Numa altura em que
os mercados estão com os nervos à flor da pele e ainda se tenta perceber as
ondas de choque do “Brexit”, não é que o ministro das Finanças alemão teve a
ideia peregrina de colocar em cima da mesa a possibilidade de Portugal ser alvo
de um novo resgate? Wolfgang Schäuble, citado pelas agências Bloomberg e
Reuters, terá dito numa conferência que Portugal está a pedir “um segundo
programa” e que “vai consegui-lo”. É uma frase à frente da qual deveriam ser
colocados vários pontos de interrogação e um grande ponto de exclamação que
expressasse espanto e indignação, já que Schäuble faz um anúncio falso e de uma
forma completamente leviana e incendiária. Mais tarde, o governante alemão veio
corrigir o que tinha dito antes: "os portugueses não o querem e não vão
precisar [de um segundo resgate] se cumprirem as regras europeias".
É caso para dizer
que a emenda não é muito melhor do que o soneto. Por que razão nesta altura de
enorme instabilidade no mercado da dívida, o todo-poderoso ministro alemão se
lembra de aventar a hipótese de um novo resgate a Portugal? Mesmo que achasse
que o país estivesse a tomar um rumo errado nas contas públicas, cabe às
instituições europeias fazer alguma eventual reprimenda ou aplicar eventuais
sanções. E, de preferência, de uma forma contextualizada e não com esta
ligeireza como fez Wolfgang Schäuble. As declarações do ministro alemão são
perigosas porque podem transformar-se numa espécie de profecia que se cumpre
por si própria. A reacção normal de um investidor que ouve alguém como Schäuble
a dizer que Portugal vai ter um novo resgate, é desatar a vender dívida pública
nacional. Ao governante alemão não basta corrigir ou precisar palavras que
foram ditas com uma enorme ligeireza; deve um pedido de desculpas ao
país.
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