segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Educar, uma Arte ao nosso alcance?

Adaptação de um texto meu publicado
em Chamusca Ilustrada, Fevereiro.1978
Que se entende por “educação”? Por outras palavras, qual o significado de “educar”?
Pegando ao acaso num dicionário, encontrei a seguinte definição: Arte de formar o carácter e de encaminhar integralmente a juventude em ordem ao seu desenvolvimento perfeito, para ser um bom elemento da sociedade.
Consultando, não menos ao acaso, uma enciclopédia, assinalei a seguinte passagem: Edu­car é, sob certos aspectos, uma arte. Não como a de um escultor que modela matéria inerte, pois o educador actua sobre um ser, não somente vivo, mas também inteligente e livre. Por isso, S. Tomás compara a arte de educar à do médico, para frisar que em ambos os casos o influxo que se exerce é destinado não a manipular matéria passiva, mas a estimular, orientar e auxiliar o dinamismo bioló­gico, a fim de que este, no caso do médico, readquira o equilíbrio da saúde e, no caso da educação, atinja o pleno e harmónico desenvolvimento de todas as virtualidades da natureza humana.
De notar que, em ambos os casos, há acordo dos autores ao considerarem a educação como que uma “arte”. Se aceitarmos como boa a afirmação corrente de que “não é artista quem quer”, é caso para perguntar: Estará o papel de educador ao alcance de apenas um núme­ro limitado de pessoas? Certamente que não, mas de facto a interrogação tem razão de ser, e dá bem a medida da dificuldade da missão do educador e do cuidado que deve ser posto na sua preparação. Alguém disse que a educação de uma criança começa quando os pais nascem…
Num outro ponto, há acordo, e este mais geral e fundamentado: a educação tem por finalidade o desenvolvimento pleno do educando com vista à sua integração como futuro membro da sociedade. Esta é uma verdade aceite por todas as correntes activistas da educação. Só que cada sociedade tem os seus objectivos próprios, consequentemente a acção educativa é orientada em cada situação de modo distinto, de maneira a atingir esses objectivos.
É salutar ter presente que a educação de um jovem se processa sempre, inevitavelmente, no âmbito de um quadro social e familiar que condiciona essa educação. É certo que há normas gerais, decorren­tes da experiência humana de vida em sociedade, que são comuns a vários sistemas educacionais. To­davia, muitas das regras de comportamento a que submetemos os nossos jovens têm um valor relativo, são algo de não absoluto nem essencial, e como tal deviam ser entendidas. A não apreensão deste facto gera frequentemente conflitos que dificultam a relação entre educador e educando, agravadas ainda pe­la incompreensão de que a evolução da sociedade obriga o educador a um constante esforço de “actualização”, no sentido de evitar distanciamentos que só tornam mais difícil a acção educativa.
Há que procurar, permanentemente, a cooperação do educando. Sem essa cooperação, a tarefa educacional fica seriamente comprometida. O educando é, por um lado, objecto da educação mas, como ser inteligente e livre, deve participar nesse processo de formação do carácter e do entendimento, de que há-de resultar a sua libertação e realização, em equilíbrio e felicidade, como ser individual e social. O entendimento recíproco subjacente à cooperação de esforços a que deve ser levado imperceptivelmente o educando, pressupõe um trabalho contínuo e vigilante da parte do educador, em que concorrem numerosos factores, nomeadamente o exemplo, a disponibilidade, a firmeza, a compreensão e a serenidade.
A terminar, eu diria que educar é uma arte ao nosso alcance. Para tanto, há que conhecer os objectivos da tarefa, saber destrinçar o essencial do supérfluo, compreender que o educando não é propriedade do educador (enquanto pai ou mãe), ser exemplar e sereno, e admitir que se tem sempre algo a aprender com o educando. Dizia Blaise Pascal (1623-1662), físico, matemático e filósofo francês: «Ninguém é tão ignorante que não tenha algo a ensinar, nem ninguém é tão sábio que não tenha algo a aprender».

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