segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Pensar globalmente, actuar localmente

O leitor sabe que, quando queima lenha, carvão ou gás, está a produzir dióxido de carbono -- assim se chama o gás resultante da combustão -- o qual contribui para o chamado efeito de estufa, donde poderá resultar um sobreaquecimento da Terra, com efeitos graves para o clima e para a vida do Homem (as previsões apontam no sentido de poder haver, num futuro não muito distante, fusão de gelos polares, acompanhada de subida do nível da água dos mares e inundação de vastas zonas costeiras; carência de água, seca e desertificação em certas regiões, e chuvas diluvianas noutras)?
Já pensou que, quando anda no seu automóvel (sem necessidade, às vezes), está a produzir dióxido de carbono através da queima de gasolina ou de gasóleo?
Tem consciência de que, quando utiliza energia eléctrica (nem sempre bem), “produz” dióxido de carbono -- porque as centrais electroprodutoras convencionais queimam combustíveis fósseis (como o carvão e o fuelóleo)? 
Faz ideia de que, quando consome esse bem precioso que é a água potável da rede pública, também está a “produzir” dióxido de carbono -- porque nos processos de captação, tratamento e distribuição da água é utilizada energia eléctrica?
E que o mesmo se passa, por razões análogas, com praticamente tudo o que consome (e desperdiça, por vezes) no dia-a-dia?

Teve conhecimento de que estiveram recentemente reunidos em Berlim [em Durban, este ano] várias centenas de governantes, ambientalistas e cientistas de largas dezenas de países, na chamada Conferência das Partes da Convenção sobre Alterações Climáticas, para discutir os problemas relacionados com o efeito de estufa, tendo em vista limitar e reduzir as emissões de dióxido de carbono? 
Sabe que a Conferência de Berlim -- a que se seguirá a Conferência de Tóquio, em 1997 -- vem na sequência de uma Cimeira realizada no Rio de Janeiro, em 1992, onde a necessidade da redução das emissões  de dióxido de carbono já havia sido objecto de negociações, mas sem grande sucesso prático? 
E sabe que agora, em Berlim, também não foram feitos progressos substanciais [em Durban também não] que nos tranquilizem relativamente às alterações climáticas que a Terra poderá sofrer no futuro?
Imagina quão difíceis devem ser as decisões políticas sobre esta matéria, quando estão em jogo interesses económicos contraditórios, em que tanto os países pobres como os países ricos não querem reduzir as emissões de dióxido de carbono, embora por razões diferentes -- uns para não comprometerem o seu desenvolvimento, os outros para não perderem competitividade?

Que fazer então? perguntará o leitor.
Como poderemos contribuir, individualmente, para a resolução de um problema complexo, a nível global 
-- perante o qual nos sentimos impotentes -- se a nossa acção se faz sentir apenas a nível local?
 Deixo-lhe uma pista que se afigura estimulante: uma das chaves desta questão reside na possibilidade que cada um de nós tem de pensar globalmente e actuar localmente! Aliás, este lema é válido para todos os “efeitos de estufa” que nos afectam, a qualquer nível, seja na nossa rua; na colectividade que frequentamos; na praia onde passamos férias; no município, na região ou no país a que pertencemos, enfim, no mundo que queremos mais apetecível. No fundo, a resolução dos problemas colectivos -- que nunca são apenas dos “outros”... -- passa pela maneira como os encaramos e por comportamentos individuais coerentes com a ideia que tivermos do que deve ser feito para os resolver. 

Nota -- A primeira vez que li a expressão “Pensar globalmente, actuar localmente” (“Think global, act local”, no original) foi num cartaz afixado no Centro Norte-Sul do Conselho da Europa, há cerca de três anos. Foi uma revelação: ali estava uma explicitação eficaz do que dá sentido à acção individual. Como nunca pensara nisso?! Depois de desvendadas, as evidências tornam-se óbvias...

Artigo publicado no jornal O MIRANTE, 25.Abril.1995

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