publicada por Isabel, Junho.2009
Às vezes há que fazer as chamadas
"leituras úteis" para bem do nosso conhecimento. Este livro publicado
pela Alêtheia Editores é uma dessas leituras. O tema é do interesse geral e o
autor é pura e simplesmente o mais acérrimo defensor da não ratificação do
Acordo Ortográfico por parte do Governo português. Vasco Graça Moura reúne
neste livro as suas principais intervenções e opiniões relativamente ao Acordo
Ortográfico de 1990, todas elas publicadas no jornal "Diário de
Notícias", exceptuando a intervenção do autor na conferência internacional
ocorrida na Assembleia da República a 7 de Abril de 2008.
Trata-se de um livro interessante e
bastante útil que contém em anexo documentos que o autor cita, incluindo as
mudanças que ocorrerão na escrita da língua portuguesa se o acordo for aprovado
por todos os países de língua oficial portuguesa. A ilustração da capa do livro
- uma das mais conhecidas ilustrações do terramoto de 1755 em Lisboa - é
sugestiva e condiz bem com o título do livro e com a opinião do autor. Vasco
Graça Moura justifica sempre com clareza a sua opinião. Um óptimo argumentador,
ou não tivesse ele formação em Direito e exercido advocacia durante vários
anos.
Em linhas gerais, o que Vasco Graça Moura
defende é que não estão reunidas todas as condições para que o acordo
ortográfico seja ratificado. O autor diz mesmo que é
"inconstitucional" ratificar um acordo que não reúne o comum acordo
de todos os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) e de Timor. O
acordo não deverá ser um assunto tratado apenas por Portugal e pelo Brasil.
Vasco Graça Moura aponta as principais alterações à grafia da língua portuguesa
como um "abrasileiramento". Em pano de fundo poderão estar razões de
interesse económico que beneficiarão claramente o Brasil. A ser ratificado, o
acordo resultará na invalidação de todos os livros em português actualmente
impressos. Os dicionários e gigantescas enciclopédias, bem como os manuais
escolares, ficarão inutilizados. As bibliotecas e escolas terão
"resmas" de livros desactualizados em relação à nova grafia.
"Ação", "ator", "batizar", "Egito" são
exemplos correntes de palavras do português do Brasil que passarão a ser
adoptados em Portugal e restantes países onde a língua portuguesa é a língua
oficial. E quem lucrará com tudo isto? As editoras de livros brasileiras.
Ou seja, Vasco Graça Moura chama a atenção
para o facto do acordo ortográfico provocar confusão na grafia da língua, visto
que há situações em que, por exemplo, no caso das sequências consonânticas: o
"c" e o "p" - «Conservam-se nos casos em que são
invariavelmente proferidos nas pronúncias cultas da língua» e «Eliminam-se nos
casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias cultas da língua» - está
tudo na Base IV do referido acordo ortográfico. Afinal o que são «pronúncias
cultas da língua»? O Português do Brasil? E então o vasto leque de pronúncias
dos PALOP não é tido em consideração?
Se a língua que falamos é a nossa
bandeira, o Governo tem de pesar bem os prós e os contras deste controverso
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, sob o risco de perdermos uma parte
importante da nossa identidade como povo português. O livro que aqui sugiro é
bastante esclarecedor sobre isso.
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