Artigo completo de Carlos Fiolhais AQUI.
«[...] O ministro da
Economia pouco sabe de Educação e de Ciência. E, absorto como tem andado nos
seus negócios (tanto das empresas como da política, os dois entre nós muito bem
misturados), também sabe pouco da vida real. Se soubesse, saberia, por exemplo,
o que recordou há semanas no Porto, numa conferência sobre Ciência, Economia e
Crise, o físico espanhol Pedro Echenique. Em 1995, quando se discutia nos
Estados Unidos uma diminuição do financiamento público à investigação
científica, os CEO de 15 das principais empresas de base
científico-tecnológica, como a IBM e a General Electric, subscreveram
uma carta aberta pedindo o reforço da ciência fundamental. Queriam que o
Congresso continuasse o apoio "a um vibrante programa de investigação
universitária com visão de futuro".
Acontece que o
futuro costuma chegar pela mão de cientistas inovadores, em geral muito longe
da “economia real”. Não faltam exemplos. O laser foi inventado há mais
de 50 anos, numa equipa de ciência fundamental (ora cá está: a óptica
quântica!) que trabalhava nos Bell Labs. Na altura foi chamado uma
descoberta à procura de aplicações. Hoje é o que se sabe: está por todo o lado,
nos cabos ópticos, nos CD, nas cirurgias, no corte de materiais, nas luzes das
discotecas e até nas caixas de supermercados, por onde passam os códigos de
barras das cervejas. Com a orientação de Pires de Lima jamais teria havido
lasers.
Existe, de facto,
em Portugal um problema de ligação das empresas com a investigação. Mas ele não
se resolve com a diminuição da investigação fundamental. Não se resolve com
menos ciência, mas sim com mais ciência. Precisamos, em particular, que os
gestores percebam o valor da ciência, tal como os seus congéneres
norte-americanos, e invistam nela, apoiando os programas públicos de ensino
avançado e pesquisa, e contratando, com o seu próprio dinheiro, doutores e
pós-doutores. Não precisamos de economias na ciência, mas sim de pessoas na
economia que apostem na ciência.»
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