quarta-feira, 30 de abril de 2014

Vale a pena (re)ver...

o 2.º golo de Cristiano Ronaldo frente ao Bayern.
CR7 aproveita o facto (habitual) de a barreira saltar
e mete a bola por baixo dos pés dos adversários! 


O velho castanheiro

Fotografia tirada pelo meu neto 
João Guilherme (n. 13.Set.2004)

(Guarda, Abril.2014)

"Eleições á porta, seja Deus louvado"


Adriano Correia de Oliveira canta palavras 
do Conde de Monsaraz com música de José Niza

José Niza com Adriano Correia de Oliveira

O Senhor Morgado, vai no seu murzelo
Todo empertigado, é um gosto vê-lo.
Próspero anafado, véstia alentejana,
Calça de riscado, homem duma cana.

Vai, todo se ufana, de ir tão bem montado.
E ela da janela, seja Deus louvado,
Seja Deus louvado,
Seja Deus louvado.

O Sr. Morgado, vai nas próprias pernas
Todo bambeado, tem palavras ternas.
Para cada lado, quando passa sente,
Que é temido e amado, fala a toda a gente.

Topa um influente, sou um seu criado.
Eleições á porta, seja Deus louvado,
Seja Deus louvado,
Seja Deus louvado.

O Sr. Morgado vai na sege rica
Todo repimpado, ai que bem lhe fica.
O Chapéu armado e a comenda ao peito,
E o espadim ao lado, que homem tão perfeito.

Deputado eleito, muito bem votado.
Vai para o Te-Deum, seja Deus louvado,
Seja Deus louvado,
Seja Deus louvado.

O senhor Morgado vai na sege rica
Todo repimpado, ai que bem lhe fica.
O Chapéu armado e a comenda ao peito,
E o espadim ao lado, que homem tão perfeito.

Deputado eleito, muito bem votado,
E ela da janela, eleições à porta
Vai para o Te-Deum,
Seja Deus louvado.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

In Memoriam Vasco Graça Moura (1942-2014)


publicada por Isabel, Junho.2009
Às vezes há que fazer as chamadas "leituras úteis" para bem do nosso conhecimento. Este livro publicado pela Alêtheia Editores é uma dessas leituras. O tema é do interesse geral e o autor é pura e simplesmente o mais acérrimo defensor da não ratificação do Acordo Ortográfico por parte do Governo português. Vasco Graça Moura reúne neste livro as suas principais intervenções e opiniões relativamente ao Acordo Ortográfico de 1990, todas elas publicadas no jornal "Diário de Notícias", exceptuando a intervenção do autor na conferência internacional ocorrida na Assembleia da República a 7 de Abril de 2008.
Trata-se de um livro interessante e bastante útil que contém em anexo documentos que o autor cita, incluindo as mudanças que ocorrerão na escrita da língua portuguesa se o acordo for aprovado por todos os países de língua oficial portuguesa. A ilustração da capa do livro - uma das mais conhecidas ilustrações do terramoto de 1755 em Lisboa - é sugestiva e condiz bem com o título do livro e com a opinião do autor. Vasco Graça Moura justifica sempre com clareza a sua opinião. Um óptimo argumentador, ou não tivesse ele formação em Direito e exercido advocacia durante vários anos.

Em linhas gerais, o que Vasco Graça Moura defende é que não estão reunidas todas as condições para que o acordo ortográfico seja ratificado. O autor diz mesmo que é "inconstitucional" ratificar um acordo que não reúne o comum acordo de todos os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) e de Timor. O acordo não deverá ser um assunto tratado apenas por Portugal e pelo Brasil. Vasco Graça Moura aponta as principais alterações à grafia da língua portuguesa como um "abrasileiramento". Em pano de fundo poderão estar razões de interesse económico que beneficiarão claramente o Brasil. A ser ratificado, o acordo resultará na invalidação de todos os livros em português actualmente impressos. Os dicionários e gigantescas enciclopédias, bem como os manuais escolares, ficarão inutilizados. As bibliotecas e escolas terão "resmas" de livros desactualizados em relação à nova grafia. "Ação", "ator", "batizar", "Egito" são exemplos correntes de palavras do português do Brasil que passarão a ser adoptados em Portugal e restantes países onde a língua portuguesa é a língua oficial. E quem lucrará com tudo isto? As editoras de livros brasileiras.

