José Vítor Malheiros, Público, 15.Abril.2014
[…] Os artigos que lemos nos jornais falam
sempre de percentagens da população em “risco de pobreza” mas trata-se de um
eufemismo. É um eufemismo que a terminologia oficial impôs, que as estatísticas
usam e que os próprios investigadores aceitaram, mas é um vergonhoso eufemismo.
Estes dois milhões de portugueses que não conseguem pagar transportes para ir
trabalhar, que não conseguem dar refeições decentes aos seus filhos, que não
têm dinheiro para comprar manuais escolares, que não têm dinheiro para pagar
uma consulta num hospital público, que não conseguem aquecer a casa no Inverno,
que se escondem à hora de almoço porque nem sequer podem levar para o local de
trabalho uma marmita com sopa, não correm “risco de pobreza”. São mesmo pobres.
Porquê então o “risco”? Porque é do interesse dos poderes suavizar a expressão
para se desresponsabilizarem da situação, para poderem negar a sua extensão e
para reduzir o impacto social das estatísticas. […]
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