terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Duas estórias onde se fala de luz...

... no Ano Internacional da Luz

Há dois dias escrevi aqui um texto em que inicialmente pretendia falar do ano internacional da luz. Acontece que a mente às vezes puxa-nos para outro caminho e acabei a falar do menino que fui, a propósito de um quarto com pouca luz em que estudava sentado num banco tendo por secretária o tampo de uma cadeira. Estas memórias pesam, não é? Se calhar é por isso que nos propomos escrever sobre o ano internacional da luz e somos levados a escrever coisas que nada têm a ver com luz. Luz...e, pronto, veio-me à memória a pouca luz que também tive quando era estudante de Física e trabalhava como prefeito num colégio interno que ainda existe em Lisboa, ali para os lados do Paço do Lumiar. Eu dormia na camarata dos alunos mais velhos e era só depois de apagar a luz que arranjava algum tempo para estudar. Punha de pé uma mesa desmontável que um amigo me dera e ajustava o braço do candeeiro para a luz incidir na direcção certa. Tinha o cuidado de tapar o candeeiro com uma toalha para reduzir a luminosidade na camarata, mas nem sempre conseguia evitar um ou outro reparo: “A luz! Assim não consigo dormir”. Passada a fase de justificada refilice, os alunos acabavam por adormecer e eu ficava entregue a mim próprio. O pior nem era a luz, o pior era o frio no inverno. Chegava a levantar-me às seis da manhã com os pés quase tão frios como quando me tinha deitado, nunca antes da meia-noite. 
Ainda a propósito do colégio, ocorre-me outra estória real que também mete luz. Havia no colégio um (famoso na PSP) professor de matemática, de seu nome Abel F., que também tivera dificuldades com a luz enquanto estudante liceal. Na altura ele era polícia e fazia rondas à noite, numa época em que a malandragem não abundava. Então, para matar utilmente o tempo, o nosso homem sacava do livro que levava disfarçado na farda e estudava sob a luz dos candeeiros citadinos. E eu não posso deixar de imaginar uma cena surreal: o guarda Abel a estudar o teorema do norueguês Abel à luz do lampião! Bem, vou terminar, que a prosa vai longa para post. O ano internacional da luz tem de ficar para a próxima… 

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