segunda-feira, 27 de julho de 2015

Que efeito Sampaio da Nóvoa? (II)


post anterior foi objecto de reacções por parte de alguns leitores. Umas interessantes, outras nem por isso. Um colega e amigo enviou-me um e-mail onde, no essencial, exprimia duas ideias: reconhece a injustiça, mas exonera Sampaio da Nóvoa de responsabilidades. Dizia ele:
(1) «É também compreensível que te sintas magoado pela injustiça feita ao teu genro no concurso para catedrático de Geologia.»;
(2) «[…] não vejo como possas assacar as culpas a António Sampaio da Nóvoa, então Reitor da Universidade, no chumbo do teu genro. A sua participação foi abrir o concurso, nomear o Júri, fazer-se representar como Presidente do Júri e depois homologar a decisão do Júri. Essas são missões do Reitor.»

O facto de se tratar do “meu genro” não tem relevância digna de realce. A vantagem é que fiquei a conhecer o processo “por dentro”. Se conhecesse em pormenor outras situações semelhantes, julgo que também as denunciaria com o mesmo vigor.

Contrariamente ao meu colega e amigo, eu vejo razões para assacar culpas a Sampaio da Nóvoa no chumbo do meu genro.
Comecemos por dois factos menos relevantes, mas com um certo significado:
(a) não me parece normal que Sampaio da Nóvoa tenha assinado em plenas férias do Verão (02.Agosto.2011) um aviso de abertura de um concurso para professor catedrático (aviso a que se pretendia dar ampla divulgação, pelo menos segundo o estipulado no próprio Edital);
(b) não me parece normal que na composição de um júri para a especialidade de Geodinâmica Externa não tenha entrado nenhum especialista em Geodinâmica.

Mas a questão central está na homologação da decisão do júri do concurso. E qual foi a decisão crucial?
No início, diz o Edital de abertura do concurso:
«Doutor António Sampaio da Nóvoa, Reitor da Universidade de Lisboa: Faz saber que […] se encontra aberto concurso para recrutamento de um posto de trabalho de Professor Catedrático, do Departamento de Geologia, na área científica de Geologia, especialidade de Geodinâmica Externa.»
Mais adiante, o Edital refere-se à avaliação em mérito absoluto:
«Encontrando-se as candidaturas devidamente instruídas (…), a admissão em mérito absoluto dos candidatos dependerá da posse de currículo global que o júri considere revestir mérito científico compatível com a área ou áreas disciplinares para que foi aberto o concurso.»

Ora, consultando o currículo científico do candidato (ver aqui), constata-se que, entre 2001 e 2011, Fernando Ornelas Marques (co)publicou quase meia centena de artigos em prestigiadas revistas internacionais (International Peer Reviewed Publications), como Earth and Planetary Science Letters, Environmental Geology, Geological Society of America Memoir, Geology, Geophysical Journal International, Geophysical Research Letters, Journal of Applied Geophysics, Journal of Geophysical Research, Journal of Geoscience Education, Journal of Structural Geology, Physics and Chemistry of the Earth, Tectonics e Tectonophysics.
[Reportada a actualização a 11.Julho.2015, o CV de Fernando Ornelas Marques compreende 78 artigos no ISI ResearcherID, 77 dos quais com 872 citações e o parâmetro h-index igual a 17. Haverá actualmente algum geólogo português que se lhe compare?]

É nestas circunstâncias que o júri do concurso, na sua apreciação, concluiu que o currículo do candidato não tinha mérito científico compatível com a área disciplinar (Geologia...) para que foi aberto o concurso. Em consequência, chumbou liminarmente o candidato em mérito absoluto! Alguém, algures, deverá ter cogitado em provérbios populares como corta-se o mal pela raiz ou mata-se o bicho, acaba-se a peçonha… Só que a verdade é incómoda, não se dá bem com manivérsias.

Com a mesma perplexidade de sempre, continuo a interrogar-me: Que se passou para o júri conseguir a “proeza” de reprovar Fernando Ornelas Marques em mérito absoluto?! Como é possível que o júri tenha produzido uma tal aberração?! Que dizer de um júri que comete um tal desvario?!

Pois bem, Sampaio da Nóvoa homologou a decisão do júri, o que significa que a aprovou, que a reconheceu oficialmente como legítima!

Dito isto, para mim a conclusão só pode ser uma: A responsabilidade última pela malfeitoria feita ao “meu genro” é do Professor Doutor António Sampaio da Nóvoa, Reitor da Universidade de Lisboa à data dos factos. Ponto.

