixamos ruidosamente o recreio. Encontrar-nos-emos todos, de novo, na aula que vai começar já.
Crónica de Maria da Piedade Pinheiro Martinho publicada no jornal O Mirante em Março de 1991
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Flor-Mãe
Amamos as nossas mães quase sem o saber
e só nos damos conta da profundidade das raízes desse amor
no momento da derradeira separação.
Guy de Maupassant
Para sempre
Carlos Drummond de Andrade
http://www.youtube.com/watch?v=WQ5AFLSOO3s&NR=1
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Humor na Ciência
A receita inesperada
Há dois ou três anos, aconteceu um episódio curioso nos Estados Unidos que ilustra bem como um cientista pode divertir-se (e divertir os colegas) com as “desgraças” que lhe sucedem.
O nosso cientista (o senhor X, chamemos-lhe assim) foi jantar com a família a um restaurante. Tendo gostado muito da sobremesa -- uma especialidade da casa -- interrogou o empregado sobre a possibilidade de lhe darem a receita. O empregado disse-lhe que sim, desde que pagasse um adicional. Quanto custa? perguntou o senhor X. Resposta do empregado: Two fifty (isto é, dois e cinquenta, em dólares, bem entendido). O senhor X achou o preço convidativo, concordou com o “negócio”, pagou a conta com um cartão de crédito e foi à vida.
Uns tempos depois, recebeu o extracto do seu movimento bancário e ficou surpreendido com o montante da conta do restaurante, que lhe pareceu exagerada. Feitos uns cálculos, chegou à conclusão de que tinha pago pela receita 250 dólares. Compreendeu, então, que houvera uma confusão na interpretação da expressão abreviada do empregado: para este, dois e cinquenta eram 250 dólares, e não 2,50 dólares (100 vezes menos) como o senhor X supusera no acto da compra. Ainda reclamou junto do restaurante -- prestando-se a devolver a receita em troco dos 250 dólares, imagine-se! -- mas é claro que não havia nada a fazer...
Sem querer meter-se na confusão de querelas em tribunal ou outras, o nosso cientista acabou por encarar o sucedido com espírito desportivo, divertindo-se com a ideia de que, por aquele preço, lhe era perfeitamente lícito proporcionar ao maior número possível de colegas as delícias do doce que ele tanto apreciara no restaurante. E se bem o pensou, melhor o fez: foi ao terminal do seu computador e disseminou a história pelo mundo inteiro. Foi assim, via correio electrónico, que me chegou às mãos a receita inesperada de um restaurante dos Estados Unidos!
Há dois ou três anos, aconteceu um episódio curioso nos Estados Unidos que ilustra bem como um cientista pode divertir-se (e divertir os colegas) com as “desgraças” que lhe sucedem.
O nosso cientista (o senhor X, chamemos-lhe assim) foi jantar com a família a um restaurante. Tendo gostado muito da sobremesa -- uma especialidade da casa -- interrogou o empregado sobre a possibilidade de lhe darem a receita. O empregado disse-lhe que sim, desde que pagasse um adicional. Quanto custa? perguntou o senhor X. Resposta do empregado: Two fifty (isto é, dois e cinquenta, em dólares, bem entendido). O senhor X achou o preço convidativo, concordou com o “negócio”, pagou a conta com um cartão de crédito e foi à vida.
Uns tempos depois, recebeu o extracto do seu movimento bancário e ficou surpreendido com o montante da conta do restaurante, que lhe pareceu exagerada. Feitos uns cálculos, chegou à conclusão de que tinha pago pela receita 250 dólares. Compreendeu, então, que houvera uma confusão na interpretação da expressão abreviada do empregado: para este, dois e cinquenta eram 250 dólares, e não 2,50 dólares (100 vezes menos) como o senhor X supusera no acto da compra. Ainda reclamou junto do restaurante -- prestando-se a devolver a receita em troco dos 250 dólares, imagine-se! -- mas é claro que não havia nada a fazer...
Sem querer meter-se na confusão de querelas em tribunal ou outras, o nosso cientista acabou por encarar o sucedido com espírito desportivo, divertindo-se com a ideia de que, por aquele preço, lhe era perfeitamente lícito proporcionar ao maior número possível de colegas as delícias do doce que ele tanto apreciara no restaurante. E se bem o pensou, melhor o fez: foi ao terminal do seu computador e disseminou a história pelo mundo inteiro. Foi assim, via correio electrónico, que me chegou às mãos a receita inesperada de um restaurante dos Estados Unidos!
O glossário profundo
Circula desde há muitos anos, entre a comunidade científica, um pequeno glossário explicando o significado profundo de algumas frases correntes na literatura científica profissional. Não tendo conhecimento da existência de uma versão portuguesa deste glossário, resolvi traduzi-lo. Assim, um maior número de pessoas poderá partilhar o gozo que este ensaio de interpretação de expressões habituais em artigos científicos sempre proporciona a quem o lê.
- Sabe-se desde há muito que...: Não consegui arranjar a referência original.
- Apesar de não ter sido possível encontrar respostas categóricas para estas questões...: As experiências não deram nada, mas pensei que poderia, mesmo assim, sacar um artigo das ditas.
- Três das amostras foram escolhidas para um estudo aprofundado...: Os resultados obtidos com as outras não tinham nexo e foram postos de lado.
- Um dos espécimes danificou-se...: Deixei-o cair.
- Os detalhes perderam-se na reprodução, mas as fotografias originais mostram claramente...: Os originais também não eram nada esclarecedores.
