produzido pela Educadora Helena Martinho no final de 1984/1985, ano lectivo em que trabalhou no Jardim de Infância do Carapito.
O direito à diferença
Num meio algo extremista e
crítico em demasia, senti ser positiva uma aprendizagem a vários níveis da
transigência, da aceitação do diferente.
E esse foi um dos caminhos por que
enveredei.Conhecimentos
A
primeira grande diferença foi naturalmente entre a minha experiência de vida e
conhecimentos e os das crianças. Estas reflectem mais ou menos o tipo de
hábitos e de mentalidade dos adultos com que vivem.
Partilham
do seu trabalho, são chamadas a colaborar. Conhecem por isso os ciclos de
trabalho, a utilização das lajes para secar milho, trigo, malhar o feijão.
Eles
andam nos carros das vacas. Aprendem a tocá-las. Vão à erva e ao estrume.
Ajudam a fazer a comida para os animais. Sabem e vivem profundamente os
momentos de ir aos míscaros, apanhar castanha, matar o porco, fazer enchidos,
deitar ou apanhar a batata... Estão ligados à terra e ao trabalho dos pais,
parentes e vizinhos; conhecem os utensílios, os materiais e as máquinas usadas.
Toda essa experiência de vida adquirem-na quotidianamente, pois desde pequenos
acompanham grupos de adultos nos seus afazeres. Crianças de colo ainda, outras
que mal andam, já vão ficando perto dos tanques ou dos ribeiros onde as
mulheres lavam.
E
assim, naturalmente, muito cedo as crianças ficam aptas a fazer um trabalho
lado a lado com o adulto. E é no fundo o que acontece à maioria após o fim da
escolaridade obrigatória.
E
tudo isto é novo para mim. E tudo isto devo aprender com eles. Eles que se
espantam da minha ignorância... e aos poucos tento fazê-los entender a
realidade de onde vim, a distância que nos separa e ao mesmo tempo a riqueza do
que temos para nos dar.
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