O meu colega e amigo ainda diz, a terminar o e-mail: «De todos os nomes até agora aventados [como candidatos presidenciais, suponho], António Sampaio da Nóvoa é o que mais me satisfaz
Aproveito a oportunidade para afirmar que não me move qualquer motivação de natureza política. Esta minha “luta” vem de há três anos, quando ainda não se falava do que se fala hoje. Só voltei a "mexer" no assunto agora porque Sampaio da Nóvoa decidiu apresentar-se como candidato presidencial e, portanto, é do interesse colectivo dos portugueses saber “que decisões tomou, grandes ou pequenas, na medida em que elas contribuam para traçar o perfil de quem se propõe ocupar o cargo mais elevado da nação.”

domingo, 12 de julho de 2015

Que efeito Sampaio da Nóvoa?


Ao apresentar publicamente a sua candidatura à presidência da República, António Sampaio da Nóvoa (ASN) ficou obviamente sujeito ao escrutínio dos portugueses, sejam eles jornalistas, comentadores ou simples cidadãos. É assim que funciona a democracia. Pretende-se neste post contribuir para o escrutínio de ASN enquanto reitor da Universidade de Lisboa (UL) durante dois mandatos (2006-2013). Antes, porém, afigura-se oportuno evocar outras intervenções públicas afins.
1. João Miguel Tavares (JMT), no artigo “O burocrata Sampaio da Nóvoa” (Público, 23.Junho.2015), comentou o caso de um pedido formulado por um grupo de moradores de Oeiras no sentido de embargar as obras de ampliação de um lar de acolhimento para adultos com paralisia cerebral. Soube-se pelos jornais que ASN fora o primeiro signatário deste pedido. Face ao esclarecimento dado posteriormente por ASN para justificar a sua acção, JMT afirmou o seguinte: “parece-me extraordinário que um homem dado a discursos tão empolgantes  (…)  troque subitamente o idealismo mais elevado pela mais deslavada resposta burocrática só porque está em causa o jardim ao lado de sua casa.”
Houve quem não gostasse desta opinião e classificasse o artigo como um “exemplo de parvoíces elevadas a artigo de opinião num dos jornais de referência”. JMT retomou o assunto no artigo “A falta de escrutínio em Portugal” (Público, 02.Julho.2015), onde esclareceu que “o escrutínio de um político, sobretudo numa eleição unipessoal, é muito mais do que brincar aos polícias: implica saber o que fez, com quem fez, quais as suas opções de vida, de onde vem, que decisões tomou, grandes ou pequenas, na medida em que elas contribuam para traçar o perfil de quem se propõe ocupar o cargo mais elevado da nação.”
2. Em contraposição, Jorge Ramos do Ó, professor associado do Instituto de Educação da UL, num artigo laudatório intitulado “O efeito Sampaio da Nóvoa” (Público, 30.Junho.2015) enaltece, compreensivelmente, as qualidades do seu colega, que conhece “há mais de 25 anos”. Desse artigo, chamaram-me a atenção duas passagens respeitantes à UL.
A primeira é esta: “(...) enquanto reitor da Universidade de Lisboa, e além do governo da instituição, [Sampaio da Nóvoa] estabeleceu pontes e articulou ideias suficientes das quais resultaram a mais importante transformação – a fusão com a Universidade Técnica em 2013 – que a instituição sofreu desde a sua fundação, há pouco mais de um século atrás”. Sobre esta matéria, há quem pense que se tratou de um “casamento de conveniência”, mas ainda é cedo para avaliar os eventuais ganhos de escala resultantes da fusão. Uma coisa é certa: no ranking das universidades, a UL continua numa posição modestíssima, sendo superada até por universidades portuguesas mais novas, nascidas quando o Prof. Veiga Simão era ministro da Educação.
A segunda prende-se com uma afirmação forte: “Bateu-se por uma universidade do amanhã (…)”. Julgo ter razões para duvidar que ASN se tenha batido, verdadeiramente, “por uma universidade do amanhã”. As instituições só podem melhorar “amanhã” através de um esforço porfiado de reconhecimento do mérito “hoje”, e não através de continuadas relações de consanguinidade baseadas em preconceitos e em formas de compadrio. Ora o sistema de avaliação (do mérito) vigente na UL é deste tipo e ASN foi incapaz de o modificar enquanto reitor. Discursos retóricos podem empolgar certas plateias, mas não resolvem problemas estruturais graves. 