- A concordância com a curva prevista é excelente: boa; boa: medíocre; satisfatória: duvidosa; razoável: imaginária.
- Considerando as aproximações feitas no decurso da análise, os resultados comparam-se bem com...: Não há qualquer comparação possível.
- Resultados complementares serão publicados posteriormente...: O estudante que trabalhava no assunto passou no exame final e agora procura emprego.
- Não foi possível alcançar uma conclusão definitiva...: Cortaram-nos o financiamento.
- Pensa-se que...: Eu penso que...
- Pensa-se geralmente que...: Um ou dois colegas também pensam o mesmo.
- Um trabalho considerável será necessário antes de se conseguir a compreensão completa de...: Não percebo nada disto.
- Nenhuma teoria foi ainda formulada para dar conta destes fenómenos...: Ninguém percebe nada do assunto.
- Agradeço ao Senhor Silva a ajuda prestada na parte experimental e ao Senhor Oliveira as sugestões úteis que me deu...: O Senhor Silva fez o trabalho e o Senhor Oliveira explicou-me o que significava.
Circula desde há muitos anos, entre a comunidade científica, um pequeno glossário explicando o significado profundo de algumas frases correntes na literatura científica profissional. Não tendo conhecimento da existência de uma versão portuguesa deste glossário, resolvi traduzi-lo. Assim, um maior número de pessoas poderá partilhar o gozo que este ensaio de interpretação de expressões habituais em artigos científicos sempre proporciona a quem o lê.
- Sabe-se desde há muito que...: Não consegui arranjar a referência original.
- Apesar de não ter sido possível encontrar respostas categóricas para estas questões...: As experiências não deram nada, mas pensei que poderia, mesmo assim, sacar um artigo das ditas.
- Três das amostras foram escolhidas para um estudo aprofundado...: Os resultados obtidos com as outras não tinham nexo e foram postos de lado.
- Um dos espécimes danificou-se...: Deixei-o cair.
- Os detalhes perderam-se na reprodução, mas as fotografias originais mostram claramente...: Os originais também não eram nada esclarecedores.
- A concordância com a curva prevista é excelente: boa; boa: medíocre; satisfatória: duvidosa; razoável: imaginária.
- Considerando as aproximações feitas no decurso da análise, os resultados comparam-se bem com...: Não há qualquer comparação possível.
- Resultados complementares serão publicados posteriormente...: O estudante que trabalhava no assunto passou no exame final e agora procura emprego.
- Não foi possível alcançar uma conclusão definitiva...: Cortaram-nos o financiamento.
- Pensa-se que...: Eu penso que...
- Pensa-se geralmente que...: Um ou dois colegas também pensam o mesmo.
- Um trabalho considerável será necessário antes de se conseguir a compreensão completa de...: Não percebo nada disto.
- Nenhuma teoria foi ainda formulada para dar conta destes fenómenos...: Ninguém percebe nada do assunto.
- Agradeço ao Senhor Silva a ajuda prestada na parte experimental e ao Senhor Oliveira as sugestões úteis que me deu...: O Senhor Silva fez o trabalho e o Senhor Oliveira explicou-me o que significava.
Artigo publicado no jornal O Mirante em Abril de 1995
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
domingo, 5 de dezembro de 2010
sábado, 4 de dezembro de 2010
Contra o radão, arejar, arejar!
Um familiar residente na Guarda fez-me chegar às mãos o recorte de um artigo publicado pelo jornal Terras da Beira no passado dia 11 de Janeiro, intitulado “Alta concentração de rádio na Guarda”. Lido o artigo com a atenção que ele merecia (por saber que diz respeito a um assunto que, de vez em quando, vem para as páginas dos jornais e é motivo de preocupação), pareceu-me adequado elaborar o presente texto, basicamente com três finalidades: fazer uma correcção de carácter técnico, esclarecer algumas questões de carácter científico e propor uma recomendação de carácter prático.
A correcção de carácter técnico diz respeito ao título, onde parece haver um equívoco, que se propaga, aliás, ao longo do artigo. Julgo que, onde se lê "rádio", deveria ler-se "radão". “Alta concentração de radão na Guarda” seria, pois, o título correcto. O rádio e o radão são dois elementos químicos diferentes, com propriedades distintas. O equívoco pode ter resultado de o grafismo das palavras radão e rádio ser relativamente próximo, mas não deve confundir-se uma coisa com a outra.
Sem pretender exagerar nos detalhes científicos, poderá ser útil dar a conhecer a origem do radão, bem como as suas propriedades características, para o poder “combater” com melhor conhecimento de causa.
1. Nesta problemática do radão, um elemento químico de referência é o urânio, porque é ele a origem primeira (o “pai”, digamos assim) de uma série de espécies atómicas radioactivas, onde se inclui a variedade de radão que é objecto de estudo pelos especialistas em protecção contra radiações.
2. O urânio existe na Natureza um pouco por todo o lado e, em particular, em zonas geológicas de tipo granítico. A variedade de urânio mais abundante é uma espécie atómica que se designa por urânio-238, a qual constitui mais de 99 por cento de todo o urânio natural. O urânio-238 é radioactivo, o que significa que emite, natural e espontaneamente, um certo tipo de radiação.
3. Em consequência da emissão de radiação, o urânio-238 transforma-se noutra espécie atómica radioactiva, o tório-234. O tório-234, por sua vez, também é radioactivo e, portanto, também ele emite radiação e se transforma noutra espécie atómica radioactiva, etc., etc.
