(cf. http://www.omirante.pt/ e aqui)
Em geral os governantes não são completamente
indiferentes ao que os órgãos de comunicação social dizem de certas reivindicações.
Como assunto não publicado, é assunto que “não existe”, importa publicitar
convictamente a causa em que se acredita.
O Laboratório Nuclear de Sacavém passou
por uma situação de indefinição particularmente delicada a partir de Novembro
de 1992, quando se teve conhecimento da decisão do ministro Mira Amaral de o excluir
da estrutura orgânica do Ministério da Indústria e Energia. A ideia era,
segundo a versão oficial, “promover o
estudo da viabilidade de constituição de um consórcio com as universidades (…)
para enquadrar as actividades do
Laboratório que não fossem extintas”. Esta “conversa” ambígua e ameaçadora
deixava no ar as maiores incertezas.
A publicação de um artigo num jornal nacional de referência parecia uma iniciativa adequada para denunciar o risco de desmantelamento de um complexo laboratorial bem apetrechado, com prestígio científico nacional e internacional, e o único existente no país com alguma capacidade de resposta global no domínio nuclear.
A publicação de um artigo num jornal nacional de referência parecia uma iniciativa adequada para denunciar o risco de desmantelamento de um complexo laboratorial bem apetrechado, com prestígio científico nacional e internacional, e o único existente no país com alguma capacidade de resposta global no domínio nuclear.
Com um escrito nas mãos, fui à
redacção do semanário EXPRESSO. Disse ao que ia, e esclareceram-me: “Esse assunto é com o senhor Coimbra, mas ele
não está. Se quiser esperar…”. Ao fim de algum tempo, chegou o tão
aguardado interlocutor. Resumi-lhe o que se estava a passar com o Laboratório
de Sacavém. Ele leu o que eu escrevera e disse-me: “Nós publicamos isto”. Era um bom ponto de partida… E assim, em 19
de Dezembro, o EXPRESSO publicava o texto “A
nossa opção nuclear” como artigo de opinião. [Diga-se que, depois desse
encontro, algumas vezes mais estive com o “senhor Coimbra” – José Henriques
Coimbra (1937-2009) – a cuja memória rendo aqui homenagem.]
Com a divulgação
destes artigos, acreditámos que a batalha dos jornais estaria ganha, dado que
fora levada à opinião pública a voz dos que estavam genuinamente preocupados
com o futuro de uma instituição ímpar em Portugal.
A defesa do Laboratório de
Sacavém feita nos jornais e as diversas acções de sensibilização realizadas por
colegas meus junto de personalidades do meio científico e académico, acabaram
por alterar o cenário inicial de incerteza. Por fim, em Dezembro de 1994, após
dois anos de indefinição, era aprovada a lei orgânica do Instituto Tecnológico
e Nuclear, acertadamente mantido na íntegra e como instituição autónoma. Quem
porfia...
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