Vejamos duas histórias, uma ficcionada e outra real, que servem como ilustração do não reconhecimento do mérito na UL.
3. A história que se segue é ficcionada, mas traduz a lógica de funcionamento do sistema, muito em especial quando se trata de concursos para preenchimento de vagas de professor catedrático. Vem no livro “Um Crime na Teia Universitária” da autoria de um professor da Faculdade de Ciências da UL (Chiado Editora, 2013). Eis três passagens da fala do director da Faculdade aquando de um diálogo com o professor responsável pelo Departamento em apreço.
«― Bem Guido, como sabes, após as últimas reformas de vários colegas, o teu Departamento tem um número de professores abaixo do número máximo que lhe é permitido ter. Por isso falei com o Reitor e aceito abrir lugares de professor para o vosso Departamento, entre eles um de catedrático. Mas não queremos contratar alguém de fora, nem abrir o concurso a toda a gente, a ideia é promover um dos nossos professores associados com agregação.
― Bem, fazemos aquilo que se chama um concurso com fotografia. Vocês no Departamento decidem quem querem promover. E abrimos o concurso ajustado a essa pessoa, escolhendo por exemplo a área de trabalho muito bem definida.
― E mais: tens de escolher um júri para o concurso que seja favorável ao que decidirem. Nota que a lei obriga a que os membros externos estejam em maioria. Por isso tens de garantir que pelo menos um irá votar tal como os membros internos. Os restantes não interessam nada. Servem só para enfeite
A história prossegue com a análise dos currículos dos candidatos internos e com a reunião dos professores catedráticos do Departamento destinada a escolher “o” candidato. Fica-se então a saber que «A Ilda era a candidata que tinha melhor currículo e que seria mais justo promover. Mas ele [Guido] detestava a Ilda, sabia que tinha mau feitio e antipatizava fortemente com ela.» A partir daqui podemos imaginar o resto: a Ilda é preterida, apesar de ser a mais competente, e o escolhido é o Geraldo, uma espécie de lacaio de Silvino, que era o catedrático dominante...
4. Curiosamente, conheço uma situação que corresponde “exactamente” ao caso romanceado no livro. Conta-se em poucas palavras: 
(1) Por aviso assinado por Sampaio da Nóvoa em 02.Agosto.2011, foi aberto um concurso geral para professor catedrático do departamento de Geologia da Universidade de Lisboa. Como o concurso foi aberto em plenas férias de Verão (!), não surpreende que tenham concorrido apenas dois candidatos internos - um candidato e uma candidata - e zero candidatos externos (estes poderiam provir de outras universidades, inclusive estrangeiras, dado que estes lugares são sempre muito apetecidos).  
(2) O júri, escolhido a preceito, decidiu logo à partida chumbar em mérito absoluto (!) o candidato com melhor currículo (ver AQUI) e deixou em cena a candidata restante (ver AQUI).
(3) Resultado óbvio do concurso: o melhor candidato foi eliminado e a candidata foi promovida. 
(4) O candidato injustiçado ainda recorreu, mas a decisão final do júri foi homologada por Sampaio da Nóvoa que, com a sua assinatura, a converteu no acto administrativo necessário (e suficiente) para a concretização prática da finalidade do concurso.
Neste processo acabou por se verificar ainda uma outra incongruência reveladora do modo como o sistema funciona: o concurso foi aberto para preencher “um” lugar de professor catedrático na especialidade “X”, mas, em consequência do concurso, o departamento de Geologia passou a ter “dois” professores na especialidade “Y” (a candidata aprovada e o então presidente do Departamento) e “nenhum” professor na especialidade para que fora aberto especificamente o concurso por Sampaio da Nóvoa. 
Quer isto dizer que, num aspecto tão crucial para uma “universidade do amanhã”, ninguém cuidou de cotejar o resultado final do concurso com o objectivo inicial que motivou a sua abertura. Em termos populares, dir-se-ia que ninguém cuidou de saber por que razão não deu a bota com a perdigota.
E assim vamos vegetando nesta "pátria parada à beira de um rio triste"...


PS – A história real do concurso pode ser lida AQUI.


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Pausemos então...

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Circo PAF apresenta...