4. Assim, o urânio-238 dá origem a uma família de espécies atómicas radioactivas, que começa no urânio-238 e acaba no chumbo-206, que é estável. A família radioactiva compreende, sucessivamente, o urânio-238, o tório-234, o protactínio-234, o urânio-234, o tório-230, o rádio-226, o radão-222, o polónio-208, etc., etc. e, finalmente, o chumbo-206.
5. Ora, o radão-222, descendente directo do rádio-226, é que é o “famoso” radão que constitui motivo de apreensão para as gentes beirãs. Pode perguntar-se: porquê o radão-222, em especial, e não as outras espécies atómicas radioactivas que fazem parte da família do urânio-238? No essencial, a resposta é a seguinte: o radão-222 é a única espécie atómica que é um gás (os restantes são sólidos). Em consequência, o risco para a saúde das pessoas decorre do facto de o radão-222 (que é um gás radioactivo, insiste-se) poder ser inalado e alojar-se nos pulmões. Acresce que a radiação emitida pelo radão-222 é constituída por partículas alfa, que têm um efeito localizado gravoso.
Dada esta explicação, podemos agora, sem perda de rigor, adoptar a palavra radão para significar, exactamente, a espécie atómica radioactiva designada por radão-222. Este código de entendimento tem a vantagem de simplificar a linguagem, sabendo-se no entanto do que é que se está a falar. É de admitir que o leitor esteja, nesta altura, em condições de compreender sem dificuldade as seguintes afirmações:
a) O aparecimento de radão, num determinado local, está relacionado com a existência de urânio nesse local, o qual, por sua vez, aparece associado, em particular, a zonas geológicas de tipo granítico ou à utilização de materiais graníticos.
b) Se uma casa for construída numa zona granítica, ou se as suas fundações forem em granito, ou se as paredes forem em granito, ou se for utilizada areia granítica nas fundações ou sob a forma de argamassa, então é muito provável que o radão apareça no interior dessa casa em concentrações mais ou menos elevadas, sobretudo ao nível de caves ou do piso térreo.
c) O radão constitui um factor de risco para a saúde porque é um gás radioactivo, e porque, se existir em concentrações elevadas no ar que respiramos, pode ser nocivo para os pulmões.
Finalmente, a recomendação de carácter prático. Se o leitor tiver uma casa que, no todo ou em parte, corresponda à descrição feita acima, há uma medida preventiva simples que se impõe tomar: areje a casa, areje a casa o mais possível. Abra as janelas, faça circular o ar, deixe que o ar do exterior substitua o ar interior de sua casa. Com a simples renovação do ar, consegue-se normalmente fazer baixar a concentração de radão para níveis razoáveis. É claro que esta é uma medida preventiva de efeito imediato, mas ela não exclui, obviamente, o interesse de um aconselhamento específico junto de quem possa prestar apoio técnico-científico apropriado. [Consultar http://www.itn.pt/ (Unidade de Protecção e Segurança Radiológica)]
Artigo publicado no jornal Terras da Beira em 25 de Janeiro de 2001
A correcção de carácter técnico diz respeito ao título, onde parece haver um equívoco, que se propaga, aliás, ao longo do artigo. Julgo que, onde se lê "rádio", deveria ler-se "radão". “Alta concentração de radão na Guarda” seria, pois, o título correcto. O rádio e o radão são dois elementos químicos diferentes, com propriedades distintas. O equívoco pode ter resultado de o grafismo das palavras radão e rádio ser relativamente próximo, mas não deve confundir-se uma coisa com a outra.
Sem pretender exagerar nos detalhes científicos, poderá ser útil dar a conhecer a origem do radão, bem como as suas propriedades características, para o poder “combater” com melhor conhecimento de causa.
1. Nesta problemática do radão, um elemento químico de referência é o urânio, porque é ele a origem primeira (o “pai”, digamos assim) de uma série de espécies atómicas radioactivas, onde se inclui a variedade de radão que é objecto de estudo pelos especialistas em protecção contra radiações.
2. O urânio existe na Natureza um pouco por todo o lado e, em particular, em zonas geológicas de tipo granítico. A variedade de urânio mais abundante é uma espécie atómica que se designa por urânio-238, a qual constitui mais de 99 por cento de todo o urânio natural. O urânio-238 é radioactivo, o que significa que emite, natural e espontaneamente, um certo tipo de radiação.
3. Em consequência da emissão de radiação, o urânio-238 transforma-se noutra espécie atómica radioactiva, o tório-234. O tório-234, por sua vez, também é radioactivo e, portanto, também ele emite radiação e se transforma noutra espécie atómica radioactiva, etc., etc.
4. Assim, o urânio-238 dá origem a uma família de espécies atómicas radioactivas, que começa no urânio-238 e acaba no chumbo-206, que é estável. A família radioactiva compreende, sucessivamente, o urânio-238, o tório-234, o protactínio-234, o urânio-234, o tório-230, o rádio-226, o radão-222, o polónio-208, etc., etc. e, finalmente, o chumbo-206.
5. Ora, o radão-222, descendente directo do rádio-226, é que é o “famoso” radão que constitui motivo de apreensão para as gentes beirãs. Pode perguntar-se: porquê o radão-222, em especial, e não as outras espécies atómicas radioactivas que fazem parte da família do urânio-238? No essencial, a resposta é a seguinte: o radão-222 é a única espécie atómica que é um gás (os restantes são sólidos). Em consequência, o risco para a saúde das pessoas decorre do facto de o radão-222 (que é um gás radioactivo, insiste-se) poder ser inalado e alojar-se nos pulmões. Acresce que a radiação emitida pelo radão-222 é constituída por partículas alfa, que têm um efeito localizado gravoso.
