Quando se soube que José Sócrates iria fazer comentário
político na televisão pública, surgiram duas petições de sinal contrário. É compreensível
a bipolarização, dado que o ex-líder do PS tem uma personalidade e um passado que
despertam reacções de amor-ódio.
Na petição “Recusamos
a presença de José Sócrates como comentador da RTP”, dirigida em particular
aos deputados da Assembleia da República e ao presidente da RTP, os cidadãos
subscritores diziam, no essencial, que José Sócrates não devia ter qualquer
programa numa empresa que é paga com o dinheiro dos contribuintes, os quais
estão a sofrer com o resultado da sua gestão danosa enquanto primeiro-ministro.
Por sua vez, na petição “A favor da presença de Sócrates na RTP”, dirigida à Assembleia da
República, os cidadãos subscritores entendiam basicamente que o balanço da sua
governação depende da avaliação de cada um e que se deve respeitar o princípio
do contraditório para defesa quer das opções tomadas quer do bom nome, neste
caso face aos ataques do actual Governo para encobrir o seu próprio falhanço.
Embora inicialmente me sentisse tentado a subscrever a
petição “contra”, não a assinei. É que me pareceu completamente inútil
dirigi-la aos deputados da Assembleia da República. Aliás, as petições talvez nem
tivessem razão de existir se quem teve a responsabilidade do convite o assumisse
e explicasse oportunamente. Entretanto, o presidente da RTP já veio dizer que o
programa é “serviço público” e susceptível de melhorar as audiências… Ficámos esclarecidos.
Antecipei que o programa de José Sócrates não me iria trazer
nada de novo. Isso mesmo confirmei na entrevista dada à RTP1 a 28 de Março, para
o que me bastaram apenas os primeiros quinze minutos. Uma pessoa não muda só
porque esteve dois anos em Paris, supostamente a estudar filosofia. A sua
“narrativa” é uma velha e conhecida história de autojustificação do interessado.
Só converte os já crentes.
Vem a propósito recordar uma passagem do artigo
“O tempo de Sócrates acabou”, da
autoria de Esther Mucznik, aparecido no PÚBLICO em 19.Maio.2011: «Muito se tem
falado sobre o “profissionalismo” de Sócrates, do seu virtuosismo
mediático, de conseguir falar apenas do que lhe interessa, de encostar os adversários
à parede, etc., etc. Provavelmente, neste tipo de coisas, será rei. Mas é
precisamente o tipo de político de que Portugal não precisa: não precisamos de
quem negue e mascare a realidade em permanência, de quem escamoteie as suas
responsabilidades, de quem seja um ás na culpabilização dos outros. Pode haver
quem considere esta actuação como o expoente máximo da sabedoria política. Eu
vejo-a como um miserável manobrismo de um homem cujo ego lhe subiu tanto à
cabeça que deixou de ver o país.»Nota - Texto escrito em 05.Abril.2013 para uma finalidade que não chegou a concretizar-se.
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