Nos últimos dias ocorreram dois
acontecimentos que irão condicionar politicamente o próximo ano. Refiro-me ao
caso Passos Coelho-Tecnoforma e à disputa interna no Partido Socialista entre António
Costa e António José Seguro.
Já aqui dissemos que Seguro cometeu um
erro político ao não responder ao desafio de Costa como impunha a lucidez. Em
vez de ir logo à luta em campo aberto, preferiu “refugiar-se em tábuas”, como
se diria no Ribatejo (sem ofensa para ninguém).
O erro político cometido teve vários aspectos
desfavoráveis a Seguro:
1. Ao lançar mão das
eleições primárias, com as quais pretendeu ganhar não se sabe bem o quê, deu
tempo de antena a Costa como aconteceu nos debates televisivos, quando é certo
que Costa já tinha um prestígio apreciável na área da comunicação social, ganho
sobretudo com o programa “Quadratura do Círculo” em que participa há bastante
tempo com Pacheco Pereira e Lobo Xavier.
2. Ao incluir
simpatizantes no processo das eleições primárias, Seguro ofereceu de mão beijada
a todos os que não o apreciavam (fora do universo dos militantes) a
possibilidade de manifestarem a sua opinião, que lhe era obviamente contrária.
3. Ao optar por uma
atitude agressiva em relação ao adversário, faceta que não se lhe conhecia, deu
a ideia de ser um “queixinhas” ressabiado, que estava agarrado ao lugar ao
ponto de não olhar a meios para atingir os fins.
4. Também não se
percebe a vantagem de criar artificialmente um antagonismo demagógico entre cidade
e campo, província e capital, entre os “doutores de Lisboa” e os portugueses da
província.
Foram demasiados erros. À partida, quando
foi desafiado por Costa, Seguro tinha o aparelho do partido nas mãos, fruto do
seu trabalho persistente de formiguinha junto das distritais e concelhias do PS.
Se, nesse preciso momento, tivesse optado logo por “ir a jogo”, Seguro teria
ganho as eleições. Com o avançar do tempo, sabe-se como é: um erro aqui, outro
ali, os ventos começam a mudar de direcção, vai-se formando uma opinião e, a
certa altura, a pessoa adulada, embalada por abraços e beijinhos, começa a
perder o pé…
A cena final teve algo de dramático. Seguro
pede a demissão de secretário-geral do PS (honra lhe seja por ter cumprido a
palavra!), sai da sede do partido com a família e enceta um novo ciclo de vida
como militante de base, ainda assim com o lugar de deputado à sua espera. Em
contrapartida, Costa ganha as eleições por uma margem significativa, sai do
Fórum Lisboa em clima de apoteose, vem para a sede do PS onde é aclamado e…
toma conta da cadeira deixada vazia momentos antes. É assim a democracia.
Que dizer agora do caso Passos Coelho-Tecnoforma?
Pouca coisa. Foi também um erro de “timing”. As dúvidas sobre a sua
honorabilidade podiam ter sido (praticamente) eliminadas se Coelho tivesse
optado por uma declaração atempada de inocência. Como não o fez, e se deixou ficar
à mercê de um fogo brando durante uma semana, saiu “chamuscado” da espera... Doravante,
perante as dúvidas que ainda subsistem, a ideia de homem impoluto pertence ao
passado. E com isto o político sofreu um rude golpe, eventualmente mortal.
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