Dada esta explicação, podemos agora, sem perda de rigor, adoptar a palavra radão para significar, exactamente, a espécie atómica radioactiva designada por radão-222. Este código de entendimento tem a vantagem de simplificar a linguagem, sabendo-se no entanto do que é que se está a falar. É de admitir que o leitor esteja, nesta altura, em condições de compreender sem dificuldade as seguintes afirmações:
a) O aparecimento de radão, num determinado local, está relacionado com a existência de urânio nesse local, o qual, por sua vez, aparece associado, em particular, a zonas geológicas de tipo granítico ou à utilização de materiais graníticos.
b) Se uma casa for construída numa zona granítica, ou se as suas fundações forem em granito, ou se as paredes forem em granito, ou se for utilizada areia granítica nas fundações ou sob a forma de argamassa, então é muito provável que o radão apareça no interior dessa casa em concentrações mais ou menos elevadas, sobretudo ao nível de caves ou do piso térreo.
c) O radão constitui um factor de risco para a saúde porque é um gás radioactivo, e porque, se existir em concentrações elevadas no ar que respiramos, pode ser nocivo para os pulmões.
Finalmente, a recomendação de carácter prático. Se o leitor tiver uma casa que, no todo ou em parte, corresponda à descrição feita acima, há uma medida preventiva simples que se impõe tomar: areje a casa, areje a casa o mais possível. Abra as janelas, faça circular o ar, deixe que o ar do exterior substitua o ar interior de sua casa. Com a simples renovação do ar, consegue-se normalmente fazer baixar a concentração de radão para níveis razoáveis. É claro que esta é uma medida preventiva de efeito imediato, mas ela não exclui, obviamente, o interesse de um aconselhamento específico junto de quem possa prestar apoio técnico-científico apropriado. [Consultar http://www.itn.pt/ (Unidade de Protecção e Segurança Radiológica)]
Artigo publicado no jornal Terras da Beira em 25 de Janeiro de 2001
Distribuição das doses médias recebidas pela população mundial devidas a fontes de radiação naturais e artificiais. Note-se que o radão (radiação natural) é responsável por quase metade da dose total (48,3%) .
Ilustração in “Energia Nuclear – Mitos e Realidades” de Jaime Oliveira e Eduardo Martinho
Edição O MIRANTE, 2000 (200 págs.)
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Flamingos pousados sobre um pé
O Íbis, ave do Egipto,
pousa sempre sobre um pé
(o que é esquisito).
É uma ave sossegada
porque assim não anda nada.
(...)
Fernando Pessoa
pousa sempre sobre um pé
(o que é esquisito).
É uma ave sossegada
porque assim não anda nada.
(...)
Fernando Pessoa
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Fernando Pessoa morreu há 75 anos
Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre. Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida.
Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nas cartas que trocaremos. Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...
Aí, os dias vão passar, meses... anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro. Vamo-nos perder no tempo...
Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão: Quem são aquelas pessoas?
Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto! Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...
Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo. E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos. Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado. E perder-nos-emos no tempo...
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: Não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Fernando Pessoa
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Hoje foi só o susto...
15 de Agosto, praia de Santa Cruz. Os que vêm para passar o feriado, juntam-se aos veraneantes habituais. Chegam cedo e, no meio de grande alarido, lá se vão instalando com a família. Trazem cestos, sacos, colchões, bolas, raquetes. As crianças ensaiam as primeiras traquinices. Os grandes gritam e prometem estalos, mas as brincadeiras vão durar todo o dia.
O mar está agitado. A bandeira vermelha balouça no mastro, informando os banhistas do perigo. O calor aperta, a água tenta e sempre acontecem acidentes. Alguns «habitués» postam-se defronte ao mar e aguardam, não se sabe bem o quê, mas aguardam.
De repente soa o alarme: alguém pede socorro. O alvoroço toma conta das gentes: uns correm esbaforidos, outros quedam-se e comentam. Há mesmo uma senhora que chora! Concentram-se no ponto, à beira-mar, mais próximo do sinistrado. No meio de toda a confusão gerada neste dia quente de Agosto, o banheiro atira-se à água para socorrer o incauto. Enquanto isso, mais gente corre pelo areal. Passam por nós duas mulheres: uma disforme, de carnes balofas, a outra mais jovem, com um dos seios esvoaçando ao léu. Soltara-se-lhe o fato de banho sem que disso se tenha apercebido! Todos rimos.
Entretanto, acalmam-se os ânimos. Chegam notícias.
- Já está!
- Está morto? - indaga a senhora que chorava.
- Não, foi só o susto.
Até ao fim do dia o assunto será este.
Encerra-se assim a festa do dia 15 de Agosto, aqui na praia de Santa Cruz. As famílias retiram-se com pena, arrastando os putos que, vencidos pelo cansaço, dão por terminadas as brincadeiras. O mar vai continuar revolto. A bandeira vermelha lá estará flutuando ao vento, amanhã e talvez até ao próximo fim-de-semana, e os incautos voltarão.
Crónica de Maria da Piedade Pinheiro Martinho publicada no jornal O Mirante em Agosto de 1989
O mar está agitado. A bandeira vermelha balouça no mastro, informando os banhistas do perigo. O calor aperta, a água tenta e sempre acontecem acidentes. Alguns «habitués» postam-se defronte ao mar e aguardam, não se sabe bem o quê, mas aguardam.