Ou seja, Vasco Graça Moura chama a atenção para o facto do acordo ortográfico provocar confusão na grafia da língua, visto que há situações em que, por exemplo, no caso das sequências consonânticas: o "c" e o "p" - «Conservam-se nos casos em que são invariavelmente proferidos nas pronúncias cultas da língua» e «Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias cultas da língua» - está tudo na Base IV do referido acordo ortográfico. Afinal o que são «pronúncias cultas da língua»? O Português do Brasil? E então o vasto leque de pronúncias dos PALOP não é tido em consideração?
Se a língua que falamos é a nossa bandeira, o Governo tem de pesar bem os prós e os contras deste controverso Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, sob o risco de perdermos uma parte importante da nossa identidade como povo português. O livro que aqui sugiro é bastante esclarecedor sobre isso.

José Afonso >> Que Amor não Me Engana



sexta-feira, 25 de abril de 2014

25 de Abril, 40 anos de Liberdade

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.

Sophia de Mello Breyner Andresen



Grândola, vila morena,
Terra da fraternidade,
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade.

Dentro de ti, ó cidade,
O povo é quem mais ordena,
Terra da fraternidade,
Grândola, vila morena.

Em cada esquina um amigo,
Em cada rosto igualdade,
Grândola, vila morena,
Terra da fraternidade.

Terra da fraternidade,
Grândola, vila morena,
Em cada rosto igualdade,
O povo'é quem mais ordena.

À sombra duma azinheira,
Que já não sabia a idade,
Jurei ter por companheira,
Grândola'a tua vontade.

Grândola'a tua vontade
Jurei ter por companheira,
À sombra duma azinheira,
Que já não sabia a idade.
 

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Recriação em Santarém evocativa de Salgueiro Maia


Queridos Netos: Antes do 25 de Abril era assim... II




Com a censura,
agora seria assim...

José Afonso >> Filhos da Madrugada



Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor nos ramos
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praia do mar nos vamos
À procura da manhã clara

Lá do cimo de uma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo de uma montanha

Onde o vento cortou amarras
Largaremos p'la noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca, brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Belíssima canção dedicada aos que partem


Os Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra e a 
Orquestra Clássica do Centro, cantam Rosalia de Castro.

Regresso...

… após intervenção cirúrgica bem sucedida a uma catarata 
pelo competente oftalmologista Dr. João Henriques Feijão.


quinta-feira, 17 de abril de 2014

Pausa...

... ocular.


Apesar de tudo... Feliz Páscoa!



Pedro Abrunhosa >> Para os Braços da Minha Mãe, com a participação de Camané



Uma bela canção

Cheguei ao fundo da estrada,
Duas léguas de nada,
Não sei que força me mantém.
É tão cinzenta a Alemanha
E a saudade tamanha,
E o verão nunca mais vem.
Quero ir para casa
Embarcar num golpe de asa,
Pisar a terra em brasa,
Que a noite já aí vem.
Quero voltar
Para os braços da minha mãe,
Quero voltar
Para os braços da minha mãe.

Trouxe um pouco de terra,
Cheira a pinheiro e a serra,
Voam pombas
No beiral.
Fiz vinte anos no chão,
Na noite de Amsterdão,
Comprei amor
Pelo jornal.
Quero ir para casa
Embarcar num golpe de asa,
Pisar a terra em brasa,
Que a noite já aí vem.
Quero voltar
Para os braços da minha mãe,
Quero voltar
Para os braços da minha mãe.

Vim em passo de bala,
Um diploma na mala,
Deixei o meu amor p'ra trás.
Faz tanto frio em Paris,
Sou já memória e raiz,
Ninguém sai donde tem Paz.
Quero ir para casa
Embarcar num golpe de asa,
Pisar a terra em brasa,
Que a noite já aí vem.
Quero voltar
Para os braços da minha mãe,
Quero voltar
Para os braços da minha mãe.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Parabéns!



125.º Aniversário de Charlie Chaplin

Discurso, do filme "O Grande Ditador"


"Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Queremos viver pela felicidade dos outros, não pela miséria dos outros. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.
Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!
Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos! ( segue o estrondoso aplauso da multidão ).
Então, dirige-se a Hannah :

Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!."


