As sociedades modernas produzem lixos e resíduos diversos
que deveriam ser tratados e depositados em condições seguras, para não perturbar
o equilíbrio ecológico. Esta é, certamente, uma das preocupações de aterros
sanitários comunitários como o que está localizado no concelho da Chamusca. Mas
não é disto que quero falar.
Para alguns dos resíduos originados pela actividade
humana, ainda não foi encontrada uma solução conveniente. Por exemplo, os sais
tóxicos de mercúrio e de outros metais pesados não se decompõem e montes de automóveis
enferrujam nos parques de sucata, quando não nas próprias cidades e vilas. Mas
também não é disto que quero falar.
Nas grandes urbes vivemos numa atmosfera carregada de
substâncias nocivas, como é o caso de produtos de escape de veículos a motor. As
recentes obras na Praça Marquês de Pombal, em Lisboa, foram realizadas porque a
“Europa” quer, e bem, que o ar que se respira na Avenida da Liberdade seja mais
saudável. Parece que esse objectivo está a ser alcançado: «Marquês de Pombal já
respira melhor ao fim de 15 dias», dizia com graça um título de jornal. Mas não
é sobre isto que quero falar.
Hoje quero falar de ácaros… Ou, mais precisamente, de uma
recente descoberta muito interessante, ainda que por motivos diferentes dos invocados
no artigo publicado numa revista científica americana. Uma equipa alemã da
Universidade de Göttingen descobriu nos Alpes italianos que duas espécies de
ácaros ficaram aprisionadas durante 230 milhões de anos em âmbar (resina
fossilizada). Esta descoberta é relevante porque os fósseis mais antigos que se
conheciam datavam de há 130 milhões de anos.
Por outras palavras, a dita descoberta dilatou em 100
milhões de anos o nosso conhecimento sobre o fenómeno de imobilização de
microorganismos, em bom estado de conservação, o que poderá ser útil na gestão
a muito longo prazo dos resíduos radioactivos de alta actividade – as “cinzas”
(digamos assim, para simplificar) resultantes da “queima” do urânio em centrais
nucleares.
Uma sequência típica de operações de gestão destes resíduos
radioactivos passa pela sua imobilização numa matriz sólida adequada, num
processo de certo modo equivalente ao aprisionamento de seres vivos fósseis durante
milhões de anos. Ora o destino final dos resíduos em condições de segurança para
as gerações futuras é uma condição essencial à utilização aceitável da energia
nuclear para fins pacíficos, nomeadamente para efeito de produção de energia
eléctrica de que a humanidade carece.
A história mostra que, em geral, o Homem sabe tirar
partido da Natureza quando ela se constitui em fonte de conhecimento científico.
É o que agora poderá acontecer com os ensinamentos decorrentes da descoberta de
seres vivos fósseis imobilizados numa matriz sólida com 230 milhões de anos de
existência.
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