De repente soa o alarme: alguém pede socorro. O alvoroço toma conta das gentes: uns correm esbaforidos, outros quedam-se e comentam. Há mesmo uma senhora que chora! Concentram-se no ponto, à beira-mar, mais próximo do sinistrado. No meio de toda a confusão gerada neste dia quente de Agosto, o banheiro atira-se à água para socorrer o incauto. Enquanto isso, mais gente corre pelo areal. Passam por nós duas mulheres: uma disforme, de carnes balofas, a outra mais jovem, com um dos seios esvoaçando ao léu. Soltara-se-lhe o fato de banho sem que disso se tenha apercebido! Todos rimos.
Entretanto, acalmam-se os ânimos. Chegam notícias.
- Já está!
- Está morto? - indaga a senhora que chorava.
- Não, foi só o susto.
Até ao fim do dia o assunto será este.
Encerra-se assim a festa do dia 15 de Agosto, aqui na praia de Santa Cruz. As famílias retiram-se com pena, arrastando os putos que, vencidos pelo cansaço, dão por terminadas as brincadeiras. O mar vai continuar revolto. A bandeira vermelha lá estará flutuando ao vento, amanhã e talvez até ao próximo fim-de-semana, e os incautos voltarão.
Crónica de Maria da Piedade Pinheiro Martinho publicada no jornal O Mirante em Agosto de 1989
domingo, 28 de novembro de 2010
sábado, 27 de novembro de 2010
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Ainda a greve geral
No passado mês de Março [1988], como é sabido, ocorreu um acontecimento significativo no nosso País: pela primeira vez, as duas centrais sindicais (União Geral de Trabalhadores e Confederação Geral de Trabalhadores Portugueses) convocaram uma greve geral para o mesmo dia, em manifestação de discordância em relação à última versão da chamada “lei dos despedimentos” proposta pelo Governo. Dir-se-á que já está tudo dito sobre esta matéria. Talvez, depende do ponto de vista. De qualquer modo, parece adequado deixar registado o facto nesta coluna, para que conste da memória colectiva deste Jornal. Uma forma de registo possível teria por base a recolha de afirmações e de passagens de escritos produzidos sobre o acontecimento e suas repercussões. Foi esta a opção seguida.
O Governo não se senta mais à mesa das negociações.
António Capucho, ministro, 26-03-88
Foi a maior greve geral da história do movimento operário português.
Carvalho da Silva, coordenador-geral da CGTP, 28-03-88
Se há greve, eu não a notei. E se a greve é geral, muito menos; tão-pouco parcial. Eu diria, quando muito, parcialíssima.
Cavaco Silva, primeiro-ministro, 28-03-88
A adesão foi superior a 80 por cento, o que envolve mais de 1,7 milhões de trabalhadores.
Torres Couto, secretário-geral da UGT, 29-03-88
Em relação a 80 por cento do País, a greve passou despercebida.
Cavaco Silva, primeiro-ministro, 29-03-88).
A chamada greve geral não passou de um acontecimento efémero, algo que se esgotou num dia e que, portanto, pertence ao passado.
Fernando Nogueira, porta-voz do Conselho de Ministros, 31-03-88
Mesmo aqueles que não aderiram à greve geral de segunda-feira passada deverão reconhecer que a greve ultrapassou as expectativas. Goste-se ou não da UGT e da Intersindical, o facto é que a mensagem das centrais sindicais “passou”: ou seja, muitos trabalhadores convenceram-se de que, caso o pacote laboral venha a ser aprovado, os seus empregos ficarão em risco.
José António Saraiva, Expresso, 01-04-88
Não posso corroborar ou infirmar os números divulgados pelos sindicatos. Alguma imprensa internacional tomou-os por bons, mas a maior parte da que eu li deu-lhes desconto em grau variável. O que eu não encontrei foi um jornal, americano ou europeu, que desse qualquer crédito aos números do Governo.
Mas o facto de o Governo ter, ele próprio, sucumbido à tentação das ameaças tornou imprecisas as fronteiras entre as condutas de cada um. E muitos dos que discordaram da greve queriam vê-la vencida por argumentos e meios limpos, e não por corrupções e ameaças.
Nuno Brederode Santos, Expresso, 16-04-88
E se os deputados do PSD não quiserem, como é natural que não queiram, remeter-se à incómoda função de “caixas de ressonância” do Governo, as consequências desta greve não deixarão de se fazer sentir no formato e na embalagem exterior, mas também no conteúdo, do “pacote laboral” que esteve na origem da acção grevista.
José Silva Pinto, O Jornal, 31-03-88
Intransigente, a bancada do PSD inviabilizou as mais de 70 propostas de alteração do pacote laboral do Governo apresentadas pela oposição. A bancada da maioria apenas foi flexível consigo própria, ao introduzir duas alterações e um aditamento ao texto do Executivo. E assim, horas e horas a fio, a oposição viu gorados todos os seus esforços para alterar um vírgula do texto.
Jerónimo Pimentel, Expresso, 16-03-88
Dizem uns:
«Não tiro nem uma vírgula!»
Dizem outros:
«Não cedo nem um milímetro!»
Não tirar nem uma vírgula é o primeiro passo para não tirar nem uma palavra. E, depois, um período. E, depois, um parágrafo. E, depois, uma página. E, por fim, o que quer que seja. Justamente, não tirar nem uma vírgula é não tirar coisa nenhuma.
Tal como não ceder nem um milímetro é o primeiro passo para não ceder nem um centímetro. E, depois, um metro. E, depois, um quilómetro. E, por fim, o que quer que seja. Precisamente, não ceder nem um milímetro é não ceder coisa nenhuma.
