(ver http://www.omirante.pt/ e aqui)
Face ao
que nos é dado observar desde há oito anos na área da Educação, compreende-se
que a classe docente tenda a confiar cada vez menos nos dirigentes do Ministério.
No consulado de Maria de Lurdes Rodrigues (2005-2009) começou o desatino da
desconsideração dos professores e da instabilidade no sistema educativo. O
desagrado atingiu o seu clímax em Março de 2008, expresso numa Marcha da
Indignação que levou 100 mil professores à rua.
Quando Nuno Crato chegou ao ministério da Educação, houve
pessoas que saudaram a sua nomeação, crentes de que haveria uma alteração de
política e uma mudança de atitude para com os professores, dadas as críticas que
o próprio tinha feito no tempo do anterior executivo. Com o passar dos meses começou
a perceber-se que não havia razões para tanta expectativa.
No momento presente, com a novidade de os professores do
quadro sem componente lectiva (horário zero) passarem a ser abrangidos pela
mobilidade especial – com o salário reduzido a metade e despedimento ao fim de
dois anos neste regime –, volta a colocar-se a questão da confiança dos
professores no Ministério que os tutela. É que, ao longo de 2012, o ministro
Nuno Crato garantiu repetidas vezes que tal não aconteceria. Também o
secretário de Estado Casanova Almeida em Setembro, na Assembleia da República, garantiu
o mesmo, mas agora veio dar o dito por não dito com uma espécie de graçola: Como a mudança de regime só se aplica no
próximo ano lectivo, o compromisso foi cumprido! Salvo melhor opinião, isto
é um argumento do tipo chico-esperto que não fica bem a um membro do Governo.
Esta situação – que pode atirar ainda mais professores
para o desemprego – a par de outras medidas que vão no mesmo sentido (criação
de monstruosos agrupamentos escolares, “rescisões amigáveis” com funcionários
públicos dos escalões mais baixos, etc.), poderia ser assumida honestamente como
uma “contribuição” do ministério da Educação para os cortes (as ditas poupanças…)
em perspectiva. Mas não, são invocados argumentos mais ou menos ardilosos para tudo
explicar em nome de objectivos que não são os reais.
The International
Herald Tribune publicou em 20 de Março último um artigo de Jonathan Blitzer que, dando o mote, começa
assim: «A política de Educação não é o ponto forte do Governo Português».
A terminar, o jornal reproduz uma afirmação esclarecedora de um dirigente de
uma escola de Lisboa: «O ministério encarregado da Educação em Portugal é,
na verdade, o Ministério das Finanças». Ou seja: a troika manda, as
Finanças obedecem e os da Educação executam, quais ajudantes que prescindem de
convicções, entendendo porventura que a coerência não é uma bandeira de
virtudes.
Ilustração: © Antero Valério
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