sábado, 17 de junho de 2017

Morreu Helmut Kohl (1930-2017), um grande europeu



Teresa de Sousa (Público, 17.Junho.2017) 

No dia 11 de Janeiro de 1996, 61 chefes de Estado e de Governo reuniram-se na Notre Dame, em Paris, para prestar a última homenagem a François Mitterrand. A figura de Helmut Kohl, o chanceler da Alemanha, destacava-se inevitavelmente entre os convidados. Imóvel, as lágrimas caíam-lhe pelo rosto. Perdia um amigo, um homem excepcional que partilhou com ele os infortúnios da História europeia mas também a capacidade de a salvar do seu próprio passado. Ambos tinham vivido a guerra. O Presidente francês, mais velho, vivera os terríveis dilemas morais da mais envergonhada das derrotas. Foi prisioneiro de guerra. Entrou na Resistência. O mais novo conheceu a tragédia da guerra na sua cidade natal, Ludwigshafen, na Renânia, mil vezes bombardeada pelos aviões aliados, numa família modesta de católicos fervorosos e pouco amigos de Hitler. Foi recrutado aos 15 anos para o corpo de bombeiros. Viu o seu irmão mais velho morrer na frente de batalha da Normandia, em 1944. Quando quis dar o seu nome, Walter, ao seu filho mais velho, a mãe avisou-o de que estava a tentar o destino. “Mãe, prometo-lhe que ele não morrerá numa guerra entre Estados europeus.” A paz transformou-se no objectivo de uma longa vida política. Comungou com Mitterrand a convicção profunda de que “o nacionalismo é a guerra”. Nesse dia, em Paris, despedia-se de um amigo com quem garantiu que a Alemanha unificada continuaria a fazer parte de uma Europa unificada: o seu grande sonho político, que nunca abandonou.

François Mitterrand e Helmut Kohl (Verdun, 22 Setembro 1984)

Sem comentários:

Enviar um comentário