Mal vai o regime que se corta em arestas e se talha em abismos. Não é um regime, é uma pedreira.
Mal vai o regime que baliza as fronteiras da sua vontade, da sua acção, da sua afirmação, em vírgulas finais e em milímetros definitivos. Não é um regime, é um medo sitiado.
Ou é um totalitarismo ou não é, sequer formalmente, uma democracia.
Artur Portela, Diário de Notícias, 11-04-88
Artigo publicado no jornal O Mirante em Abril de 1988
Ilustração in http://cadernosemcapa.blogspot.com/2010/11/greve-geral-24-de-novembro-4.html
O Governo não se senta mais à mesa das negociações.
António Capucho, ministro, 26-03-88
Foi a maior greve geral da história do movimento operário português.
Carvalho da Silva, coordenador-geral da CGTP, 28-03-88
Se há greve, eu não a notei. E se a greve é geral, muito menos; tão-pouco parcial. Eu diria, quando muito, parcialíssima.
Cavaco Silva, primeiro-ministro, 28-03-88
A adesão foi superior a 80 por cento, o que envolve mais de 1,7 milhões de trabalhadores.
Torres Couto, secretário-geral da UGT, 29-03-88
Em relação a 80 por cento do País, a greve passou despercebida.
Cavaco Silva, primeiro-ministro, 29-03-88).
A chamada greve geral não passou de um acontecimento efémero, algo que se esgotou num dia e que, portanto, pertence ao passado.
Fernando Nogueira, porta-voz do Conselho de Ministros, 31-03-88
Mesmo aqueles que não aderiram à greve geral de segunda-feira passada deverão reconhecer que a greve ultrapassou as expectativas. Goste-se ou não da UGT e da Intersindical, o facto é que a mensagem das centrais sindicais “passou”: ou seja, muitos trabalhadores convenceram-se de que, caso o pacote laboral venha a ser aprovado, os seus empregos ficarão em risco.
José António Saraiva, Expresso, 01-04-88
Não posso corroborar ou infirmar os números divulgados pelos sindicatos. Alguma imprensa internacional tomou-os por bons, mas a maior parte da que eu li deu-lhes desconto em grau variável. O que eu não encontrei foi um jornal, americano ou europeu, que desse qualquer crédito aos números do Governo.
Mas o facto de o Governo ter, ele próprio, sucumbido à tentação das ameaças tornou imprecisas as fronteiras entre as condutas de cada um. E muitos dos que discordaram da greve queriam vê-la vencida por argumentos e meios limpos, e não por corrupções e ameaças.
Nuno Brederode Santos, Expresso, 16-04-88
E se os deputados do PSD não quiserem, como é natural que não queiram, remeter-se à incómoda função de “caixas de ressonância” do Governo, as consequências desta greve não deixarão de se fazer sentir no formato e na embalagem exterior, mas também no conteúdo, do “pacote laboral” que esteve na origem da acção grevista.
José Silva Pinto, O Jornal, 31-03-88
Intransigente, a bancada do PSD inviabilizou as mais de 70 propostas de alteração do pacote laboral do Governo apresentadas pela oposição. A bancada da maioria apenas foi flexível consigo própria, ao introduzir duas alterações e um aditamento ao texto do Executivo. E assim, horas e horas a fio, a oposição viu gorados todos os seus esforços para alterar um vírgula do texto.
Jerónimo Pimentel, Expresso, 16-03-88
Dizem uns:
«Não tiro nem uma vírgula!»
Dizem outros:
«Não cedo nem um milímetro!»
Não tirar nem uma vírgula é o primeiro passo para não tirar nem uma palavra. E, depois, um período. E, depois, um parágrafo. E, depois, uma página. E, por fim, o que quer que seja. Justamente, não tirar nem uma vírgula é não tirar coisa nenhuma.
Tal como não ceder nem um milímetro é o primeiro passo para não ceder nem um centímetro. E, depois, um metro. E, depois, um quilómetro. E, por fim, o que quer que seja. Precisamente, não ceder nem um milímetro é não ceder coisa nenhuma.
Mal vai o regime que se corta em arestas e se talha em abismos. Não é um regime, é uma pedreira.
Mal vai o regime que baliza as fronteiras da sua vontade, da sua acção, da sua afirmação, em vírgulas finais e em milímetros definitivos. Não é um regime, é um medo sitiado.
Ou é um totalitarismo ou não é, sequer formalmente, uma democracia.
Artur Portela, Diário de Notícias, 11-04-88
Artigo publicado no jornal O Mirante em Abril de 1988
Ilustração in http://cadernosemcapa.blogspot.com/2010/11/greve-geral-24-de-novembro-4.html
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Rómulo de Carvalho, um Professor de referência
No passado dia 24 de Novembro [1996], Rómulo de Carvalho completou 90 anos. O JL/Educação dedicou grande parte do número de 6 de Novembro a esta efeméride. Aí fui encontrar uma bela entrevista com este insigne Homem de Ciência, um «Professor, pedagogo, historiador e divulgador da Ciência, tudo em nome do Ensino», como bem prefaciou a jornalista Maria Leonor Nunes. A par da entrevista, foi também com prazer que li o testemunho eloquente de alguns amigos meus, como é o caso de Rui Namorado Rosa, João Caraça e Artur Marques da Costa. Também o José Niza, que conheci em Santarém em meados dos anos cinquenta (quando éramos alunos do ensino secundário, ele no Liceu Sá da Bandeira e eu no Externato Braamcamp Freire) se associou à homenagem, mas na qualidade de compositor que musicou vários poemas do Poeta, António Gedeão, que Rómulo de Carvalho também é. Escreveu José Niza, em imagem feliz: «Quem conheça o seu belo poema “Lágrima de Preta” perceberá como se pode criar poesia num laboratório e fazer a fusão das palavras com os reagentes».
