Introdução
Nos
posts Especialista em Geodinâmica precisa-se! e Nas férias de Verão é que é bom! puxámos por duas
das pontas da meada subjacente ao conluio de que foi vítima Fernando Ornelas
Marques (ver Curriculum Vitae) num
concurso para professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de
Lisboa (FCUL) nas áreas de Geologia / Geodinâmica.
Naqueles posts relembrámos: (1) o
facto anómalo de no júri do concurso não ter participado nenhum especialista em
Geodinâmica e (2) a ideia estranhíssima de abrir o concurso num período coincidente
com as férias de Verão de 2011.
Hoje
abordaremos uma questão que diz respeito a um paradoxo insanável: a decisão do júri não produziu o efeito para o qual foi aberto o concurso… e ninguém
se preocupou com o desconchavo!
Orientações do reitor da UL
Segundo
a orientação do reitor da UL, Sampaio da Nóvoa, e por exigência do OE, a razão
para abrir um concurso para recrutar um Professor Catedrático deve ser a “existência de relevante interesse público no
recrutamento, ponderada a eventual carência
dos recursos humanos no sector de actividade a que se destina o
recrutamento”. Em complemento, segundo o Edital 832/2011 pretendia-se com o concurso em causa proceder
ao “recrutamento de um posto de trabalho
de Professor Catedrático, do Departamento de Geologia, na área científica de Geologia, especialidade de Geodinâmica Externa”.
Decisão do júri
Qual
foi a decisão do júri? O júri decidiu eliminar do concurso Fernando Ornelas
Marques na fase de avaliação em “mérito absoluto”, como se este candidato não fosse
um dos geólogos mais distintos da actualidade no panorama nacional e com “grande projecção na comunidade científica
internacional” (afirmação que me foi feita por e-mail, em 2012, por um professor
catedrático jubilado de Geologia da FCUL). Em consequência desta decisão, ficou
em concurso apenas a candidata restante, Maria da Conceição Freitas, que
(obviamente) “mereceu” a aprovação do júri.
Paradoxo
É
aqui que surge a primeira parte do paradoxo. A “área científica” de Maria da Conceição Freitas é Geologia do litoral (ver aqui), o que, salvo melhor opinião, nada tem a ver com Geodinâmica,
portanto não se enquadra na especialidade para que foi aberto o concurso – seja
a Geodinâmica externa ou interna, pouco importa (ver Nota Final).
Assim,
o resultado do concurso leva a que uma especialista em Geologia do litoral possa ocupar um lugar de professor catedrático
de Geodinâmica, para cuja cátedra não tem bagagem nem futuro…
Aqui
começa a segunda parte do paradoxo. A “área
científica” do professor catedrático César Freire de Andrade (que foi
membro do júri e era presidente do Departamento de Geologia) é Geologia costeira (ver aqui), ou seja, é coincidente
com a área de Maria da Conceição Freitas.
Assim,
o Departamento de Geologia da FCUL passa a ter dois professores catedráticos na mesma área (Geologia costeira ou Geologia do litoral) e zero
professores catedráticos em Geodinâmica,
que era a área onde se fazia sentir a carência
de recursos humanos que levou o reitor da UL a autorizar a abertura do
concurso!
Conclusão
Todo o processo acabou por evidenciar uma incongruência reveladora do modo como
funciona o “sistema”.
Esquematicamente, é assim:
Como é isto possível?!
Ninguém cuida de cotejar o objectivo a atingir com o resultado obtido?!
Esquematicamente, é assim:
um concurso é aberto na FCUL para
preencher
1 (um) lugar de professor catedrático na especialidade X (Geodinâmica),
mas, em resultado da decisão do júri, o Dep. de Geologia passa
a ter
2 (dois) professores catedráticos na especialidade Y (Geologia Costeira)
e 0 (nenhum) professor catedrático na especialidade X (Geodinâmica)
para
que foi aberto o concurso…
Como é isto possível?!
Ninguém cuida de cotejar o objectivo a atingir com o resultado obtido?!
Afinal, para que serviu o concurso?
Eu sei a resposta, mas não a revelo.
Não me conformo com a falta de vergonha, mas já perdi a inocência.
_____________________
Nota Final – A propósito da dicotomia falaciosa estabelecida pelo
júri do concurso entre Geodinâmica Externa
e Geodinâmica Interna para
“fundamentar” a “expulsão” de Fernando Ornelas Marques do concurso, é oportuno
recordar aqui o testemunho do professor da Universidade de Lausanne Yuri
Podladchikov produzido em 2011 (ver aqui):
« […] I had the pleasure of doing
fieldwork with Dr. Marques in SW Portugal and in the Western Gneiss Region in
Norway. Fernando impressed me with his excellent abilities as a field
geologist.
Dr. Marques' publication record
is very impressive. It shows his ability to use many different approaches
toward the understanding of observations. It shows that he uses the appropriate
scientific approach: detailed observation, data analysis and modeling. He
combines detailed field observations at all scales with analogue experiments,
numerical modeling and laboratory experiments on real rocks. The publication
record shows that he can use many diverse tools to retrieve the geodynamic
evolution of large-scale regions: structural geology and tectonics, analogue
and numerical modeling, experimental deformation of rocks, physics and
mathematics, geomorphology, petrology, geochemistry, geochronology,
geomagnetism, geodesy and geophysical sounding methods. The publication record
shows his interest in many relevant fields of geosciences, from fundamental to
applied, from small-to large-scale, from internal to external processes, from
basic Plate Tectonics problems to regional geology problems.
In
particular, Dr. Marques has the ability to relate
Internal and External Geodynamics, as shown by his publications relating
erosion, climate and topography (External Geodynamics) with mountain building
(Internal Geodynamics), and by his research project on landslides (External
Geodynamics) in volcanic islands (Internal Geodynamics). […]»
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