Há dois ou três anos, aconteceu um episódio curioso nos Estados Unidos que ilustra bem como um cientista pode divertir-se (e divertir os colegas) com as “desgraças” que lhe sucedem.
O nosso cientista (o senhor X, chamemos-lhe assim) foi jantar com a família a um restaurante. Tendo gostado muito da sobremesa -- uma especialidade da casa -- interrogou o empregado sobre a possibilidade de lhe darem a receita. O empregado disse-lhe que sim, desde que pagasse um adicional. Quanto custa? perguntou o senhor X. Resposta do empregado: Two fifty (isto é, dois e cinquenta, em dólares, bem entendido). O senhor X achou o preço convidativo, concordou com o “negócio”, pagou a conta com um cartão de crédito e foi à vida.
Uns tempos depois, recebeu o extracto do seu movimento bancário e ficou surpreendido com o montante da conta do restaurante, que lhe pareceu exagerada. Feitos uns cálculos, chegou à conclusão de que tinha pago pela receita 250 dólares. Compreendeu, então, que houvera uma confusão na interpretação da expressão abreviada do empregado: para este, dois e cinquenta eram 250 dólares, e não 2,50 dólares (100 vezes menos) como o senhor X supusera no acto da compra. Ainda reclamou junto do restaurante -- prestando-se a devolver a receita em troco dos 250 dólares, imagine-se! -- mas é claro que não havia nada a fazer...
Sem querer meter-se na confusão de querelas em tribunal ou outras, o nosso cientista acabou por encarar o sucedido com espírito desportivo, divertindo-se com a ideia de que, por aquele preço, lhe era perfeitamente lícito proporcionar ao maior número possível de colegas as delícias do doce que ele tanto apreciara no restaurante. E se bem o pensou, melhor o fez: foi ao terminal do seu computador e disseminou a história pelo mundo inteiro. Foi assim, via correio electrónico, que me chegou às mãos a receita inesperada de um restaurante dos Estados Unidos!
O glossário profundo
Circula desde há muitos anos, entre a comunidade científica, um pequeno glossário explicando o significado profundo de algumas frases correntes na literatura científica profissional. Não tendo conhecimento da existência de uma versão portuguesa deste glossário, resolvi traduzi-lo. Assim, um maior número de pessoas poderá partilhar o gozo que este ensaio de interpretação de expressões habituais em artigos científicos sempre proporciona a quem o lê.
- Sabe-se desde há muito que...: Não consegui arranjar a referência original.
- Apesar de não ter sido possível encontrar respostas categóricas para estas questões...: As experiências não deram nada, mas pensei que poderia, mesmo assim, sacar um artigo das ditas.
- Três das amostras foram escolhidas para um estudo aprofundado...: Os resultados obtidos com as outras não tinham nexo e foram postos de lado.
- Um dos espécimes danificou-se...: Deixei-o cair.
- Os detalhes perderam-se na reprodução, mas as fotografias originais mostram claramente...: Os originais também não eram nada esclarecedores.
- A concordância com a curva prevista é excelente: boa; boa: medíocre; satisfatória: duvidosa; razoável: imaginária.
- Considerando as aproximações feitas no decurso da análise, os resultados comparam-se bem com...: Não há qualquer comparação possível.
- Resultados complementares serão publicados posteriormente...: O estudante que trabalhava no assunto passou no exame final e agora procura emprego.
- Não foi possível alcançar uma conclusão definitiva...: Cortaram-nos o financiamento.
- Pensa-se que...: Eu penso que...
- Pensa-se geralmente que...: Um ou dois colegas também pensam o mesmo.
- Um trabalho considerável será necessário antes de se conseguir a compreensão completa de...: Não percebo nada disto.
- Nenhuma teoria foi ainda formulada para dar conta destes fenómenos...: Ninguém percebe nada do assunto.
- Agradeço ao Senhor Silva a ajuda prestada na parte experimental e ao Senhor Oliveira as sugestões úteis que me deu...: O Senhor Silva fez o trabalho e o Senhor Oliveira explicou-me o que significava.
Circula desde há muitos anos, entre a comunidade científica, um pequeno glossário explicando o significado profundo de algumas frases correntes na literatura científica profissional. Não tendo conhecimento da existência de uma versão portuguesa deste glossário, resolvi traduzi-lo. Assim, um maior número de pessoas poderá partilhar o gozo que este ensaio de interpretação de expressões habituais em artigos científicos sempre proporciona a quem o lê.
- Sabe-se desde há muito que...: Não consegui arranjar a referência original.
- Apesar de não ter sido possível encontrar respostas categóricas para estas questões...: As experiências não deram nada, mas pensei que poderia, mesmo assim, sacar um artigo das ditas.
- Três das amostras foram escolhidas para um estudo aprofundado...: Os resultados obtidos com as outras não tinham nexo e foram postos de lado.
- Um dos espécimes danificou-se...: Deixei-o cair.
- Os detalhes perderam-se na reprodução, mas as fotografias originais mostram claramente...: Os originais também não eram nada esclarecedores.
- A concordância com a curva prevista é excelente: boa; boa: medíocre; satisfatória: duvidosa; razoável: imaginária.
- Considerando as aproximações feitas no decurso da análise, os resultados comparam-se bem com...: Não há qualquer comparação possível.
- Resultados complementares serão publicados posteriormente...: O estudante que trabalhava no assunto passou no exame final e agora procura emprego.
- Não foi possível alcançar uma conclusão definitiva...: Cortaram-nos o financiamento.
- Pensa-se que...: Eu penso que...
- Pensa-se geralmente que...: Um ou dois colegas também pensam o mesmo.
- Um trabalho considerável será necessário antes de se conseguir a compreensão completa de...: Não percebo nada disto.
- Nenhuma teoria foi ainda formulada para dar conta destes fenómenos...: Ninguém percebe nada do assunto.
- Agradeço ao Senhor Silva a ajuda prestada na parte experimental e ao Senhor Oliveira as sugestões úteis que me deu...: O Senhor Silva fez o trabalho e o Senhor Oliveira explicou-me o que significava.
Artigo publicado no jornal O Mirante em Abril de 1995
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