Meu artigo
publicado ontem em O MIRANTE online
“O Mirante” tem tido uma
actividade editorial relevante em vários domínios, mas a sua acção tem sido surpreendente
no campo científico. De facto, não é vulgar uma editora regional publicar
títulos como: Energia Nuclear – Mitos e Realidades (2000); A Energia Nuclear em
Portugal, Uma Esquina da História (2002); O Reactor Nuclear Português, Fonte de
Conhecimento (2005); Memórias para a História de um Laboratório do Estado
(2013) (o laboratório do Estado aqui referido implicitamente é o chamado Laboratório
Nuclear de Sacavém).
Há mais quem reconheça o papel de
“O Mirante” na área editorial. O físico Carlos Fiolhais, professor catedrático
da Universidade de Coimbra e porventura o mais brilhante divulgador de ciência português
da actualidade, escreveu a seguinte apreciação no seu blogue De Rerum Natura (blogue
com mais de 4 milhões de visualizações): «“O
Mirante” é um semanário regional de
Santarém cujo interesse por temas de ciência e tecnologia apraz registar.» E
referiu-se ao livro “ENERGIA NUCLEAR – Mitos e Realidades”, de que sou co-autor com Jaime Oliveira, como sendo uma «obra pedagógica […] que se recomenda vivamente como introdução às questões do nuclear. Particularmente recomendável é o prefácio
desse grande divulgador de ciência que é António Manuel Baptista. Ele insurge-se,
e com razão, contra a actual fobia antinuclear.»
O desconhecimento em relação a
certas matérias torna as pessoas vulneráveis e gera medos. É o que acontece frequentemente
com o “nuclear”. Eis a opinião de um leitor do blogue De Rerum Natura
(Julho.2007) em comentário ao post de
Carlos Fiolhais “O Reactor Nuclear Português”: «Embora eu tenha pessoalmente uma opinião desfavorável relativamente à instalação
de uma central nuclear em Portugal, concordo que não devem existir tabus na sua
discussão. A grande razão para isso terá a ver com a ignorância científica
sobre o assunto que perpassa na sociedade. O facto de, provavelmente, mais de
90% da população portuguesa ignorar a existência do reactor experimental de
Sacavém demonstra-o cabalmente.»
A situação generalizada de
“ignorância científica” fez-nos pensar, a mim e ao proprietário deste Jornal,
que poderia fazer sentido utilizar um espaço no website de O MIRANTE onde
questões desta índole pudessem ser abordadas, em particular tirando partido do
livro “Energia Nuclear – Mitos e Realidades”.
Contrariamente ao que se possa
supor, a iliteracia científica não se verifica apenas entre pessoas mais comuns, por
vezes ”ataca” gente bem conhecida do grande público. Foi o que aconteceu com o
Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, na TVI, quando há dias trouxe inopinadamente
para a conversa… “uma TAC”. [Diga-se que a TAC (Tomografia Axial Computadorizada)
é um meio de diagnóstico para visualização interna do corpo em que são
utilizados raios-X, tal como na radiografia, só que envolve uma tecnologia mais
sofisticada.] Ora, comentando os recentes pedidos de desculpa do ministro da
Educação e da ministra da Justiça, o popular “professor Marcelo” disse isto: «Eles entendem que, pedindo desculpa,
cumpriram a sua missão. Mas isto tem um preço. É um bocadinho como a TAC:
quando uma pessoa faz uma TAC, a TAC fica no corpo, aquela radiação fica lá e não
se cura...». O menos que se pode dizer desta afirmação é que é errónea.
Claro que se percebe que se
tratava de uma analogia, mas há limites para certas comparações, sobretudo
quando são feitas perante largas centenas de milhares de telespectadores, muitos
deles necessitados eventualmente de fazer uma TAC… Pelo menos a estas pessoas, é
preciso dizer o seguinte: (1) a TAC não fica no corpo (que coisa bizarra esta de dizer que "a TAC fica no corpo"!!!); (2) os
raios-X não ficam “lá”:
entram, atravessam o corpo e são detectados, caso contrário nem seria produzida
qualquer imagem! E nem vale a pena referir o “não se cura”… Como dizia Carlos Fiolhais num
email que me enviou a propósito deste episódio, “quando os nossos comunicadores não sabem ciência, espalham pseudociência...”
Voltemos ao que interessa. Numa
próxima oportunidade iniciaremos a nossa “viagem” por temas científicos. Procuraremos
utilizar uma linguagem simples, mas sem perda de rigor. Assim o deus Éolo nos enfune
as velas na boa direcção…
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