Editorial, Público, 08.Junho.2014
O Óscar merece-se |
[...] As primárias [no PS] oferecem problemas óbvios. Desde logo, o facto de não haver tradição em
Portugal. À excepção do Livre, um microcosmos, nunca houve primárias no país.
Os portugueses não sabem como funciona, não há uma rotina, não há precedentes.
Não é por isso que não se devem fazer primárias. Mas usar um mecanismo estranho
num momento de crise é como termos a casa a arder e, em vez de agarrarmos no
extintor, convocarmos uma reunião de condomínio para discutir como apagar o
fogo.
Além disso, as
primárias impõem uma logística pesada e muitas decisões. A começar pelos
cadernos eleitorais, que não existem. Não vão votar apenas os militantes, mas
também os que se inscrevam como simpatizantes e eleitores socialistas. A
seguir, há a campanha interna formal e, no dia do voto, urnas em pelo menos 712
mesas de voto. Tanto as listas como os resultados podem levantar dúvidas e ser
impugnados. Em Outubro podemos ainda não ter uma solução estável no PS. Conclusão:
nos próximos meses, o trabalho dos socialistas vai ser um só: fazer ganhar o
seu homem.
Seguro diz que
fez “o caminho das pedras” quando não era apetecível ser-se líder da oposição e
Assis diz que ele “merece” ser primeiro-ministro depois de três anos a combater
o Governo.
Mas ser-se
primeiro-ministro não é uma herança deixada em testamento. Ser
primeiro-ministro não é um prémio de esforço, nem um prémio de consolação. Não
é um cargo que se “merece” ou não ter. Não é uma consideração. Pensar assim é inverter
a lógica da própria política. É admitir que a política é um puro jogo de
conquista do poder.
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