sábado, 27 de outubro de 2012

Ao mérito disse nada

Meu artigo publicado no jornal
O MIRANTE, 25.Outubro.2012 (aqui)

Imagine o leitor que é dono de uma empresa e que pretende preencher um dado posto de trabalho. Que faz? Certamente recruta alguém que lhe ofereça garantias de competência na execução das tarefas a desempenhar. 
No caso de uma instituição pública, a situação é por natureza diferente. Então é aberto um concurso, o que significa que é posto em prática um conjunto de procedimentos administrativos, segundo regras e critérios bem definidos, de modo a poder seleccionar, de entre os candidatos, o melhor.
Se se tratar de uma Universidade digna desse nome, o objectivo maior, essencial, é o recrutamento do candidato que ofereça maior garantia de ser o melhor professor e investigador. É de acordo com esta lógica que as coisas se passam nas melhores universidades.
Por que razão a Universidade portuguesa não ocupa um lugar cimeiro no ranking internacional das universidades (uma posição, por hipótese, entre os primeiros 100 ou 200 lugares)? Será que não há gente de excelente qualidade? Será a questão do financiamento? Haverá decerto várias razões para explicar a modesta posição das nossas universidades, mas há uma que é condenável e injustificável: é o compadrio entre pares, que leva demasiadas vezes a preterir os melhores, em favor dos mais benquistos.


Embora saiba de outros casos, há um que conheço bem. Passou-se num Departamento de uma Faculdade da Universidade de Lisboa, onde foi aberto concurso para um lugar de professor catedrático na especialidade científica E (caracterizemo-la assim). Refira-se que nenhum dos membros do júri era desta especialidade, o que não deixa de ser bizarro.
Concorreram dois candidatos, X e Y, ambos docentes no referido Departamento. O facto de haver apenas dois candidatos também é bizarro, porque o concurso era a nível nacional e internacional, e um posto de professor catedrático é sempre muito apetecido. Mas, como o aviso de abertura do concurso foi publicado em plenas férias de Verão (Agosto.2011), não parece abusivo supor que a ideia seria mesmo limitar a concorrência…
Dos dois candidatos, X era inquestionavelmente da especialidade em que foi aberto o concurso. Visto à luz de critérios internacionais, o curriculum vitae de X confere-lhe o direito de se considerar o português mais credenciado na especialidade E. A candidatura de X teve o apoio firme de sete renomados cientistas de Universidades estrangeiras de topo, como por exemplo o ETH de Zurique (posição 13 a nível mundial).
Foi nestas circunstâncias que o júri se permitiu reprovar o candidato X em mérito absoluto (!), para deixar o caminho livre à candidata Y (colaboradora do membro do júri que escolheu o júri).
Pobre País este… que tão fraca gente tem em lugares de responsabilidade.

PS – Se o leitor quiser conhecer os detalhes deste lamentável caso, consulte o blogue Tempo de Recordar (“entrada” de 07.Julho.2012) – ver aqui.

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