José Pacheco Pereira, Público, 07.Junho.2014
[…] O modo como [António
José Seguro] reagiu ao desafio de António Costa foi uma antologia do pior do
aparelhismo. Começou por se negar a ir ao confronto, com argumentos
burocráticos. Depois fez uma reviravolta e respondeu, “ai queres 8, vou-te dar
8000”, fazendo uma proposta confusa e impreparada de eleições directas cujo
único objectivo, percebe-se muito bem, era protelar as eleições, esperando que
o Governo caia, ou que Costa não consiga, preso à Câmara de Lisboa, competir
com ele no circuito da “carne assada”. Inventou um novo cargo, o de “candidato
a primeiro-ministro”, admitindo, numa fase inicial, manter-se como
secretário-geral. Depois recuou de novo, percebendo que isso levaria a um tão
grande downgrade da função, que nunca poderia condicionar
coisas tão importantes para o aparelho como as listas de deputados. Depois,
mostrando como isto é tudo feito em cima do joelho, para ganhar o favor dos
eleitores das directas avançou com um conjunto de propostas demagógicas e
populistas, abrindo caminho para maiores estragos no sistema político.
Nestes dias, ele
mostrou a sua aptidão maior: defender-se a si e aos seus, mesmo que isso
signifique incapacitar o PS para uns bons quatro meses, no meio de um agravar
da situação política nacional. Ele diz que falará pelo PS como seu
secretário-geral legítimo, mas para cada questão todos vão ouvir António Costa.
Só que quem perde com todo este protelamento é o PS, é a oposição em geral, e
quem ganha é o Governo. E já se percebeu que pretendem aproveitar essa margem
de oportunidade, como se vê no confronto com o Tribunal Constitucional, que não
teria este agravamento de tensão se o PS não estivesse bloqueado. O PSD e o CDS
têm durante três meses cruciais, e muito difíceis para o Governo, um
não-partido à sua frente. Seguro quer lá saber, ele quer é sobreviver, mesmo à
frente de um partido castrado.
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