... no Ano Internacional da Luz
Há dois dias escrevi aqui um
texto em que inicialmente pretendia falar do ano internacional da luz. Acontece
que a mente às vezes puxa-nos para outro caminho e acabei a falar do menino que fui,
a propósito de um quarto com pouca luz em que estudava sentado num banco tendo
por secretária o tampo de uma cadeira. Estas memórias pesam, não é? Se calhar é
por isso que nos propomos escrever sobre o ano internacional da luz e somos levados
a escrever coisas que nada têm a ver com luz. Luz...e, pronto, veio-me à
memória a pouca luz que também tive quando era estudante de Física e trabalhava como prefeito num colégio interno que ainda existe em
Lisboa, ali para os lados do Paço do Lumiar. Eu dormia na camarata dos alunos
mais velhos e era só depois de apagar a luz que arranjava algum tempo para
estudar. Punha de pé uma mesa desmontável que um amigo me dera e ajustava o
braço do candeeiro para a luz incidir na direcção certa. Tinha o cuidado de
tapar o candeeiro com uma toalha para reduzir a luminosidade na camarata, mas
nem sempre conseguia evitar um ou outro reparo: “A luz! Assim não consigo
dormir”. Passada a fase de justificada refilice, os alunos acabavam por
adormecer e eu ficava entregue a mim próprio. O pior nem era a luz, o pior era o
frio no inverno. Chegava a levantar-me às seis da manhã com os pés quase tão
frios como quando me tinha deitado, nunca antes da meia-noite.
Ainda a propósito
do colégio, ocorre-me outra estória real que também mete luz.
Havia no colégio um (famoso na PSP) professor de matemática, de seu nome Abel F., que também tivera dificuldades
com a luz enquanto estudante liceal. Na altura ele era polícia e fazia rondas à
noite, numa época em que a malandragem não abundava. Então, para matar utilmente
o tempo, o nosso homem sacava do livro que levava disfarçado na farda e
estudava sob a luz dos candeeiros citadinos. E eu não posso
deixar de imaginar uma cena surreal: o guarda Abel a estudar o teorema do norueguês Abel à luz
do lampião! Bem, vou terminar, que a prosa vai longa para post. O ano internacional da
luz tem de ficar para a próxima…
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