Ainda
por nascer, anunciado cedo e com nome já escolhido, a família começou a amá-lo.
O
Bruno está connosco há seis meses.
Em
tempo de guerra, de fome, de xenofobia e de poluição. Nós, que queríamos
dar-lhe o melhor, quedamo-nos impotentes perante a destruição furiosa, do Homem
e da Natureza, que toma foros sem precedentes neste final de século.
O
Bruno está connosco há seis meses.
Há
dias, e como vai sendo tragicamente habitual, a televisão mostrou as cenas
chocantes do último massacre em Sarajevo, numa Jugoslávia esquartejada por
desentendimentos delirantes. Nada tem sido poupado por lá. E estão no nosso
pensamento os aviltamentos recentes contra gente indefesa, na China, em Timor,
na Tailândia. Os ataques terroristas em Inglaterra, Espanha e Itália. A
violência racista que cresce um pouco por todo o lado. A fome em África. A
degradação da atmosfera, a morte dos rios, a destruição da floresta.
O
Bruno está connosco há seis meses.
Crescendo
com os outros meninos, num espaço comum, que é a sua herança e a nossa
vergonha. Nós, que queríamos o melhor para eles, assistimos a estas catástrofes
de braços caídos, com os olhos tristes e húmidos de espanto. Até quando?
O
Bruno está connosco há seis meses.
Num
tempo de contradições. Apesar de tudo, é bom tê-lo aqui. Só que é imperioso e
urgente dar a volta à indiferença!
Maria da Piedade Pinheiro Martinho
Maio.1992
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