em Chamusca
Ilustrada, Fevereiro.1978
Que se entende por “educação”? Por outras palavras, qual
o significado de “educar”?
Pegando ao acaso num dicionário, encontrei a seguinte
definição: Arte de formar o carácter e de encaminhar integralmente a
juventude em ordem ao seu desenvolvimento perfeito, para ser um bom elemento da
sociedade.
Consultando, não menos ao acaso, uma enciclopédia,
assinalei a seguinte passagem: Educar é, sob certos aspectos, uma arte. Não
como a de um escultor que modela matéria inerte, pois o educador actua sobre um
ser, não somente vivo, mas também inteligente e livre. Por isso, S. Tomás
compara a arte de educar à do médico, para frisar que em ambos os casos o
influxo que se exerce é destinado não a manipular matéria passiva, mas a
estimular, orientar e auxiliar o dinamismo biológico, a fim de que este, no
caso do médico, readquira o equilíbrio da saúde e, no caso da educação, atinja
o pleno e harmónico desenvolvimento de todas as virtualidades da natureza
humana.
De notar que, em ambos os casos, há acordo dos autores ao
considerarem a educação como que uma “arte”. Se aceitarmos como boa a afirmação
corrente de que “não é artista quem quer”, é caso para perguntar: Estará o
papel de educador ao alcance de apenas um número limitado de pessoas?
Certamente que não, mas de facto a interrogação tem razão de ser, e dá bem a
medida da dificuldade da missão do educador e do cuidado que deve ser posto na
sua preparação. Alguém disse que a
educação de uma criança começa quando os pais nascem…
Num outro ponto, há acordo, e este mais geral e
fundamentado: a educação tem por finalidade o desenvolvimento pleno do educando
com vista à sua integração como futuro membro da sociedade. Esta é uma verdade aceite
por todas as correntes activistas da educação. Só que cada sociedade tem os
seus objectivos próprios, consequentemente a acção educativa é orientada em
cada situação de modo distinto, de maneira a atingir esses objectivos.
É salutar ter presente que a educação de um jovem se
processa sempre, inevitavelmente, no âmbito de um quadro social e familiar que
condiciona essa educação. É certo que há normas gerais, decorrentes da
experiência humana de vida em sociedade, que são comuns a vários sistemas
educacionais. Todavia, muitas das regras de comportamento a que submetemos os
nossos jovens têm um valor relativo, são algo de não absoluto nem essencial, e
como tal deviam ser entendidas. A não apreensão deste facto gera frequentemente
conflitos que dificultam a relação entre educador e educando, agravadas ainda
pela incompreensão de que a evolução da sociedade obriga o educador a um
constante esforço de “actualização”, no sentido de evitar distanciamentos que
só tornam mais difícil a acção educativa.
Há que procurar, permanentemente, a cooperação do
educando. Sem essa cooperação, a tarefa educacional fica seriamente
comprometida. O educando é, por um lado, objecto da educação mas, como ser
inteligente e livre, deve participar nesse processo de formação do carácter e
do entendimento, de que há-de resultar a sua libertação e realização, em
equilíbrio e felicidade, como ser individual e social. O entendimento recíproco
subjacente à cooperação de esforços a que deve ser levado imperceptivelmente o
educando, pressupõe um trabalho contínuo e vigilante da parte do educador, em
que concorrem numerosos factores, nomeadamente o exemplo, a disponibilidade, a
firmeza, a compreensão e a serenidade.
A terminar, eu diria que educar é uma arte ao nosso
alcance. Para tanto, há que conhecer os objectivos da tarefa, saber destrinçar
o essencial do supérfluo, compreender que o educando não é propriedade do
educador (enquanto pai ou mãe), ser exemplar e sereno, e admitir que se tem sempre algo
a aprender com o educando. Dizia Blaise Pascal (1623-1662), físico,
matemático e filósofo francês: «Ninguém é
tão ignorante que não tenha algo a ensinar, nem ninguém é tão sábio que não tenha
algo a aprender».
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