José Vítor Malheiros (Público)
[...] Foi por isso que
atravessar a ponte e entrar em Espanha sem ver um único polícia, sem ver um
posto de fronteira, sem mostrar um documento, foi uma experiência inesquecível.
Na altura eu era ainda um
ingénuo adepto da União Europeia e aquilo era para mim a Europa. Não só a
liberdade de circulação, mas a corporização da própria liberdade dos cidadãos,
da confiança na sociedade, da cooperação e da solidariedade entre os estados.
Eu era então, como me
considero ainda hoje, um europeu e um europeísta. Nascido entre dois países e
duas línguas, educado entre quatro línguas, habituado a desconfiar de todos os
nacionalismos, a ideia de uma Europa que transcende os seus países sempre me
foi cara. [...]
A questão é que a UE perdeu o direito de reivindicar qualquer superioridade moral quando continuou a atirar refugiados para a morte mesmo depois de ter chorado lágrimas de crocodilo sobre a fotografia de uma criança afogada no Mediterrâneo. Hoje, tenho vergonha de pertencer a este clube e não gosto desse sentimento. Será isto isolacionismo? Pelo contrário. O que eu e muitos cidadãos europeus exigimos é a solidariedade entre países que a União se recusa a praticar.
Há pessoas pouco
recomendáveis do lado do “Brexit”? Há. Mas do outro lado também. E na UE não
faltam pessoas pouco recomendáveis, a começar pelo senhor Jean-Claude Juncker,
símbolo da evasão fiscal e da imoralidade política.
A questão é que a União
Europeia não é a Europa dos valores que sonhámos. A UE capturou essa Europa e
transformou-a num bordel. O sonho transformou-se num pesadelo.
A questão é que a União
Europeia se tornou o ninho da serpente e deve ser desmontada peça por peça.
Espero que o referendo britânico possa ser o primeiro passo.
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