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A verdade, porém, é que as expectativas foram falhando sucessiva e sistematicamente, ao longo do tempo. E, agora, o cidadão comum não acredita mais nos políticos. Compreende-se que assim seja, porque a generosidade tem limites. Ser simples não significa ser permeável a tudo. Maltratado vezes sem conta, traído despudoradamente por aqueles que prometem e não cumprem -- mas que juram cumprir com lealdade as funções para que são eleitos ou nomeados -- vendo exemplos deploráveis onde devia existir competência, honestidade e sentido de bem-servir, o cidadão comum tornou-se um desconfiado visceral. Basta ver como reage, natural e convictamente, à mais pequena promessa de melhoria, seja ela de que natureza for: “Só acredito quando vir!”. É esta profunda crise de confiança o resultado desastroso a que se chegou em consequência do faz-de-conta dos políticos. Que 1995 nos traga um começo da enorme tarefa de recuperar a confiança perdida, eis o meu primeiro voto.
2. É preciso, sobretudo, recuperar a confiança dos jovens, em nome de um futuro que faça sentido a prazo. As manifestações hostis da juventude durante 1994 são, no cerne, um sintoma da crise que se instalou e que urge erradicar. Os jovens interrogam-se sobre as suas perspectivas e o panorama está longe de ser encorajante. Faltam-lhes valores de referência na sociedade dos “crescidos”. Falta-lhes acreditar que a felicidade é possível. Paradoxalmente, ou talvez não, as ofertas da “democracia de sucesso” -- onde imperam mais os números do que as pessoas, onde grassa o espírito de subir na vida fácil e rapidamente -- não satisfazem os jovens. Daí que as manifestações tenham roçado a falta de respeito, o que é sintomático e devia constituir um sério aviso para os responsáveis por este estado de coisas. A irreverência não justifica tudo o que se passou. O desencanto, talvez. Que 1995 nos traga um começo da enorme tarefa de dignificar a sociedade de amanhã, eis o meu segundo voto.
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Dizia Séneca que “não há vento favorável para quem não sabe para onde quer ir”. O desígnio da Educação em Portugal é, em certa medida, comparável ao rumo das caravelas quinhentistas: o rumo de uma aventura que vale a pena ser vivida. Assim os dirigentes políticos tenham sensibilidade e coragem para romper com o passado recente nesta matéria. Que 1995 nos traga um começo da enorme tarefa de recuperar o tempo perdido, eis o meu último voto.
Artigo publicado no jornal O MIRANTE em 03.Janeiro.1995
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