Eu gosto de futebol. Quando era mais novo, até fiz parte
da equipa júnior da Académica de Santarém e, vinte anos mais tarde, cheguei a
ser presidente da assembleia-geral do F.C.Alverca. Em termos clubísticos, sou “medianamente”
adepto do Benfica; eu explico: era fã quando o Benfica só tinha jogadores
portugueses. Agora o futebol é um negócio para dirigentes sofríveis com ambições pessoais
e para jogadores de muitas e variadas paragens. Talvez por isso, a arbitragem é fértil em discussões, disputas e acusações. Os árbitros
acabam por ser os alvos mais fáceis: são eles os causadores de maus resultados, responsáveis por
más contratações e piores classificações, além de outras malfeitorias. Resultado: tem havido agressões a árbitros, esperando-se
apenas que danos irreversíveis não ocorram.
Para além da impreparação cultural do povo
português, parte significativa da responsabilidade pela situação da arbitragem está na importância excessiva atribuída ao futebol pelos órgãos de comunicação,
em especial por vários canais de televisão, onde discorrem inúmeros jornalistas
e comentadores desportivos durante tempos infindos. Antes do 25 de Abril
dizia-se que Portugal era o país dos três efes: Fátima, Futebol e Fado. Actualmente, os três
efes têm outro significado: Futebol, Futebol e Futebol. É espantoso o número de
horas que a rádio oficial dedica ao futebol, assim como vários canais de televisão com “mesas redondas” mais ou menos concorridas, algumas
abrilhantadas por comentadores que funcionam como representantes dos maiores clubes (deveria haver, aliás, uma
bandeirinha à frente de cada um para os identificar, porque nem todos os
telespectadores são connaisseurs das questões
futebolísticas).
Numa das mesas-redondas realizada há dias, fiquei surpreendido e chocado ao ouvir o director de um jornal nacional de referência (que em geral faz comentário político...) ao dizer convictamente que 20 (vinte!) penáltis tinham sido negados ao F.C.Porto! Enquanto isso, como é óbvio, os seus comparsas reclamavam estatísticas diferentes...
As discussões são feitas aos berros, invectivando-se os “adversários”,
classificando-os de mentirosos, invocando exclamações desbragadas do tipo “bardamerda
para os que não são sportinguistas”, entre muitos outros mimos. Quem quiser
confirmar, basta ir ao Youtube e pesquisar “comentadores de futebol”.
Com tais exemplos de gente bem-falante com aceitação social, não
surpreende que os árbitros sejam vítimas indefesas dos desgostos clubísticos de pessoas com tendência para agir impulsivamente, sem pensar na consequência dos seus actos.