José Afonso >> Venham Mais Cinco



terça-feira, 15 de abril de 2014

Eufemismos

José Vítor Malheiros, Público, 15.Abril.2014

[…] Os artigos que lemos nos jornais falam sempre de percentagens da população em “risco de pobreza” mas trata-se de um eufemismo. É um eufemismo que a terminologia oficial impôs, que as estatísticas usam e que os próprios investigadores aceitaram, mas é um vergonhoso eufemismo. Estes dois milhões de portugueses que não conseguem pagar transportes para ir trabalhar, que não conseguem dar refeições decentes aos seus filhos, que não têm dinheiro para comprar manuais escolares, que não têm dinheiro para pagar uma consulta num hospital público, que não conseguem aquecer a casa no Inverno, que se escondem à hora de almoço porque nem sequer podem levar para o local de trabalho uma marmita com sopa, não correm “risco de pobreza”. São mesmo pobres. Porquê então o “risco”? Porque é do interesse dos poderes suavizar a expressão para se desresponsabilizarem da situação, para poderem negar a sua extensão e para reduzir o impacto social das estatísticas. […]


Faz-de-conta contínuo

Editorial, Público, 15.Abril.2014

[…] Custa, portanto, a compreender o que leva um vice-primeiro-ministro [Paulo Portas] a convocar os partidos com assento parlamentar para discutir a magna questão da reforma do Estado, para depois se sentar frente-a-frente com as delegações daqueles partidos com o guião da reforma do Estado que apresentou no final de 2013 na mesa, um sorriso e nada de novo para dizer. […]

Adriano Correia de Oliveira >> Erguem-se Muros



segunda-feira, 14 de abril de 2014

Amuos*...

Público, 13.Abril.2014

Seguro acusa Passos de "mentir"...

Isto significa que este Governo e este primeiro-ministro não jogam limpo com os portugueses; que este primeiro-ministro não mostra toda a verdade aos portugueses, que este primeiro-ministro não tem respeito pelos portugueses”.
Nós podemos concordar ou discordar da governação. O que não se pode aceitar é que haja um Governo e um primeiro-ministro que governa mentindo aos portugueses. E a palavra é mesmo mentir aos portugueses, enganar os portugueses”, criticou o líder socialista. Mais: “Hoje quando lhe disseramesclareça os portugueses’, o que fez o primeiro-ministro? Fugiu e não deu qualquer esclarecimento”.


*amuo
Manifestação de enfado ou de mau humor que se revela por gestos, 
por um silêncio obstinado ou por se evitar olhar para o seu causador.
"amuo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa online, 2008-2013 

Fausto >> A Memória dos Dias



quarta-feira, 9 de abril de 2014

O meu país não é destes governantes

Alexandra Lucas Coelho, PÚBLICO-Online, 09.Abril.2014
A autora recebeu na passada 2.ª feira o prémio APE pelo romance E a Noite Roda
O que se segue é um excerto do discurso que fez, no qual critica o actual poder político.

[...] Este prémio é tradicionalmente entregue pelo Presidente da República, cargo agora ocupado por um político, Cavaco Silva, que há 30 anos representa tudo o que associo mais ao salazarismo do que ao 25 de Abril, a começar por essa vil tristeza dos obedientes que dentro de si recalcam um império perdido.
E fogem ao cara-cara, mantêm-se pela calada. Nada estranho, pois, que este Presidente se faça representar na entrega de um prémio literário. Este mundo não é do seu reino. Estamos no mesmo país, mas o meu país não é o seu país. No país que tenho na cabeça não se anda com a cabeça entre as orelhas, “e cá vamos indo, se deus quiser”.
Não sou crente, portanto acho que depende de nós mais do que irmos indo, sempre acima das nossas possibilidades para o tecto ficar mais alto em vez de mais baixo. Para claustrofobia já nos basta estarmos vivos, sermos seres para a morte, que somos, que somos.
Partimos então do zero, sabendo que chegaremos a zero, e pelo meio tudo é ganho, porque só a perda é certa.
O meu país não é do orgulhosamente só. Não sei o que seja amar a pátria. Sei que amar Portugal é voltar do mundo e descer ao Alentejo, com o prazer de poder estar ali porque se quer. Amar Portugal é estar em Portugal porque se quer. Poder estar em Portugal apesar de o Governo nos mandar embora. Contrariar quem nos manda embora como se fosse senhor da casa.
Eu gostava de dizer ao actual Presidente da República, aqui representado hoje, que este país não é seu, nem do Governo do seu partido. É do arquitecto Álvaro Siza, do cientista Sobrinho Simões, do ensaísta Eugénio Lisboa, de todas as vozes que me foram chegando, ao longo destes anos no Brasil, dando conta do pesadelo que o Governo de Portugal se tornou: Siza dizendo que há a sensação de viver de novo em ditadura, Sobrinho Simões dizendo que este Governo rebentou com tudo o que fora construído na investigação, Eugénio Lisboa, aos 82 anos, falando da “total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página”. [...]

