sábado, 21 de janeiro de 2012

Densidade(s)

Não deixo acumular as mensagens no correio eletrónico. Não deixo acumularem-se as novidades do digital, trazidas por amigos e colegas Não deixo adensarem-se as novidades, que eu própria procuro ao preparar as muitas ações que o ano de 2012 trará. Isso significa nunca interromper o fluxo de trabalho digital, nem mesmo nas épocas festivas como a que passou. Verdade seja dita, nos tempos em que era tempo de presentes, tão pouco deixava acumular as obrigações das festas e chegava a dezembro serenamente sem compras para fazer. Talvez seja coisa minha, talvez aguçado instinto de sobrevivência. Sou rápida para poder ser lenta. Sou organizada para poder ter um tempo vazio e desordenado à minha espera. Adio a gratificação para saborear a cobertura doce do bolo no final de cada dia. Adormeço sem insónia com a leveza do dever cumprido.
Gosto de abrir a caixa do correio e não a ver invadida com muitos centímetros de escuro por ler. Lido mal com a densidade das coisas reais e digitais. Falta-me ar se o espaço não tiver uma dose essencial de luz e branco à minha espera. Não sei exatamente como aprendi a lidar com a avassaladora velocidade dos dias e da informação que nos invade dentro deles. Não foi a escola, acho. Ou terá sido? Defendo-me sendo egoísta no meu tempo de rede. Escrevo para os outros, mas começo a conter o desejo de dizer. Bebo menos o que os outros oferecem, mas aprendo a arte de escutar. Seleciono com precisão cirúrgica o que quero. Apago, arrumo, escondo tudo o que não me apetece. Recuso bem mais do que aceito. Aprendo a apreciar o silêncio como a palavra mais importante dos anos que estão para chegar.
O mundo assim intenso e denso parece ter passado a viver em nós em vez de nós nele. Como pode a escola ajudar os alunos a navegar neste universo de tanta(s) densidade(s)? De que forma se pode ensinar a importância do dever sem prescindir da respiração? Que mundo ainda mais intenso nos aguarda? Que desafios nos tentarão engolir, que barcos inventaremos para a aventura tão necessária da evasão?
Do futuro não sei mais do que o que todos sabem: há de ser presente, há de ser passado. A única certeza dos dias é a importância de os sugar sem sermos sugados.
A escola, mais do que nunca, terá de encontrar o equilíbrio certo entre o tempo de que precisa e o tempo que já não há, nem tem. Os cidadãos, que estamos a preparar para um mundo cada vez mais desconhecido, deverão desenvolver a mais preciosa arte de todas: (sobre)viver felizes.

Teresa Martinho Marques
Artigo publicado no Correio da Educação, ASA, Janeiro.2012
(Texto redigido segundo o novo Acordo Ortográfico)

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