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Recordei outro estudo, promovido por Joana Santos Rita e
Ivone Patrão, investigadoras do Instituto Superior de Psicologia Aplicada,
segundo o qual metade dos professores portugueses sofre de stress, ansiedade e
exaustão. E vi que as causas apuradas são o excesso de trabalho e de burocracia
e a pressão para o sucesso. E vi, vejo, o que o ministro Crato tem por sucesso:
caminhos que desprezam a natureza axiológica da Educação, tentando impor-lhe o
modelo de mercado, fora ela simples serviço circunscrito a objectivos
utilitários e instrumentais, regulada apenas por normas de eficácia e
eficiência.
E recordei, então, uma carta a um professor, transcrita
num livro de João Viegas Fernandes (Saberes, Competências, Valores e Afectos,
Plátano Editores, Lisboa, 2001):
“… Sou sobrevivente de um campo de concentração. Os meus
olhos viram o que jamais olhos humanos deveriam poder ver: câmaras de gás
construídas por engenheiros doutorados; adolescentes envenenados por físicos
eruditos; crianças assassinadas por enfermeiras diplomadas; mulheres e bebés
queimados por bacharéis e licenciados…
… Eis o meu apelo: ajudem os vossos alunos a serem
humanos. Que os vossos esforços nunca possam produzir monstros instruídos,
psicopatas competentes, Eichmanns educados. A leitura, a escrita e a aritmética
só são importantes se tornarem as nossas crianças mais humanas".
Basta um esforço ínfimo de memória para qualquer se
aperceber de quanto deve aos professores. Chega uma réstia de inteligência para
qualquer perceber que um ataque aos professores é um ataque ao futuro
colectivo. Porque tenho a graça de ter voz pública, começo 2014 com um abraço
aos professores portugueses.
Prof. Santana Castilho
Público, 02.Jan.2013
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