O mar está agitado. A bandeira vermelha balouça no mastro, informando os banhistas do perigo. O calor aperta, a água tenta e sempre acontecem acidentes. Alguns «habitués» postam-se defronte ao mar e aguardam, não se sabe bem o quê, mas aguardam.
De repente soa o alarme: alguém pede socorro. O alvoroço toma conta das gentes: uns correm esbaforidos, outros quedam-se e comentam. Há mesmo uma senhora que chora! Concentram-se no ponto, à beira-mar, mais próximo do sinistrado. No meio de toda a confusão gerada neste dia quente de Agosto, o banheiro atira-se à água para socorrer o incauto. Enquanto isso, mais gente corre pelo areal. Passam por nós duas mulheres: uma disforme, de carnes balofas, a outra mais jovem, com um dos seios esvoaçando ao léu. Soltara-se-lhe o fato de banho sem que disso se tenha apercebido! Todos rimos.
Entretanto, acalmam-se os ânimos. Chegam notícias.
- Já está!
- Está morto? - indaga a senhora que chorava.
- Não, foi só o susto.
Até ao fim do dia o assunto será este.
Encerra-se assim a festa do dia 15 de Agosto, aqui na praia de Santa Cruz. As famílias retiram-se com pena, arrastando os putos que, vencidos pelo cansaço, dão por terminadas as brincadeiras. O mar vai continuar revolto. A bandeira vermelha lá estará flutuando ao vento, amanhã e talvez até ao próximo fim-de-semana, e os incautos voltarão.
Crónica de Maria da Piedade Pinheiro Martinho publicada no jornal O Mirante em Agosto de 1989
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