Um dos métodos científicos utilizados para conhecer as características de um sistema - seja um simples átomo ou uma complexa obra de engenharia - consiste em “interrogar” o sistema, excitando-o, e analisar a sua resposta. Com os indivíduos passa-se algo de semelhante. É sabido que a conversa “mole” nada esclarece sobre quem o interlocutor realmente é. Pelo contrário, se essa pessoa estiver (bem) excitada - para o que poderá ser intencionalmente provocada - então ela revelar-se-á na sua verdadeira dimensão.
O que se passa na Lusitânia mostra que aquele método também funciona a nível do PSD, o partido do ainda grão-vizir Cavacus. Bastou ele anunciar a sua próxima retirada de funções: a excitação foi tanta que ficou (quase) tudo à mostra. A ponto de já se dizer: «Afinal, Cavacus e o cavacusismo eram um enorme “bluff”!»
De facto, pensávamos nós que tudo estava bem no vizirado, que Cavacus era reconhecidamente o Maior, que o grão-vizir tinha a solidariedade e o respeito dos vizires, que não havia negócios reprováveis misturados com política, e outras coisas mais, mas parece que não era (não é) bem assim. De repente, excitado que foi o sistema, começaram a surgir críticas veladas, acusações implícitas, enfim, indicações preocupantes sobre a qualidade da herança do governo do grão-vizir, no bom velho estilo “Eu não tive nada a ver com isso!” - que condiz, aliás, com a designação do partido (Partido dos Senhores Desculpabilizados).
Uma constatação chocante, para um modesto cronista ribatejano, é que se deixou praticamente de ouvir falar de Cavacus, considerado o Grande Timoneiro durante dez anos, e à sombra do qual tantos medraram e se fizeram alguém na política (e não só, aparentemente). De um dia para o outro, o grão-vizir desapareceu de circulação, não interessa, é como se não existisse. E o governo, ainda existe?
Para o lugar de grão-vizir, perfilaram-se três candidatos. Dois deles são de maior peso, dizem os entendidos, decerto por terem tido grandes responsabilidades ao longo do consulado de Cavacus: o vice-grão-vizir, desde logo, e o vizir encarregado das relações externas do sultanado. Os restantes vizires, também eles excitados, começaram de imediato a dar palpites: “Nogueiraz ao leme!”, exclamavam uns; “Barrosus ao poder!”, contrapunham outros. Isto apesar das orientações do grão-vizir: “Meus senhores, tenham calma, façam como eu, não se pronunciem sobre a sucessão”. Mas, agora, os vizires já se permitem desrespeitar os conselhos do chefe...
Nogueiraz, apesar de braço direito de Cavacus, não esteve com meias medidas. Ele, que parecia tão humilde, tão sempre em sintonia com o grão-vizir, agora acha que é o Máximo. E diz mesmo que vai inovar, fazer diferente - para melhor, imagina-se - corrigindo o que (afinal) estava mal: “Quem me quiser seguir, tem de optar entre fazer política ou ganhar dinheiro!” E, tão entusiasmado anda com o resultado da contagem das armas (talvez por ser o vizir da Defesa), que já anunciou que o seu inimigo não é o Lopis, nem tão-pouco o Barrosus, mas sim o Guterris. Veremos.
Quanto ao vizir Barrosus - maldosamente apontado por alguns como o braço esquerdo de Cavacus - também não se fez rogado. Na apresentação da sua candidatura ao lugar de grão-vizir, distanciou-se do “antigamente”, mas com mais argúcia. A governação passada? Sim, MAS... É isso: um grande “mas”, com reticências e tudo. E, como não brinca em serviço, já foi anunciando que não se importa de ser o “número dois” de Nogueiraz. Quer dizer: aposta nos dois cavalos.
Continue atento, leitor. Estamos a poucos dias da Reunião Magna do PSD. É provável que as cenas branqueadoras dos próximos capítulos sejam também a não perder.
O que se passa na Lusitânia mostra que aquele método também funciona a nível do PSD, o partido do ainda grão-vizir Cavacus. Bastou ele anunciar a sua próxima retirada de funções: a excitação foi tanta que ficou (quase) tudo à mostra. A ponto de já se dizer: «Afinal, Cavacus e o cavacusismo eram um enorme “bluff”!»
De facto, pensávamos nós que tudo estava bem no vizirado, que Cavacus era reconhecidamente o Maior, que o grão-vizir tinha a solidariedade e o respeito dos vizires, que não havia negócios reprováveis misturados com política, e outras coisas mais, mas parece que não era (não é) bem assim. De repente, excitado que foi o sistema, começaram a surgir críticas veladas, acusações implícitas, enfim, indicações preocupantes sobre a qualidade da herança do governo do grão-vizir, no bom velho estilo “Eu não tive nada a ver com isso!” - que condiz, aliás, com a designação do partido (Partido dos Senhores Desculpabilizados).
Uma constatação chocante, para um modesto cronista ribatejano, é que se deixou praticamente de ouvir falar de Cavacus, considerado o Grande Timoneiro durante dez anos, e à sombra do qual tantos medraram e se fizeram alguém na política (e não só, aparentemente). De um dia para o outro, o grão-vizir desapareceu de circulação, não interessa, é como se não existisse. E o governo, ainda existe?
Para o lugar de grão-vizir, perfilaram-se três candidatos. Dois deles são de maior peso, dizem os entendidos, decerto por terem tido grandes responsabilidades ao longo do consulado de Cavacus: o vice-grão-vizir, desde logo, e o vizir encarregado das relações externas do sultanado. Os restantes vizires, também eles excitados, começaram de imediato a dar palpites: “Nogueiraz ao leme!”, exclamavam uns; “Barrosus ao poder!”, contrapunham outros. Isto apesar das orientações do grão-vizir: “Meus senhores, tenham calma, façam como eu, não se pronunciem sobre a sucessão”. Mas, agora, os vizires já se permitem desrespeitar os conselhos do chefe...
Nogueiraz, apesar de braço direito de Cavacus, não esteve com meias medidas. Ele, que parecia tão humilde, tão sempre em sintonia com o grão-vizir, agora acha que é o Máximo. E diz mesmo que vai inovar, fazer diferente - para melhor, imagina-se - corrigindo o que (afinal) estava mal: “Quem me quiser seguir, tem de optar entre fazer política ou ganhar dinheiro!” E, tão entusiasmado anda com o resultado da contagem das armas (talvez por ser o vizir da Defesa), que já anunciou que o seu inimigo não é o Lopis, nem tão-pouco o Barrosus, mas sim o Guterris. Veremos.
Quanto ao vizir Barrosus - maldosamente apontado por alguns como o braço esquerdo de Cavacus - também não se fez rogado. Na apresentação da sua candidatura ao lugar de grão-vizir, distanciou-se do “antigamente”, mas com mais argúcia. A governação passada? Sim, MAS... É isso: um grande “mas”, com reticências e tudo. E, como não brinca em serviço, já foi anunciando que não se importa de ser o “número dois” de Nogueiraz. Quer dizer: aposta nos dois cavalos.
Continue atento, leitor. Estamos a poucos dias da Reunião Magna do PSD. É provável que as cenas branqueadoras dos próximos capítulos sejam também a não perder.
Crónica publicada no jornal O MIRANTE em 14.Fevereiro.1995
Sem comentários:
Enviar um comentário