Meu artigo publicado ontem n'O MIRANTE online (09.Set.2014, 10h24)
É sabido que, quando há eleições nacionais, todos os
partidos ganham. Na matemática os números contam, mas na política é diferente,
contam pouco. Há sempre maneira de os espremer até darem o resultado que se
pretende. Só mesmo uma catástrofe pode levar um chefe de partido a reconhecer
uma derrota eleitoral.
Julgava eu que tal não se passaria nas eleições para as
federações distritais do Partido Socialista. Qual quê?! Na minha ingenuidade, esqueci-me
que os resultados poderiam ter influência na escolha do candidato a candidato…
a primeiro-ministro, seja António José Seguro ou António Costa. Vai daí começou
logo a guerra dos números: Costa teve mais federações, exultam uns, Seguro teve
mais votos, alegram-se outros. Ora, num acto eleitoral em que se diz que houve mortos
a pagar quotas atrasadas e ausentes a votar, tudo é possível.
Mas o melhor da festa ainda está para vir. Porquê? Porque
está em jogo uma novidade chamada eleições primárias, a que se juntou uma outra
invenção, a dos eleitores simpatizantes. Quem foi o autor das invenções?
Seguro. Para quê? Para ganhar tempo. Porquê? Porque Seguro é um político
profissional que (provavelmente) não se vê a fazer outra coisa na vida e se viu
ameaçado quando julgava ter tudo sob controlo… além de que quem tira um coelho
da cartola, pode tirar dois ou três. É só uma questão de tempo e oportunidade.
O problema é que Seguro cometeu um erro político ao não responder
ao desafio de Costa como se impunha. Em vez de ir logo à luta em campo aberto,
preferiu refugiar-se em artifícios estatutários ― em nome da
democraticidade do processo, claro! ― para protelar a decisão final. Aparentemente
revelou falta de carácter, acusação que faz agora a Costa. Convém lembrar que, no
início da refrega, o presidente da distrital de Coimbra classificou a
iniciativa de Costa como sendo um “acto de alta traição”, e não ouvi ninguém
chamar o dito senhor à razão.
Quero com isto dizer que Costa é melhor para o País? Não.
Porquê? Porque Costa é igualmente um político profissional, que foi o “segundo”
de Sócrates e é apoiado por ele. Não sendo esta proximidade condenável em si
mesma, traz à mente um passado recente indesejável. A este nível, ninguém é
santo ou diabo, digamos antes que é tudo farinha do mesmo saco…
Ainda estão por concretizar os debates entre Seguro e
Costa na televisão, mas uma coisa parece inquestionável: o PS sai fragilizado
deste imbróglio. A quem poderá servir a situação? Por incrível (?) que pareça,
talvez ao PSD porque, além do mais, tem na mão o saco das migalhas com que pode
cativar um povo com memória fraca. Daqui a um ano se saberá.
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