Quando se é professor, é vulgar
haver situações em que se é solicitado para qualquer coisa do tipo “veja lá o
que pode fazer”. Foi o caso do senhor reitor da Universidade que me telefonou
um dia, quando eu dava aulas de Física Atómica na Faculdade de Ciências de
Lisboa. O aluno tinha tido nota baixa na prova escrita, o que o impedia
de ir a exame oral. Eu ainda disse ao reitor que sempre aproveitava tudo o que
podia ser aproveitado na escrita para dar a oportunidade da oral, mas que iria
rever a prova. Reapreciada a prova escrita, nada havia a acrescentar à nota… e
tudo ficou como estava. Julgo saber que o senhor reitor não apreciou a minha
falta de flexibilidade.
Situação mais delicada foi quando
um professor da Faculdade, que havia sido meu assistente, veio a minha casa
para me dar conta da preocupação de uma mãe viúva a quem o filho informara que eu não
lançara a nota na pauta, porventura por esquecimento... Ora o aluno era filho e tinha o apelido sonante de um eminente matemático já falecido, e eu nem sequer tinha memória
de que alguém com esse apelido tivesse sido meu aluno. Perante a insistência do
meu interlocutor – “essas coisas acontecem”, dizia ele, ao que afirmei “comigo
nunca aconteceram” – dispus-me a marcar um encontro com o dito aluno para o
conhecer e esclarecer a situação. O visado não compareceu ao encontro… e o
professor acabou a pedir-me desculpa embaraçado com o sucedido.
Um professor de uma escola de
engenharia procurou-me um dia no meu gabinete do Laboratório Nuclear de
Sacavém. Queria falar-me de um concurso para preenchimento de uma vaga na
carreira de investigação a que concorria um seu familiar. Acontece que o
candidato fazia parte da minha equipa, mas eu não fazia parte do júri do
concurso. Quando perguntei ao meu interlocutor o que pretendia ele exactamente,
deu-me a entender que há sempre maneira de interceder… Registei a novidade
(para mim) de que se pode dar um jeitinho “por fora”. O concurso acabou mal
para o candidato.
Estas evocações fazem-me lembrar
uma história que me foi contada pelo falecido doutor José Nunes Petisca,
distinto médico veterinário chamusquense. Dois irmãos iam fazer exame oral da
mesma disciplina no mesmo dia, e o pai solicitou um empenhozinho ao professor,
que era seu amigo. Finda a prova do primeiro irmão, que correu pessimamente, o
professor perguntou-lhe se ele sabia nadar. Que sim, sabia, respondeu o aluno
estranhando a pergunta. A cena repetiu-se exactamente com o segundo irmão, que
à última pergunta respondeu que não sabia nadar. Reprovaram ambos. Quando o pai
interrogou o professor sobre o resultado, este justificou-se: Que podia eu fazer?
Um nada, o outro nem isso!
Sem comentários:
Enviar um comentário