... palhaço Nai e palhaço Nai
Pergunta do referendo: 
"Apoia incondicionalmente a austeridade defendida pelos credores para Portugal?"
(Inimigo Público, 10.Julho.2015)


quarta-feira, 8 de julho de 2015

"Ditosa Língua", de Hélia Correia

Hélia Correia recebeu ontem o Prémio Camões em Lisboa.
Este é o texto completo que a escritora leu na entrega do prémio.

Hélia Correia com o meu neto João Guilherme
O peso destes nomes curvaria gente bem mais robusta do que eu, não fosse o caso de a leveza ser o primeiro atributo de um escritor. Aliás, quanto mais os frequentamos, menor pavor inspira a sua sombra.
Não venho aqui como parceira mas como íntima, como alguém mais ligado pelo amor do que por ambições identitárias. Com Luís de Camões passeio em Sintra, enquanto ele espera o jovem rei que anda pelos bosques, enfeitiçado, já um pouco ensandecido. E a ligação aos meus contemporâneos, Sophia e Saramago, Eduardo Lourenço, Maria Velho da Costa, Mia Couto, feita de encantamento e aprendizagem, toca-me infantilmente o coração quando me traz afinidades, uma flor de frangipani que esvoaça num jardim de Maputo, as palavras que não partiram com quem já partiu, uma tão querida voz ao telefone, uma carta enfeitada de papoulas. Estou com eles, não entre eles. E assim estou bem.
Devo falar de tripla gratidão: a gratidão aos promotores deste prémio ao qual foi dado o nome maior das nossas letras, a gratidão aos membros do júri que escolheram a minha escrita para tamanha dádiva, a gratidão a um acaso de nascimento que me deu como língua materna o português.
Também com gratidão evoco a tão citada, e mal, passagem escrita por Pessoa, aliás Bernardo Soares, pois que, achando-se escrita, e por ele escrita, me abre um certo caminho à ousadia: que amo mais a língua do que a pátria. Que me imagino armada, a defendê-la contra quem a quisesse aniquilar. As lutas pela independência que travámos deixam-me o arrepio de pensar que o português se perderia, se perdêssemos. Que morte há de ter sido a de Camões, julgando que morria com a pátria, isto é, com o lugar dos seus poemas!
Rodrigues Lobo formulou-lhe o elogio de maneira concisa e musical ("branda para deleitar, grave para engrandecer, eficaz para mover, doce para pronunciar, breve para resolver") durante a ocupação filipina. Os rumos da política eram uns, o castelhano em palácio havia muito que se fazia ouvir, mas essa língua da nação, tão acabada que sem esforço hoje a lemos, tão fadada para arrebatamentos de oratória como para a sátira, como para o lirismo, cultivando sem vénia a erudição para logo a seguir brincar com ela, essa língua era a grande resistente – não a expressão de um povo: a sua essência.
Faz agora oito séculos esta língua. É a prosa formal de um testamento que atesta a data. E prosas há tão belas naquele dealbar, tão saborosas ainda quando anónimas, que dir-se-iam um bom pressentimento sobre o tanto e o tão grandioso que depois ia ser escrito. Mas é na poesia que parece avistar-se um destino, no sentido não de fatalidade mas daquilo a que alguns chamam o talento colectivo e que talvez não passe de especial, convidativa variedade na fonética.
Fácil é para nós esta função de herdeiros de tesouro tão diverso e tão bem acabado, tão antigo e, no entanto, tão reconhecível. Enquanto noutras línguas a pronúncia se foi modificando, a ponto de uma rima do século XIX já não se efectivar passadas décadas, nós cantamos Camões sem que se torne necessária qualquer adaptação. Como se cada uma das palavras reconhecesse o seu momento de perfeição e nele se detivesse, porque o quis. O apetite pelos estrangeirismos, moderado que foi, não lhe fez mal. Incorporou-os elegantemente. Não me refiro às condições presentes, pois, do que ninguém sabe, ninguém fala. E ninguém sabe o que está hoje a acontecer.
Esta paixão pela língua portuguesa, que aqui confesso, cega não será, superlativa muito menos. Entendo-a rica, porque vem das boas famílias dos antigos e o que recebeu multiplicou. Mas nunca afirmarei que é a mais rica ou a mais bela do mundo. Cada povo verá no seu idioma mais virtudes que em idiomas alheios. Que a disputa, se a houver, seja festiva, pois que os idiomas não ocupam espaço e não geram rivais mas poliglotas. Anterior à festa, está, porém, aquilo que dizem História. E a História é bruta e territorial.
Para abordar o assunto do domínio da língua portuguesa sobre os povos são necessários delicadeza e conhecimento, inteligência e desassombro em dose máxima. Dou-me por incapaz e renuncio a uma tentativa de discurso. Sei, sim, que houve opressão e apagamento. Mas talvez não nos caiba desculparmo-nos pelos conceitos e acções de antepassados, visto que não nos assumimos legatários e o continuum moral já foi cortado. Algum dia teremos, quero crer, a congratulação como vingança.
As línguas são os únicos seres vivos que não têm origem natural. O erro humano pode prolongar-se, mesmo inocentemente, por descuido. O português carregará ainda alguma febre imperial no corpo e é natural que desconfiem dele. Mas acontece que a repressão é mecânica e a língua é biológica. Se chega às terras de outros povos na bagagem do colonizador, em breve sai e se desnuda e se alimenta, e adormece e procria. As armaduras ficam no chão, enferrujadas, podres. A formação orgânica progride.
Que desígnio será o seu, agora, se não o de trocar e conviver, isto é, integrar a plenitude, reconhecendo e respeitando a alteridade? Com os nossos instrumentos humanistas, seremos nós os capazes de "Medir", como escreve o Professor Eduardo Lourenço, "esse impalpável mas não menos denso sentimento de distância cultural que separa, no interior da mesma língua, esses novos imaginários"?
Como num pesadelo, não sabemos por que meio fomos dar a esta nova era de horror e de destruição. Umas são nossas velhas conhecidas, outras indecifráveis, por ausência de modelos anteriores. Não lhes antecipámos a chegada. Na Idade Média que nos ameaça não há cancioneiros nem reis-poetas. Na ditadura da economia, a palavra é esmagada pelo número. A matemática, que começou nobre, aviltou-se, tornando-se lacaia. Se a literatura salva? Não, não salva. Mas se ela se extinguir, extingue-se tudo.
O nosso mundo de sobreviventes está seguro por laços muitos finos. Eu vejo os fios que unem os textos nas diversas versões do português, leves fios resistentes e aplicados a construírem uma teia que não rasgue. Quando o angolano Ondjaki dedica um poema ao brasileiro Manoel de Barros, quando Mia Couto reconhece a influência que teve Guimarães Rosa na sua escrita transfiguradora e transfigurada pelas africanas narrativas do seu povo; quando a portuguesa Maria Gabriela Llansol  considera Lispector «uma irmã inteiramente dispersa no nevoeiro», vemos a língua portuguesa a ocupar - não como o invasor ocupa a terra, mas como o sangue ocupa o coração - um espaço livre, um sítio para viver, uma comunidade de diferenças elástica, simbiótica e altiva. Esta é a ditosa língua, minha amada.
Eu dedico este prémio a uma entidade que é para mim pessoalíssima, à Grécia, cuja voz ainda paira sobre as nossas mais preciosas palavras, entre as quais, quase intacta, a poesia. Dedico à Grécia, sem a qual não teríamos aprendido a beleza, sem a qual não teríamos nada ou, no dizer da Doutora Maria Helena da Rocha Pereira, "não seríamos nada".   
ζουν Ελλ?δα , zoun Elláda, viva a Grécia.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