Fausto >> Lembra-me um sonho lindo

+ Foi por ela + Ao longo de um claro rio de água doce


terça-feira, 8 de abril de 2014

É só mais uma trapalhada (Barroso vs. Constâncio)

José Vítor Malheiros, PÚBLICO, 08.Abril.2014


Durão Barroso diz que, quando era primeiro-ministro, chamou três vezes o governador do Banco de Portugal a São Bento, “para saber se aquilo que se dizia do BPN era verdade”. Não sabemos o que era então “aquilo”, mas sabemos que Vítor Constâncio, em resposta ao actual candidato a candidato à Presidência da República, disse duas coisas: que “nunca recebeu qualquer informação sobre possíveis irregularidades concretas no BPN” da parte de Durão Barroso e que não recordava “qualquer convocação exclusivamente sobre o BPN" feita pelo então primeiro-ministro.
É estranho o “exclusivamente”. Somos obrigados a pensar que Constâncio se lembra perfeitamente de três convocações do primeiro-ministro onde o BPN constava na agenda como tema a tratar só que... não era o ponto único da reunião. Assim, a declaração de Constâncio não desmente frontalmente o ex-primeiro-ministro. De facto, por muito importante que fosse a girândola de fraudes do BPN, seria natural que o governador do banco central e o primeiro-ministro tivessem tido pelo menos duas coisas para discutir numa reunião, e a expressão de Constâncio faz-nos pensar que foi precisamente isso que aconteceu. Mas o facto de Durão Barroso ter sido propositadamente vago também nos sugere que o PM não deverá ter dito nem perguntado a Constâncio nada de substantivo e até sugere que a conversa que terá mantido com o governador do Banco de Portugal terá sido num registo casual. “Ó Constâncio, o que me diz daquilo que se diz p'raí do BPN?” “Estamos atentos, senhor primeiro-ministro. Tomaremos as diligências que nos parecerem adequadas.” “Ah, bom. Assim, fico descansado.” 
[…]
Há, em toda esta história, outra coisa que não se percebe. Como é possível que Durão e Constâncio possam contar estas histórias de forma tão imprecisa, baseando-se na sua memória? A Presidência do Conselho de Ministros não guarda registos? O Banco de Portugal não guarda registos? As reuniões não dão origem a actas? Nos Estados Unidos, uma história destas teria trinta memos escritos a sustentá-la, sete actas de reuniões, as agendas de todos os participantes, entradas nos diários dos intervenientes, dias e horas das reuniões e respectivas ordens de trabalhos, registos do que se disse e do que foi pedido e do que foi garantido e por quem.
Mas em Portugal, no meio político, a regra é a informalidade e isso é apresentado como um sinal dos nossos brandos costumes. O problema é que a informalidade é a arma de eleição dos corruptos e dos aldrabões. Os políticos não têm agendas, as reuniões não têm actas, as declarações não têm testemunhas. E, nos raros casos em que esses documentos existem, os protagonistas levam-nos para casa no fim da legislatura como se fossem propriedade sua e não património público e um elemento essencial da responsabilização dos agentes políticos.

Promessas...

João Miguel Tavares, PÚBLICO, 08.Abril.2014

Perante esta nova e súbita paixão de Passos “Que Se Lixem as Eleições” Coelho pelo aumento do salário mínimo nacional, convinha o Partido Socialista fazer uma adenda ao seu óptimo vídeo do dia 1 de Abril, onde elencava uma série de promessas feitas pelo líder do PSD antes das legislativas de 2011, tais como: “é um disparate acabar com o 13.º mês; “não contarão connosco para mais ataques à classe média em nome dos problemas externos”; “não olhamos para as classes de rendimentos a partir dos mil euros dizendoaqui estão os ricos, eles que paguem a crise’”; “é absolutamente falso querer acabar com a taxa intermédia de IVA para a restauração”; “não é para fazer mais aumentos de impostos”; “como primeiro-ministro, recuso-me a cortar salários”; e por aí fora.