Pessoalmente, no que se refere à obra poética de António Gedeão, vem da década de sessenta a descoberta do «Poema para Galileu», pela voz do incomparável Mário Viegas, e a fruição das suas «Poesias Completas». E, impressionado pela beleza ritmada das suas palavras, não deixei passar ao lado a oportunidade de enriquecer o livro com o autógrafo do Poeta, o que consegui através do seu filho, Frederico Carvalho, de quem sou colega há 35 anos, desde que fui para o laboratório da ex-Junta de Energia Nuclear, em Sacavém.
Ao ler a entrevista de Rómulo de Carvalho, lembrei-me das muitas horas que passei no jardim das Portas do Sol às voltas com o seu «Compêndio de Química para o 3.º ciclo», aquando da preparação para o exame do 7.º ano de então. Ainda hoje, quarenta anos depois, tenho bem viva a impressão da enorme clareza do seu livro. Quase poderia dizer, sem exagerar grandemente, que o que sei dos fundamentos da química orgânica, por exemplo, vem desse tempo. Mas Rómulo de Carvalho, além de Professor que despertou muitas vocações, é também um grande divulgador de Ciência. A sua «Física para o Povo», por exemplo, ocupa um lugar destacado nas minhas estantes. Espero poder oferecê-la, um dia, ao meu neto.
NOTA - Na sequência da publicação deste artigo, recebi a seguinte mensagem do Doutor Rómulo de Carvalho (cujo aniversário do nascimento se celebra hoje):
Consultar http://www.romulodecarvalho.net/
Pessoalmente, no que se refere à obra poética de António Gedeão, vem da década de sessenta a descoberta do «Poema para Galileu», pela voz do incomparável Mário Viegas, e a fruição das suas «Poesias Completas». E, impressionado pela beleza ritmada das suas palavras, não deixei passar ao lado a oportunidade de enriquecer o livro com o autógrafo do Poeta, o que consegui através do seu filho, Frederico Carvalho, de quem sou colega há 35 anos, desde que fui para o laboratório da ex-Junta de Energia Nuclear, em Sacavém.
Ao ler a entrevista de Rómulo de Carvalho, lembrei-me das muitas horas que passei no jardim das Portas do Sol às voltas com o seu «Compêndio de Química para o 3.º ciclo», aquando da preparação para o exame do 7.º ano de então. Ainda hoje, quarenta anos depois, tenho bem viva a impressão da enorme clareza do seu livro. Quase poderia dizer, sem exagerar grandemente, que o que sei dos fundamentos da química orgânica, por exemplo, vem desse tempo. Mas Rómulo de Carvalho, além de Professor que despertou muitas vocações, é também um grande divulgador de Ciência. A sua «Física para o Povo», por exemplo, ocupa um lugar destacado nas minhas estantes. Espero poder oferecê-la, um dia, ao meu neto.
Deixando de lado as memórias (que recordar também é viver), são dois os propósitos que me levam a escrever estas linhas. O primeiro, consiste em associarmo-nos, eu próprio e O Mirante, à homenagem nacional a Rómulo de Carvalho, em boa hora promovida pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia por ocasião do seu nonagésimo aniversário. O segundo, resulta do interesse de levar até aos leitores do jornal (aos professores, em especial) as passagens da entrevista em que Rómulo de Carvalho se refere ao Ensino. Assim, passo a transcrever livremente o que julgo ser o essencial do seu pensamento sobre este tópico.
«(...) o ensino, que agora é posto como estando numa situação caótica, sempre esteve assim. Sempre foi muito mau, em todo o tempo. Agora, põe-se mais em relevo essa situação, dada a facilidade que os estudantes têm em manifestar o seu descontentamento.
A que se deve essa má qualidade do ensino?
Os alunos, como jovens que são, naturalmente não lhes agrada estarem presos numa aula. O professor tem de ter qualidades muito humanas e saber expressar-se, manifestar as suas ideias. Os alunos agradam-se disso. Tal como deliram com as experiências. Mas muitos professores não escolhem a profissão por vocação. E não se sentem à vontade, porque isto de aturar meninos, enfim... Claro que não estando os alunos nem os professores vocacionados para as suas funções, daí resulta uma inquietação, porque não se ajustam uns aos outros. E as coisas não podem correr bem. Sempre vi professores saírem das aulas e respirarem de alívio, ao chegarem à sala dos professores, por se terem livrado daquela corja.
Isso nunca lhe acontecia?
Não. Não só as aulas como os intervalos eram todos gastos com eles. E, pelo que parece, eles gostaram. Até mesmo aqueles que só me puderam conhecer pelo que escrevi, me agradecem o que fiz por eles. Tenho razões para morrer tranquilo. Fartei-me de trabalhar, sabe, fartei-me de trabalhar. E enquanto os médicos ou os advogados são considerados, citados na imprensa, os professores não. Não são colocados no lugar que lhes é devido.
Qual a linha orientadora da sua acção como professor?
Naturalmente, interessar os alunos pelas coisas da vida. E a Ciência presta-se para esse efeito. De modo que lhe recorria, frequentemente, para lhes abrir os olhos, fazê-los entender as coisas que convém serem feitas. Mas isso não é coisa que os professores aprendam nas escolas, quando estão a preparar-se para a profissão. É uma coisa natural, mas que dava resultados. Com isto não quero vangloriar-me...
