«Na notícia intitulada “Central
de Almaraz: Rosa não quer os filhos num mundo com energia nuclear”
(Público, 12/06/2016) é abordada extensamente a manifestação que teve lugar em
Cáceres em que participaram portugueses e espanhóis pedindo o encerramento da
central nuclear de Almaraz.
É compreensível a preocupação
das pessoas que se manifestaram, que aliás vem na sequência de uma “tradição”
de temores antigos. No título da notícia é que poderia ter sido evitado o toque
demagógico costumeiro nestas ocasiões. Por isso, seria conveniente que alguém
explicasse à Rosa que o mundo em que vivemos é radioactivo, que ela e os
próprios filhos são radioactivos e emitem radiações devido ao facto de existir
potássio no organismo dos humanos (onde ocorrem alguns milhares de
desintegrações por segundo). Como as radiações provêm de transformações
nucleares, que são manifestações de energia nuclear, seria adequado que a
jornalista Maria João Lopes tranquilizasse a Rosa informando-a de que o seu
desejo não pode ser satisfeito...»
Esta carta (irónica, reconheço)
não foi publicada.
O costume, nada que me
surpreenda.
Entretanto, hoje é publicada a
seguinte carta:
«Bomba relógio
Portugal não tem nenhuma central nuclear, existindo uma a
cerca de 100 km da fronteira – a central nuclear de Almaraz (Espanha) que é
refrigerada pelas águas do rio Tejo. Funciona desde 1983 e nos últimos anos já
se contabilizaram mais de 50 incidentes! (... ) A central não é fiável e a cada
ano que passa o risco grave – é iminente. O ‘El País’ informa que o Conselho de
Segurança nuclear espanhol dá o alarme na opinião pública. Cá, especialistas
consideram que este engenho, com tecnologias obsoletas, deve ser desactivado
com urgência. Incidentes descontrolados terão consequências desastrosas (mortíferas)
para as populações, para a actividade económica e para o rio Tejo. Deveria ter
sido encerrada em 2010, mas tem licença até 2020 (!). Razões economicistas do
governo espanhol para prolongar a central nuclear são mais importantes do que o
rio Tejo, a vida económica, o ambiente e as populações ibéricas. Este latente
perigo, deixará de o ser quando houver vítimas em Espanha e Portugal? Vítor
Colaço Santos, S. João das Lampas»
Esta carta, que mete bomba
relógio, tecnologias obsoletas, 50 incidentes e por aí fora, foi publicada.
O costume, nada que me
surpreenda.
Não sei de que fala o leitor com as expressões “bomba relógio, “tecnologias obsoletas” e “incidentes”, por exemplo, mas julgo oportuno fazer os seguintes comentários.
Não sei de que fala o leitor com as expressões “bomba relógio, “tecnologias obsoletas” e “incidentes”, por exemplo, mas julgo oportuno fazer os seguintes comentários.
Sobre a bomba relógio, um reactor nuclear não pode
tecnicamente explodir como se se tratasse de uma potencial boma atómica.
Quanto a tecnologias obsoletas, a central de Almaraz é equipada
com reactores PWR (pressurized water reactor), o tipo de reactor mais utilizado
em todo o mundo: 286 em 445.
Finalmente, no tocante aos "incidentes", a escala INES
(International Nuclear Events Scale) da Agência Internacional de Energia
Atómica é suficientemente explícita para mostrar que “incidentes” é uma coisa e
“acidentes” é outra... Se houver um sismo de grau 2 nos Açores, não vejo razões
para ficarmos preocupados... Analogamente, porquê invocar “incidentes”
em Almaraz associando-lhes consequências "mortíferas”?
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