«O
ministro Poiares Maduro, no estilo bastante arrogante com que faz declarações,
diz que quer “uma nova cultura política para Portugal” [...] Poiares
Maduro entrou para o Governo para substituir Relvas como ministro da propaganda,
portanto a “novidade cultural” que podia trazer seria de imediato
incompatível com o cargo e as funções se ele fosse menos ambicioso e se se
respeitasse intelectualmente a si próprio, ou seja, se tivesse uma outra “cultura
política”. Ele não podia deixar de saber ao que vinha e para que
vinha. E sabia-o tão bem que de imediato se colocou na função de repetidor da
propaganda governamental naquilo em que ela é mais dolosa, função que tem
desempenhado até ao dia de hoje, como circulador de falsos argumentos e de
afirmações manipulatórias. O intelecto e a arrogância ajudam, a
subserviência acrítica de muita comunicação social faz o resto. [...]
Um intelectual que aceita chamar “requalificação” àquilo que o Governo pretende há muito fazer, despedir funcionários públicos, não merece qualquer respeito, nem que tenha mil doutoramentos. [...]
Mas não vale a pena ir muito mais longe com Poiares Maduro. Este discurso da “realidade” é apenas outra maneira de dizer que ou as coisas se fazem como o Governo quer ou não se podem fazer. Ou se fazem como o Governo quer ou são ilusões irrealistas. Como é que um simples mortal pode discutir com os excelsos intérpretes da “realidade”, que têm consigo a força das leis da física, o peso imenso da natureza e da “realidade”, e as atiram à cara de uns ignorantes que pensam que não é bem assim, que talvez haja outra maneira de fazer as coisas, e que a “realidade” é outra, ou que há várias “realidades” e que a performance dos“realistas” tem sido um desastre, e que podem sempre lembrar que 2014 era o ano dos 2% de défice e agora o Governo está a pedir que lhe autorizem mais do dobro, ou que neste mês de Setembro regressaríamos em pleno aos mercados? Alguma coisa falhou na “realidade”, não é verdade?»
Um intelectual que aceita chamar “requalificação” àquilo que o Governo pretende há muito fazer, despedir funcionários públicos, não merece qualquer respeito, nem que tenha mil doutoramentos. [...]
Mas não vale a pena ir muito mais longe com Poiares Maduro. Este discurso da “realidade” é apenas outra maneira de dizer que ou as coisas se fazem como o Governo quer ou não se podem fazer. Ou se fazem como o Governo quer ou são ilusões irrealistas. Como é que um simples mortal pode discutir com os excelsos intérpretes da “realidade”, que têm consigo a força das leis da física, o peso imenso da natureza e da “realidade”, e as atiram à cara de uns ignorantes que pensam que não é bem assim, que talvez haja outra maneira de fazer as coisas, e que a “realidade” é outra, ou que há várias “realidades” e que a performance dos“realistas” tem sido um desastre, e que podem sempre lembrar que 2014 era o ano dos 2% de défice e agora o Governo está a pedir que lhe autorizem mais do dobro, ou que neste mês de Setembro regressaríamos em pleno aos mercados? Alguma coisa falhou na “realidade”, não é verdade?»
In artigo “Saia
aí uma ‘nova cultura política’, se faz favor, em que se chame aos despedimentos
‘requalificação’”, de José Pacheco Pereira, saído hoje no PÚBLICO
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