Decorrida a semana que passámos na praia de Santa Cruz (Torres Vedras), a qual foi aqui ilustrada com uma dúzia de fotografias recentes, volto a uma história que carece de (uma) finalização.
Em Novembro de 1996 publiquei no jornal O MIRANTE um artigo intitulado “Rómulo de Carvalho, um Professor de referência”, cujo conteúdo coloquei oportunamente neste blogue: http://tempoderecordar-edmartinho.blogspot.com/2010/11/romulo-de-carvalho-um-professor-de.html.
Para grande surpresa minha, eis que na página 492 do livro “Rómulo de Carvalho – MEMÓRIAS” (http://tempoderecordar-edmartinho.blogspot.com/2010/12/romulo-de-carvalho-memorias.html) leio o seguinte, entre as referências que Rómulo de Carvalho evoca a propósito das homenagens que lhe foram prestadas por ocasião do seu 90.º aniversário: «Em 27 de Novembro [de 1996] uma página a mim dedicada em O Mirante, Jornal da Região do Ribatejo, com inclusão de poemas meus, e um longo artigo do investigador de Física, Eduardo Martinho, na antiga Junta de Energia Nuclear, em Sacavém. Muito obrigado, também.»
Lembrei-me então de que enviara ao Professor Rómulo de Carvalho uma carta pessoal a acompanhar o exemplar do jornal a que ele se refere nesta evocação:
«Senhor Professor Rómulo de Carvalho
Devo confessar, sinceramente, que hesitei bastante em tomar a iniciativa deste contacto. Para resolver o “dilema”, socorri-me do Frederico [meu colega no Laboratório Nuclear de Sacavém], que me incitou: Faz isso, que o meu Pai vai gostar. Quebrada a hesitação, estou sem saber o que escrever. Esta é uma daquelas situações em que o espaço-em-branco da vulgar folha A4 parece ter um tamanho desajustado ao que se pretende -- porque excessivo e diminuto, paradoxalmente.
Excessivo, porque, não o conhecendo pessoalmente, talvez fosse aconselhável limitar-me a palavras contidas, por exemplo: Senhor Professor Rómulo de Carvalho, tenho o prazer de lhe enviar um pequeno artigo que me atrevi a escrever para assinalar o seu 90.° aniversário e, com essa efeméride, homenagear tudo o que V.Exa. representa para aqueles que, como eu, aprenderam a estimá-lo.
Diminuto, porque, embora não o conhecendo pessoalmente, na sua figura encontro referências e reconheço afinidades -- acentuadas umas e reveladas outras, recentemente, pela leitura da entrevista concedida ao JL/Educação e pelas reflexões pessoais fixadas no documentário televisivo da jomalista Diana Andringa -- que me “convidam” a ir mais longe, a entrar mesmo no terreno da confidencialidade entre Amigos de longa data, que partilham sentimentos comuns. Isto, em particular, na área do Ensino, “arte” pela qual me interesso desde que comecei a dar explicações, andava então no 4.° ano do liceu, em Santarém. [Depois disso, enquanto estudante de Ciências Físico-Químicas na Faculdade de Ciências de Lisboa, trabalhei como prefeito no Colégio Manuel Bernardes, onde me competia, entre outras tarefas, tirar dúvidas nas chamadas salas de estudo. Já na ex-Junta de Energia Nuclear, em regime de acumulação, exerci funções docentes no Departamento de Fisica daquela Faculdade durante 15 anos (de 1965 a 1980), onde tive o privilégio de contar com a Amizade do saudoso Professor José Gomes Ferreira e da sua esposa, Professora Lídia Salgueiro. Actualmente, limito-me a participar numa ou noutra acção de formação e a ministrar um módulo de introdução à Fisica Nuclear para estudantes da disciplina de Medicina Nuclear, na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.] Apesar de algumas desilusões (de carácter institucional, sobretudo), o meu contacto com os alunos foi sempre gratificante. E continua a ser. É sempre com alegria que me cruzo com antigos alunos que, guardando boas recordações das aulas, têm a generosidade de mo manifestar. Tenho a certeza de que entende, melhor do que ninguém, a satisfação pessoal que se sente quando nos é dado constatar que “valeu a pena” o que se fez...
Não sei se este “meio termo”, entre o formal e o (quase) intimista, será a melhor aproximação da “virtude” desejável. Também não sei se estas palavras -- que comecei a alinhavar sem lhes conhecer o rumo --, serão as apropriadas para lhe testemunhar a minha consideração. Nem sei se a homenagem do jornal O MIRANTE cumpriu bem a intenção dos seus promotores. Uma esperança-quase-certeza alimento: a da benevolência do Professor Rómulo de Carvalho para com um admirador reconhecido pelo muito que fez por muitos, de muitas maneiras.
Respeitosos cumprimentos de
Eduardo Martinho»
É na sequência desta mensagem que o Professor Rómulo de Carvalho teve a gentileza de me escrever o seguinte cartão pessoal:
Fica assim completa a história mencionada no início deste post, que julgo ter valido a pena contar pela enorme estatura de Rómulo de Carvalho/António Gedeão.
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