Antigamente havia muitos engraxadores espalhados pela
cidade. Hoje, são raros. Não há muito tempo, contava com o Sr. Fernando, na barbearia
Londres. Quando adoeceu e deixou de trabalhar, recorri ao Sr. Carlos, na
pastelaria Mexicana, fechada agora para obras.
Há dias, descobri que apareceu um engraxador na
confluência das ruas António Pedro e Alves Torgo, na zona da praça do Chile.
Experimentei e o atendimento foi do meu agrado. O Sr. Orlando, assim se chama
ele, é um homem comedido e de conversa fácil. Tem uma história de vida que me
impressionou. Revelo-a agora, com a sua autorização. Perguntei-lhe: Posso
tirar-lhe uma fotografia para pôr na internet? Resposta: Esteja à vontade!
O Sr. Orlando nasceu na
Penha de França. Tem 66 anos, 7 filhos e 17 netos, que vivem na área da
Grande Lisboa. Trabalhou na construção civil, sendo armador de ferro. Em
1971, foi mandado para a Guerra Colonial em Moçambique, onde esteve dois anos.
Quando a recente crise chegou, ficou sem trabalho. Terminado o direito ao subsídio de
desemprego, teve de pedir a reforma. A sua pensão é de 113 euros. Aparentemente, por razões diversas, os
filhos não o podem acolher. Para não viver na rua, recorreu à associação CAIS e à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Em boa hora o fez. Foi-lhe proporcionado o quarto onde
pernoita e beneficia do apoio do Centro Social Paroquial de Arroios, onde paga um
quantia acessível pelas refeições e lavagem da roupa. A certa altura, sugeriram ao Sr. Orlando que tirasse um curso de engraxador. Ele
aceitou e frequentou-o com bom aproveitamento, posso testemunhar. É assim que, desde há uns dois ou três meses, ganha honesta e merecidamente o seu complemento de reforma engraxando sapatos na confluência das
ruas António Pedro e Alves Torgo, em Lisboa (esplanada do restaurante Estrela do Chile).
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