Tudo isto Pedro Passos Coelho prometeu, e tudo isto Pedro Passos Coelho incumpriu. Se lhe perguntarem porquê, ele dirá o mesmo que todos dizem – que não sabia, que não estava à espera que o estado das contas públicas fosse tão grave, que não queria, que ficou muito triste, que teve mesmo de ser, como se a admissão da ignorância em tempo de campanha eleitoral fosse justificável, como se não fosse obrigação de um partido com ambições de poder ter a perfeita consciência do estado em que o país se encontra. [...]

A túlipa desabrochou. A Primavera voltou?




José Afonso >> Filhos da Madrugada



segunda-feira, 7 de abril de 2014

Verde-Primavera



Frase do dia



Uma das vantagens da velhice é
deixarmos de nos preocuparmos 
com o que pensam os outros.

A cara sincera 
Miguel Esteves Cardoso
PÚBLICO, 07.Abril.2014

50 cêntimos por dia... é dinheiro!



Pedro Abrunhosa >> Hoje É o Teu Dia



Diz-me se é difícil
Carregar a própria sombra,
Virar a proa na maré
Por mais alta seja a onda,
Ser inteiro e estar de pé,
Sentir o bem quando te ronda,
Diz-me se é difícil
Carregar a própria sombra.

Diz-me o que dirias
Se Deus te aparecesse,
Que segredos guardarias
Se a mão na mão lhe desses,
Se Ele chorar contigo
Porque fim te apetece,
Diz-me o que dirias
Se Deus te aparecesse.

Haja cidades
Que te sirvam de abrigo,
Por toda a parte
Gente que quer ir contigo,
Só há lugar
Para os que riem do perigo,
São tantos os que pedem e que dizem:

Hoje é o teu dia,
Hoje é o teu dia,
...

É tempo de arranjar
20 segundos de coragem,
De passar o rio a vau
Mudar o rumo da viagem,
Bater todas as portas
Beber do fundo da miragem,
É tempo de arranjar
20 segundos de coragem.

Diz-me se tens medo
Por quem perdes no caminho,
Das noites desgarradas,
De mais um dia sozinho,
A vida pode ser
Como veludo ou azevinho,
E diz-me se tens medo
Por quem perdes no caminho.

Haja cidades
Que te sirvam de abrigo,
Por toda a parte
Gente que quer ir contigo,
Só há lugar
Para os que riem do perigo,
São tantos os que pedem e que dizem:

Hoje é o teu dia,
Hoje é o teu dia,
...

Já não há noite
Onde esta luz não se ouça,
Não há lugar
Sem a loucura da dança,
E há tantas vozes
Todas diferentes,
Cada vez mais perto
O que grita toda a gente:

Hoje é o teu dia,
Hoje é o teu dia,
...

Hoje é o nosso dia,
Hoje é o nosso dia.

No país dos ratos



sábado, 5 de abril de 2014

Eles falam muito... mas dizem pouco

Bagão Félix, PÚBLICO, 05.Abril.2014

Definitivo não é extraordinário. Extraordinário não é definitivamente ordinário. Mas o ordinário não é sinónimo de temporário. Pode significar até excepcional. Tão repetidamente excepcional que até pode ser permanente. Ainda que passe por ser transitório, o que não significa necessariamente anual. Mas, mesmo assim, especial.
Tudo isto à volta de cortes. Ou de poupanças, o (novo) nome do aumento de impostos ou do seu equivalente algébrico do lado da despesa. Cortes que só por si vêm sendo também sinónimo de reforma do Estado. […]

Nada exclusivo de Portugal, diga-se em abono da verdade. A política e a Europa foram tomadas por uma vaga de palavras, um quase dialecto, incompreensível para os comuns mortais. Há quem faça gala em usar termos que nada dizem, mas que impressionam ou dissimulam a vacuidade. Desde a famosa geometria variável, à narrativa, temática e problemática, sinergia e imparidade, ao alocar, agilizar, alavancar e customizar, ao efeito já descontado em sede de qualquer coisa, ao disfuncional resiliente, etc.
Como disse Florbela Espanca, “tão pobres somos que as mesmas palavras nos servem para exprimir a verdade e a mentira”.

O Prof. Agostinho da Silva deixou-nos há 20 anos