Referiu-se ao entusiasmo que suscitavam as experiências laboratoriais. Essa sua prática não era corrente na época?
Não seria o único, mas raros seriam os que o faziam. Falar apenas certamente faria adormecer os alunos. Convinha ilustrar aquilo que se dizia. E as experiências são muito atraentes. Além daquilo que se quer provar, há sempre pormenores, coisas originais que os alunos vão descobrindo. Acho que o recurso à experiência é fundamental para o ensino. Pelo menos na Física e na Química. Se eu apenas falasse de teoria, os alunos podiam seguir com algum interesse, mas com certeza que as pálpebras acabariam por começar a pesar... Eu mesmo imaginei muito material para as minhas experiências. Quando estava no Pedro Nunes, pedi ao reitor que pusesse uma mesa de carpinteiro no laboratório de Física. Construía muitos objectos necessários que não havia no liceu. E imaginava outros.»
Por estas palavras (e pela sua Obra, claro), se percebe por que razão Rómulo de Carvalho é, e continuará a ser, um Professor de referência. Permita-se-me que sublinhe o que se segue, como mensagem a ponderar. Diz Rómulo de Carvalho que a aptidão para o ensino «não é coisa que os professores aprendam nas escolas, quando estão a preparar-se para a profissão, é uma coisa natural», mas também diz (desabafa?) «fartei-me de trabalhar, sabe, fartei-me de trabalhar.» Por analogia com o que é habitual afirmarem poetas, músicos, pintores e outros artistas do fruto do seu labor, tenho para mim que o que Rómulo de Carvalho nos quer dizer é isto: Na base do êxito de um professor, está a vocação, mas é imprescindível muita transpiração!
«(...) o ensino, que agora é posto como estando numa situação caótica, sempre esteve assim. Sempre foi muito mau, em todo o tempo. Agora, põe-se mais em relevo essa situação, dada a facilidade que os estudantes têm em manifestar o seu descontentamento.
A que se deve essa má qualidade do ensino?
Os alunos, como jovens que são, naturalmente não lhes agrada estarem presos numa aula. O professor tem de ter qualidades muito humanas e saber expressar-se, manifestar as suas ideias. Os alunos agradam-se disso. Tal como deliram com as experiências. Mas muitos professores não escolhem a profissão por vocação. E não se sentem à vontade, porque isto de aturar meninos, enfim... Claro que não estando os alunos nem os professores vocacionados para as suas funções, daí resulta uma inquietação, porque não se ajustam uns aos outros. E as coisas não podem correr bem. Sempre vi professores saírem das aulas e respirarem de alívio, ao chegarem à sala dos professores, por se terem livrado daquela corja.
Isso nunca lhe acontecia?
Não. Não só as aulas como os intervalos eram todos gastos com eles. E, pelo que parece, eles gostaram. Até mesmo aqueles que só me puderam conhecer pelo que escrevi, me agradecem o que fiz por eles. Tenho razões para morrer tranquilo. Fartei-me de trabalhar, sabe, fartei-me de trabalhar. E enquanto os médicos ou os advogados são considerados, citados na imprensa, os professores não. Não são colocados no lugar que lhes é devido.
Qual a linha orientadora da sua acção como professor?
Naturalmente, interessar os alunos pelas coisas da vida. E a Ciência presta-se para esse efeito. De modo que lhe recorria, frequentemente, para lhes abrir os olhos, fazê-los entender as coisas que convém serem feitas. Mas isso não é coisa que os professores aprendam nas escolas, quando estão a preparar-se para a profissão. É uma coisa natural, mas que dava resultados. Com isto não quero vangloriar-me...
Referiu-se ao entusiasmo que suscitavam as experiências laboratoriais. Essa sua prática não era corrente na época?
Não seria o único, mas raros seriam os que o faziam. Falar apenas certamente faria adormecer os alunos. Convinha ilustrar aquilo que se dizia. E as experiências são muito atraentes. Além daquilo que se quer provar, há sempre pormenores, coisas originais que os alunos vão descobrindo. Acho que o recurso à experiência é fundamental para o ensino. Pelo menos na Física e na Química. Se eu apenas falasse de teoria, os alunos podiam seguir com algum interesse, mas com certeza que as pálpebras acabariam por começar a pesar... Eu mesmo imaginei muito material para as minhas experiências. Quando estava no Pedro Nunes, pedi ao reitor que pusesse uma mesa de carpinteiro no laboratório de Física. Construía muitos objectos necessários que não havia no liceu. E imaginava outros.»
Por estas palavras (e pela sua Obra, claro), se percebe por que razão Rómulo de Carvalho é, e continuará a ser, um Professor de referência. Permita-se-me que sublinhe o que se segue, como mensagem a ponderar. Diz Rómulo de Carvalho que a aptidão para o ensino «não é coisa que os professores aprendam nas escolas, quando estão a preparar-se para a profissão, é uma coisa natural», mas também diz (desabafa?) «fartei-me de trabalhar, sabe, fartei-me de trabalhar.» Por analogia com o que é habitual afirmarem poetas, músicos, pintores e outros artistas do fruto do seu labor, tenho para mim que o que Rómulo de Carvalho nos quer dizer é isto: Na base do êxito de um professor, está a vocação, mas é imprescindível muita transpiração!
Artigo publicado no jornal O Mirante em 27 de Novembro de 1996.
NOTA - Na sequência da publicação deste artigo, recebi a seguinte mensagem do Doutor Rómulo de Carvalho (cujo aniversário do nascimento se celebra hoje):
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