8 extinções 8

Trabalhei ao longo de mais de 40 anos
no extinto Laboratório de Física e Engenharia Nucleares (1961-1978) 
da extinta Junta de Energia Nuclear

no extinto Instituto de Energia (1979-1985) e 
no extinto Instituto de Ciências e Engenharia Nucleares (1985-1992) 
do extinto Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial

no extinto Instituto de Ciências e Engenharia Nucleares (1992-1994) 
do extinto Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial

e, finalmente, 
no extinto Instituto Tecnológico e Nuclear (1995-2002)

que, em 2011/2012, passou a Campus Tecnológico e Nuclear
integrado no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa.



Programa do XIII Encontro Nacional da APEI...

...onde participará a minha filha, a educadora de infância Helena Martinho

 

domingo, 5 de julho de 2015

Abensonhado MIA COUTO faz hoje 60 anos

Biografia de Mia Couto 

Horário do Fim

morre-se nada
quando chega a vez

é só um solavanco
na estrada por onde já não vamos

morre-se tudo
quando não é o justo momento

e não é nunca
esse momento

Mia Couto

in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas" 

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Joaquim Veríssimo Serrão

Ver aqui o comentário de Joaquim António Emídio 
publicado no jornal O MIRANTE, 02.Julho.2015

Biografia do Professor Joaquim Veríssimo Serrão