quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Mais cortes nas pensões de aposentação?!

A propósito do corte nas pensões de aposentação e... das excepções
Luís Reis Torgal (Professor catedrático jubilado)
PÚBLICO, 28.Agosto.2013

 «(...) Mais uma vez este Governo prepara-se para reduzir as pensões dos aposentados da função pública, sob pretexto de que o cálculo das pensões beneficiou sempre o sector público em detrimento do privado, como se alguma vez tivesse dado mostras de se preocupar com a justiça social. O que conta é o pragmatismo neoliberal, que tanto funciona em favor do consumismo que consumiu e continua a consumir alguns, como actua agora pela austeridade que empobrece muitos mais. Desta vez - mais uma vez -, numa lógica de disparate absoluto que ninguém compreende, lança cá para fora ou cria condições para que surjam notícias que nos colocam os cabelos em pé, a ponto de nos perguntarmos se são ou não verdadeiras. A engenharia financeira dos cortes nas pensões é complexa e, nessas notícias desencontradas, além de se verificar a ilusão de que se pretende salvar os mais desfavorecidos (os que ganham até 600 euros ou os que recebem pensões de sobrevivência até 300 euros) aparece a ideia de que há excepções nesses cortes. Fala-se ora dos magistrados e dos embaixadores, ora dos funcionários da Caixa Geral de Depósitos, ora dos políticos que gozaram da benesse de usufruírem de aposentações, ou subvenções, após poucos anos de exercício dos seus cargos... Uns porque se mantêm (ou o seu estatuto os mantém formalmente) no activo, outros porque, porventura, as contas da sua aposentação eram diferentes, mas muitos, com certeza, porque correspondem a interesses de classe e ao medo que esses interesses venham ao de cima e prejudiquem a paz podre em que todos vivemos, com um Governo que - parece - já não representa ninguém, além de alguns elementos dos partidos que nos governam, ou desgovernam. (...)


Torno a pedir desculpa aos leitores por ter falado de mim, dizendo apenas o que fui e o que sou, como muitos outros podem fazê-lo, na qualidade de professores (do pré-escolar e do ensino básico ao ensino secundário e superior) ou de funcionários públicos de outras profissões, as mais variadas. Continuamos alguns no activo, gratuitamente..., e muitos descontaram para a as suas pensões ao longo de muitos anos. Todavia, este Governo com muitos ineptos e oportunistas, que todos os dias ensaiam o espectáculo do Poder, neste país dependente, nesta Europa burocrática e neste "mundo plano" sem controlo, brinca connosco, considera-nos ricos, aplica-nos taxas de solidariedade (!) e pretende agora diminuir ainda mais a nossa pensão de aposentação, não se esquecendo, evidentemente, de algumas excepções... Este país não é para velhos, como não é para novos. Só para alguns poucos e, por vezes, os mais medíocres.
Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? - é famosa, e por vezes tremendamente actual, a frase de Cícero. "Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?". Transferindo-a para os dias de hoje: até quando este Governo ou, ainda melhor, este sistema, abusará da nossa paciência?»

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