sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Não ao atarax, sim à ataraxia...

Ataraxia, please
Miguel Esteves Cardoso (Público)
Na Antologia de Stobaeus ele diz que Demócrito, quando fala da felicidade, também lhe chama contentamento (euthumia), bem-estar (euestô) e harmonia, equilíbrio e imperturbabilidade (ataraxia). Por alguma razão se diz que foi ao ler Demócrito que Epicuro decidiu dedicar-se à filosofia.
Imperturbabilidade é a melhor palavra para entender a ataraxia que Epicuro dizia ser o primeiro dos prazeres. Goza de ataraxia quem se encontra livre de medos, preocupações, inseguranças, angústias, dores ou preconceitos.
A ataraxia é a mais desejável das liberdades. Não é o estado de espírito provocado pelo medicamento que lhe roubou o nome, Atarax. É a tranquilidade que dispensa não só o Atarax como saber da existência dele. Para quê?
O recomendadíssimo “eu só quero que não me chateiem” é um aspecto da ataraxia. Mas falta incluir a pessoa que mais nos chateia: nós próprios. A ataraxia, para Epicuro, é um luxo acessível. Basta convencermo-nos que o medo (da morte, dos deuses, da dor) é uma perda de tempo. O medo faz mal. O medo não resolve nada. O medo intromete-se. O medo estraga tudo. Estou a excluir os medos bons, que dão prazer.
A ataraxia parte de uma decisão: a partir de agora não vou deixar que as chatices evitáveis da vida perturbem a tranquilidade com que gozo os prazeres da vida. É uma questão de prática. Fala-se bastante de outras grandes noções dos clássicos gregos mas a ataraxia não é suficientemente conhecida. É uma palavra portuguesa que dá gosto dizer: ataraxia. E ajuda.

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