A notícia ocupa as primeiras quatro páginas interiores do jornal. Trata-se, portanto, de um “caso” a que se quis dar uma relevância fora do comum. A questão é: justificar-se-á a relevância?
Na página 2 ficamos a saber que a simulação foi levada a efeito pelo Centro de Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica e Protecção Ambiental, e que «Para a hipotética central em Portugal, escolheu-se um local arbitrário: Tancos, por ser aí, na Escola Prática de Engenharia do Exército, que fica o centro (...).» E ficamos a saber também que a central escolhida para ser colocada em Tancos (aprox. 50 km a nordeste de Santarém) foi, nada mais nada menos, a central de Fukushima «com danos severos no núcleo de dois reactores (...) com fuga maciça de radiação».
É sabido que a simulação de acidentes, quaisquer que sejam, é sempre útil desde que permita tirar conclusões aceitáveis/aproveitáveis. Para isso é indispensável dispor pelo menos de: (a) software adequado e (b) dados de entrada credíveis. Se assim não for, os resultados da simulação são pura ficção.
Posto isto, é de perguntar: terá sido uma boa opção “colocar” a central de Fukushima em Tancos? Julgo que não. Em primeiro lugar, porque não há acidentes nucleares com consequências idênticas e, em segundo lugar, porque a central de Fukushima foi atingida por um inimaginável terramoto de nível 9 e, em seguida, apenas uma hora depois, por um “muro de água” com mais de 10 metros de altura que tudo destruiu à sua passagem, donde resultou a gravidade do acidente. Poderia ocorrer uma tal situação em Tancos? Consegue o leitor imaginar o nível de destruição que afectaria Portugal antes de o (eventual) maremoto chegar a Tancos? Eu não.
Em suma: A meu ver, o termo “fonte de radiação” utilizado na referida simulação é aberrante. Em consequência, os resultados obtidos não são para levar a sério. Assim sendo, por que razão terá dado o PÚBLICO uma relevância tão grande à “notícia” em questão?
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