quinta-feira, 7 de julho de 2011

Selecção de Professores

O editorial de hoje (Público, 03/09/2007) insurge-se contra a «imposição de testes específicos a todos os que acabam esses cursos [de formação de professores] e pretendem ingressar na carreira docente». A meu ver, a enorme importância do assunto justifica alguns comentários.
1. Iniciar o artigo com a afirmação de que «O Ministério da Educação não confia no Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior» não ajuda a focar o problema. Nesta matéria, não se trata de saber quem (não) confia em quem. A questão essencial consiste em saber se se deve fazer uma selecção dos futuros professores e, no caso afirmativo, como proceder para identificar correctamente os melhores de entre os candidatos a professor.
2. Quais são os melhores candidatos a professor? Boa pergunta! Há qualquer coisa de indefinível, que “não vem nos livros”, que faz com que os bons professores – aqueles que marcam os alunos e são recordados – se destaquem dos outros. Serão, em geral, as qualidades humanas? o perfil físico? o tom de voz? a experiência? o empenhamento? a imaginação? a disponibilidade? o jeito para dialogar? a capacidade de fomentar e gerir cumplicidades? será uma vocação natural? Não sei. Dos professores, bem se poderia dizer também que “são muitos os chamados, mas poucos os escolhidos”.
3. Sou, pois, a favor de uma selecção, mas não com base (pelo menos, exclusivamente) em critérios de tipo escolar. Concordo com o editorialista quando afirma que cabe à Universidade assegurar que um candidato a professor conhece a matéria específica em que se licenciou, que deve dominar a língua materna, estar familiarizado com as novas tecnologias de informação, etc.; em resumo, que tem as óbvias competências básicas necessárias para leccionar. Neste particular, convém saber se os candidatos a professor provêm apenas de licenciaturas em formação de professores e se provêm apenas das universidades públicas, o que julgo não ser o caso. O sistema educativo não deveria ser um «vazadouro», mas infelizmente o desemprego obriga muita gente a procurar o ensino por necessidade e não por vocação.
4. Em Novembro de 1996, Rómulo de Carvalho («professor, pedagogo, historiador e divulgador da Ciência, tudo em nome do Ensino») deu uma entrevista notável ao JL/Educação. Dizia ele que a aptidão para o ensino «não é coisa que os professores aprendam nas escolas, quando estão a preparar-se para a profissão, é uma coisa natural», mas dizia também «fartei-me de trabalhar, sabe, fartei-me de trabalhar.» Das palavras de Rómulo de Carvalho parece legítimo retirar a conclusão de que na base do êxito de um professor, está a vocação, mas que é imprescindível muita transpiração... Julgo, pois, que, na selecção futura dos candidatos a professor, mais do que (por exemplo) a média da licenciatura, importa a sinceridade da vocação, a honestidade da motivação, a força da determinação e uma razoável cultura geral. A transpiração vem depois, por imperativo destas exigências.
A terminar, uma ressalva: Esta “teoria da vocação” é válida para ministérios da Educação que não estejam contra com os professores, caso contrário não há motivação que resista nem transpiração que dignifique.

Publicado em 15.Setembro.2007 no blogue convidado do PÚBLICO
http://dererummundi.blogspot.com/2007/09/seleco-de-professores.html

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