segunda-feira, 28 de abril de 2014

In Memoriam Vasco Graça Moura (1942-2014)


publicada por Isabel, Junho.2009
Às vezes há que fazer as chamadas "leituras úteis" para bem do nosso conhecimento. Este livro publicado pela Alêtheia Editores é uma dessas leituras. O tema é do interesse geral e o autor é pura e simplesmente o mais acérrimo defensor da não ratificação do Acordo Ortográfico por parte do Governo português. Vasco Graça Moura reúne neste livro as suas principais intervenções e opiniões relativamente ao Acordo Ortográfico de 1990, todas elas publicadas no jornal "Diário de Notícias", exceptuando a intervenção do autor na conferência internacional ocorrida na Assembleia da República a 7 de Abril de 2008.
Trata-se de um livro interessante e bastante útil que contém em anexo documentos que o autor cita, incluindo as mudanças que ocorrerão na escrita da língua portuguesa se o acordo for aprovado por todos os países de língua oficial portuguesa. A ilustração da capa do livro - uma das mais conhecidas ilustrações do terramoto de 1755 em Lisboa - é sugestiva e condiz bem com o título do livro e com a opinião do autor. Vasco Graça Moura justifica sempre com clareza a sua opinião. Um óptimo argumentador, ou não tivesse ele formação em Direito e exercido advocacia durante vários anos.

Em linhas gerais, o que Vasco Graça Moura defende é que não estão reunidas todas as condições para que o acordo ortográfico seja ratificado. O autor diz mesmo que é "inconstitucional" ratificar um acordo que não reúne o comum acordo de todos os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) e de Timor. O acordo não deverá ser um assunto tratado apenas por Portugal e pelo Brasil. Vasco Graça Moura aponta as principais alterações à grafia da língua portuguesa como um "abrasileiramento". Em pano de fundo poderão estar razões de interesse económico que beneficiarão claramente o Brasil. A ser ratificado, o acordo resultará na invalidação de todos os livros em português actualmente impressos. Os dicionários e gigantescas enciclopédias, bem como os manuais escolares, ficarão inutilizados. As bibliotecas e escolas terão "resmas" de livros desactualizados em relação à nova grafia. "Ação", "ator", "batizar", "Egito" são exemplos correntes de palavras do português do Brasil que passarão a ser adoptados em Portugal e restantes países onde a língua portuguesa é a língua oficial. E quem lucrará com tudo isto? As editoras de livros brasileiras.

Ou seja, Vasco Graça Moura chama a atenção para o facto do acordo ortográfico provocar confusão na grafia da língua, visto que há situações em que, por exemplo, no caso das sequências consonânticas: o "c" e o "p" - «Conservam-se nos casos em que são invariavelmente proferidos nas pronúncias cultas da língua» e «Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias cultas da língua» - está tudo na Base IV do referido acordo ortográfico. Afinal o que são «pronúncias cultas da língua»? O Português do Brasil? E então o vasto leque de pronúncias dos PALOP não é tido em consideração?
Se a língua que falamos é a nossa bandeira, o Governo tem de pesar bem os prós e os contras deste controverso Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, sob o risco de perdermos uma parte importante da nossa identidade como povo português. O livro que aqui sugiro é bastante esclarecedor sobre isso.

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