sábado, 24 de março de 2012

O meu Bairro – O popular "amola tesouras"


Amolador, de Goya
O amolador (ou “amola tesouras” como é designado popularmente) é uma figura mágica que recordo da minha meninice na Chamusca. A sua presença era anunciada pelas típicas tonalidades sonoras que arrancava da sua flauta de canos (flauta de Pã). O amolador arranjava praticamente tudo o que a pobre gente da província necessitava para dar mais vida a objectos gastos pelo uso: facas e tesouras rombas; guarda-chuvas carecendo de varetas; tachos e panelas com buracos; alguidares e cântaros partidos. À distância, julgo que a magia que via nos amoladores estava associada às faúlhas que saltavam do rebolo quando afiava as facas e as tesouras. Aquilo fascinava-me…

Ontem de manhã, ouvi o toque do amolador no 7.º andar que habito em Lisboa. E pensei: desta vez não o vou deixar escapar sem lhe tirar uma fotografia. Desci à rua de Ponta Delgada, procurei-o e apercebi-me que ele já estava próximo da Calçada de Arroios, a uma boa centena de metros. Quase corri, abeirei-me dele e perguntei: Meu caro senhor, posso tirar-lhe uma fotografia? Ele anuiu e até tocou a flauta para o efeito... Pena a foto não ter som!

 O rebolo está protegido com um saco de plástico
porque ameaçava chover... o que não aconteceu...

Quando puxei da carteira para o compensar do “contratempo”, ele virou-me as costas com um gesto de quem não queria nada. É só para tomar uma bica, disse-lhe. Ele acabou por aceitar, agradeceu e começou a subir a calçada.



Vale a pena apreciar o vídeo seguinte:

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