José Vítor Malheiros, PÚBLICO, 24.Junho.2014
[…] Não levar o
combate à pobreza até ao fim significa que aceitamos que milhares de pessoas,
milhares de crianças, não sejam o que podem ser, e isso é intolerável porque é
aceitar que os direitos só existem para quem tem dinheiro. É dizer que o
apartheid é aceitável.
Vem isto a
propósito da disputa da liderança do PS onde ambos os contendores se reclamam
da social-democracia (como aliás o próprio Passos Coelho y sus muchachos),
demonstrando que o rótulo, de tão usado por tanta gente de tão má reputação,
não significa hoje absolutamente nada. Mas os próprios objectivos "concretos"
definidos pelos políticos em geral e, no caso vertente, pelos rivais do PS,
significam muito pouco se não conhecermos o seu grau de urgência. Ser
social-democrata deveria ser regular os mercados, instituir um sistema de
economia mista, com forte intervenção do Estado e com um papel central da
contratação colectiva. Costa vai fazer isso? Já? Ser social-democrata é pôr em
prática políticas de erradicação da pobreza e de redistribuição da riqueza.
Costa vai fazer isso? Já?
O combate
político transformou-se num esgrimir de slogans vazios ("mudança") e
num enunciar prudente de objectivos vagos, para captar o máximo de apoiantes ao
centro. Mas o país precisa de definir objectivos ambiciosos de justiça social e
de os pôr em prática JÁ. Independentemente de eventuais alianças com o PS (uma
discussão armadilhada por enquanto) a esquerda à esquerda do PS tem de
conseguir consolidar o seu discurso e concretizar uma estratégia de governo
alternativa à austeridade que, pelo menos, obrigue o PS a sair do armário e a
dizer o que quer. Já sabemos que o PS não gosta da pobreza, mas quer reduzi-la
ou erradicá-la? E quer fazer isso hoje ou daqui a cem anos?
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