quinta-feira, 2 de maio de 2013

Ai Silvina, ai Silvininha

Ai Silvina, Silvininha 
é um inédito de Alain Oulman
com poema de António Gedeão
cantado por Camané - “O Melhor / 1995-2013”




Lindos olhos tem Silvina,
lindas mãos Silvina tem,
e a cintura de Silvina
é fina como o azevém.
Em Silvina tudo exala
um cheiro de coisa fina,
mas o que a nada se iguala
é a fala de Silvina.

A doce voz de Silvina
é como um colchão de penas,
é um fio de glicerina,
um vapor de águas serenas.

Porque não cantas, Silvina?
Se a tua voz é tão doce
talvez cantada que fosse
mais doce que a glicerina.
Porque não cantas, Silvina?

― Não me apetece cantar
e muito menos para ti.
Eu sou nova, tu és velho,
já não és homem para mim.

― Não me tentes, Silvininha,
que eu já não te olho a direito.
Sou como um ladrão escondido
na azinhaga do teu peito.

― A azinhaga do meu peito
corre entre duas colinas.
O ladrão do meu amor
tem pé leve e pernas finas.

― Canta, canta, Silvininha,
uma canção só para mim.
Dar-te-ei um lençol de estrelas,
uma enxerga de alecrim.

― Deixa o teu corpo estendido
à terra que o há-de comer.
A tua cama é de pinho,
teus lençóis de entristecer.


― Canta, canta, Silvininha,
como se fosse para mim.
Dar-te-ei um escorpião de oiro
com um aguilhão de marfim.

― Não quero o teu escorpião,
nem de ouro nem de prata.
Quero o meu amor trigueiro
que é firme e não se desata.


― Pois não cantes, Silvininha,
se é essa a tua vontade.
Canto eu, mesmo assim velho,
que o cantar não tem idade.

Hás-de tu ser morta e fria,
cem anos se passarão,
já de ti ninguém se lembra
nem de quem te pôs a mão.

Mas sempre há-de haver quem cante
os versos desta canção:
Ai Silvina, ai Silvininha,
Amor do meu coração.

António Gedeão         
Máquina de fogo / 1961

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